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10 descobertas mais surpreendentes dos estudos psicológicos

A psicologia tem a reputação de ser a ciência do senso comum, ou um campo que simplesmente confirma coisas que já sabemos sobre nós mesmos.

Uma forma de combater esse equívoco, explica Jeremy Dean (PhD em Psicologia), é “pensar sobre todas as descobertas inesperadas, surpreendentes e bastante estranhas que surgiram de estudos da psicologia ao longo dos anos”. Aqui estão dez dos seus exemplos favoritos:

10. Dissonância cognitiva

Esta é talvez uma das descobertas mais estranhas e mais inquietantes da psicologia. A dissonância cognitiva é a ideia de que temos alguma dificuldade para ter duas crenças contraditórias, por isso, inconscientemente, ajustamos uma para torná-la apta com a outra.

No experiência clássica, os alunos acham uma tarefa chata mais interessante se eles foram pagos menos para participar. Nosso inconsciente reage tipo assim: Se eu não fiz isso por dinheiro, então eu devo ter feito isso, porque era interessante.

Como que por magia, uma tarefa chata se torna mais interessante porque senão eu não posso explicar o meu comportamento.

A razão pela qual isto é perturbador é que nossas mentes estão, provavelmente, realizando esses tipos de racionalizações o tempo todo, sem o nosso conhecimento consciente. Então, como vamos saber o que realmente pensamos?

9. Alucinações são comuns

Alucinações são como sonhos acordados, e tendemos a pensar nelas como marcadores de doença mental grave. Na realidade, porém, eles são mais comuns entre as pessoas “normais” do que poderíamos imaginar. Um terço de nós relatam ter experimentado alucinações, com 20% de alucinações uma vez por mês, e 2% uma vez por semana (Ohayon, 2000).

Da mesma forma, as pessoas “normais” muitas vezes têm pensamentos paranoides, como neste estudo que eu relatei anteriormente, em que 40% experimentaram pensamentos paranoides numa jornada virtual. A diferença entre as pessoas com doença mental e os “sãos” é muito menor do que nós gostaríamos de pensar.

8. Efeito placebo

Talvez você já tenha tido a experiência de que uma dor de cabeça melhora segundos depois de tomar uma aspirina? Isso não pode ser o remédio pois é preciso pelo menos 15 minutos para fazer efeito.

Esse é o efeito placebo: Sua mente sabe que você tomou uma pílula, para que você se sinta melhor. Na medicina isso parece mais forte no caso de dor: alguns estudos sugerem um placebo de solução salina (água salgada) pode ser tão poderoso quanto a morfina. Outros estudos sugerem que até 80% do efeito do Prozac é placebo.

O efeito placebo é um contra-senso, pois facilmente nos esquecemos que a mente e o corpo não estão separados.

7. Obediência à autoridade

A maioria de nós gostamos de pensar em nós mesmos como pessoas de espírito independente.  Temos a certeza de que não faríamos mal a outro ser humano, a menos que sob ameaça muito séria.  Certamente algo tão fraco como ser ordenado para dar em alguém um choque elétrico por uma figura de autoridade em um jaleco branco não seria suficiente, não é?

Famoso estudo de Stanley Milgram descobriu que é. Sessenta e três por cento dos participantes continuou dando choques elétricos em outro ser humano, apesar de a vítima gritar em agonia e, eventualmente, cair em silêncio.

Situações têm enorme poder de controlar nosso comportamento, e é um poder que não percebe até que ele é dramaticamente revelado em estudos como este.

  • Experimento de Milgram:
  • Experimento de Milgram original:

6. Fantasias reduzem a motivação

Uma forma como as pessoas geralmente se motivam é utilizando fantasias sobre o futuro.  A ideia é que sonhar com um futuro positivo ajuda a motivá-lo para esse objetivo.

Porém, cuidado, os psicólogos descobriram que fantasiar sobre o sucesso futuro é realmente ruim para a motivação. Ao que parece a obtenção de uma amostra do futuro no aqui e agora reduz a motivação para alcançá-lo.

Fantasias também falham ao não levantar os problemas que estamos propensos a enfrentar no caminho para os nossos objetivos.

Então, qual é a melhor maneira de se comprometer com metas? Em vez de fantasiar, use contrastantes mentais.

5. Cegueira de Escolha (Choice Blindness)

Todos nós sabemos as razões para nossas decisões, certo? Por exemplo, você sabe por que você está atraído por alguém? Não tenha tanta certeza. Em um estudo, as pessoas eram facilmente induzidas a justificar escolhas que nem fizeram realmente sobre quem elas achavam atraente.  Em algumas circunstâncias, nós apresentamos o que é conhecido como “choice blindness“: Parece que temos pouca ou nenhuma consciência das escolhas que fizemos e porque fizemos elas.  Em seguida, usamos racionalizações para tentar cobrir as nossa sujeira.

Este é apenas um exemplo da ideia geral de que temos relativamente pouco acesso ao funcionamento interno de nossas mentes.

4. Duas (três, ou quatro…) cabeças nem sempre pensam melhor que uma

Quer pensar fora da caixinha? Quer ficar no mundo da lua? Quer… (insira seu próprio clichê menos favorito aqui).

Bem, de acordo com uma pesquisa psicológica, brainstorming não funciona. Pessoas em grupos tendem a ser preguiçosas, mais propensas a esquecer as suas ideias enquanto os outros falam, e se preocupar com o que os outros vão pensar (apesar de a regra de que “não existem ideias ruins”).

Acontece que é muito melhor mandar as pessoas pensar em novas ideias por conta própria.

Grupos, por sua vez, se saem melhor avaliando essas ideias.

3. Tentar suprimir seus pensamentos é contraproducente

Quando você está para baixo ou preocupado com alguma coisa, as pessoas costumam dizer: “Ei, tente não pensar sobre isso; Coloque isso fora de sua mente!”

Isto é um conselho muito ruim. Tentar suprimir seus pensamentos é contraproducente. É como tentar o mais forte que puder não imaginar elefantes cor de rosa ou ursos brancos. O que as pessoas experimentam quando tentam suprimir os seus pensamentos é um efeito ironicamente inverso: O pensamento volta mais forte do que antes. Procurar distrações é uma estratégia muito melhor.

2. Incríveis habilidades de multi-tasking

Apesar de todas as limitações da mente, podemos treiná-la para fazer coisas incríveis. Pegue nossas capacidades de multitarefa, como exemplo – você sabia que, com a prática, as pessoas podem ler e escrever ao mesmo tempo?

Em um estudo de multi-tasking foram treinados dois voluntários por mais de 16 semanas, até eles poderem ler um conto e categorizar listas de palavras ao mesmo tempo.

No final eles realizavam as duas tarefas ao mesmo tempo tão bem, que podiam executar cada tarefa individual melhor do que antes do início do estudo.

Leia a descrição completa do estudo, juntamente com possíveis críticas, aqui (em inglês).

1. Na vida, é tudo sobre as pequenas coisas

Temos tendência a pensar que os grandes eventos em nossas vidas são os mais importantes: graduação, casar, ou o nascimento de uma criança.

Mas os principais acontecimentos da vida muitas vezes não são tão diretamente importante para o nosso bem-estar como os pequenos aborrecimentos e altos e baixos da vida cotidiana; grandes eventos, por outro lado, nos afetam, principalmente, através das dificuldades diárias e nas recompensas que produzem. O mesmo se aplica no trabalho, onde satisfação profissional é fortemente atingida por aborrecimentos cotidianos.

O que mais afeta a felicidade das pessoas são coisas como qualidade do sono, pequenos altos e baixos no trabalho e no relacionamento com os nossos amigos e familiares. Em outras palavras: são as pequenas coisas que nos fazem felizes.

Lucas Müller da Silveira

Lucas Müller da Silveira

Graduando em Psicologia pela PUC-RS, possui experiencia na área de dependência química, e interesse em linguística.