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Por que não se preocupar quanto a permissão para a edição genética em embriões no Reino Unido?

Artigo original por Fiona MacDonald

Algumas horas atrás, a Autoridade de Fertilização Humana e Embriologia do Reino Unido tomou uma decisão histórica de dar a cientistas Londrinos a permissão de editar geneticamente embriões humanos.

Graças a essa nova licença, cientistas do Instituto Francis Crick vão poder usar um sistema chamado CRISPR/Cas9 (que é como um CTRL+C CTRL+V da vida real para DNA) para modificar os genes de embriões em desenvolvimento, com o objetivo de melhorar a taxa de sucesso de fertilizações in vitro e reduzir a taxa de abortos espontâneos.

Esta é a primeira vez no mundo em que um órgão regulador nacional deu um sinal verde para este procedimento, tornando este um grande dia para a ciência. Mas este acontecimento também gerou uma grande preocupação quanto ao design de bebês.

O que isto realmente significa para a sociedade? Nós resumimos os fatos, para que você possa compartilhá-los com seus parentes e amigos preocupados.

 

1. Editar geneticamente seres humanos não se tornou ‘legal’ no Reino Unido

Apenas um grupo de cientistas, liderados pela bióloga molecular Kathy Niakan, recebeu permissão para usar o CRISPR/Cas9 em embriões humanos, com a intensão de entender melhor o desenvolvimento deles. Ninguém mais tem permissão para usar esta técnica no Reino Unido (nem ninguém no resto do mundo, apesar de alguns países terem menos regras – veja o ponto 8).

2. Os embriões utilizados nos experimentos virão de doadores

A equipe de pesquisa irá trabalhar com embriões doados por mulheres que já tenham passado por fertilização in vitro e tenham embriões em excesso.

3. Não se preocupe, nada irá acontecer sem a aprovação de um conselho de ética

“O comitê adicionou uma condição à licença que diz que nenhuma pesquisa que envolva edição de genes poderá ser realizada até que ela tenha recebido a aprovação do conselho de ética”, explicou a Autoridade de Fertilização Humana e Embriologia do Reino Unido em um email, como foi relatado pelo Motherboard. Isto significa que os cientistas terão de passar por um processo de aprovação de ética antes que eles possam pesquisar com os embriões – eles não receberam permissões ilimitadas para fazer o que quiserem.

4. Os embriões não irão se desenvolver

Os pesquisadores querem apenas examinar o efeito de genes diferentes nos primeiros sete dias do desenvolvimento embrionário, quando o embrião vai de uma para cerca de 250 células. A nova licença também cita que os embriões precisam ser destruídos dentro de 14 dias, e não podem ser implantados em nenhuma mulher.

5. Este trabalho poderia finalmente revelar como um embrião saudável se desenvolve

Isto é algo que ainda é precariamente entendido no mundo da biologia molecular, e pode ajudar cientistas a melhorar a fertilização in vitro e prevenir abortos espontâneos. Como relata a BBC, para cada 100 óvulos fertilizados, menos de 50 chegam ao estágio de blastocisto, 25 se fixam ao útero e apenas 13 se desenvolvem mais de 3 meses.

“A razão pela qual isto é tão importante é por que abortos e infertilidade são extremamente comuns, mas não são muito bem entendidos”, disse a líder da equipe, Kathy Niakan.

6. Especialistas estão chamando a decisão de uma “vitória de uma regulação lúcida contra o pânico moral

Enquanto existem, sim, algumas preocupações quanto a engenharia genética, este primeiro e altamente regulado passo foi rotulado por alguns cientistas como “um triunfo do bom senso”

“Isso é um exemplo claro de como o Reino Unido lidera o mundo não apenas na ciência por trás das pesquisas sobre o início do desenvolvimento humano, mas também lidera na ciência social utilizada para regulá-la e monitorá-la”, disso o geneticista da Universidade de Kent, Darren Griffin, para o AFP.

7. “Mas os críticos estão preocupados de que estejamos trilhando um caminho para o design de bebês”

Vamos encarar, há, definitivamente, grandes questões éticas a serem respondidas enquanto vamos adiante. No final do ano passado, um painel de cientistas, filósofos e advogados da Unesco pediram por uma pausa na engenharia genética com DNA humano até que tenhamos um melhor entendimento acerca dos efeitos que seriam causados na nossa hereditariedade e linha germinativa. E a decisão de hoje foi recebida com preocupação por alguns grupos.

Mas a licença em questão é de âmbito extremamente limitado, e ainda é ilegal para QUALQUER PESSOA implantar bebês geneticamente modificados em mulheres, ou desenvolve-los. Então, estamos muito distantes destes cenários.

8. Esta não é a primeira vez que embriões humanos irão ser geneticamente modificados

No último abril, cientistas chineses admitiram ajustar os genes de 28 embriões para tentar prevenir um distúrbio sanguíneo mortal. Eles encontraram sérios desafios em suas pesquisas, e disseram que esta tecnologia ainda tem um longo caminho a percorrer antes que possa ser utilizada para tratar doenças em humanos.

9. Além disso, o CRISPR/Cas9 é muito importante  

CRISPR/Cas9 vem sendo reconhecido como a maior descoberta em biotecnologia do século. O sistema funciona utilizando a enzima Cas9 para cortar o DNA humano, o que significa que cientistas podem tanto cortar genes defeituosos, quanto inserir novos. Mesmo não sendo perfeito, a técnica é bastante simples e adaptável, em comparação às ferramentas de edição genética que foram testadas no passado

Desde seu desenvolvimento em 2012, ele se mostrou uma grande promessa no tratamento de condições como perda de visão, distrofia muscular, e até mesmo superbactérias resistentes a antibióticos. Se funciona em humanos, esta técnica pode, literalmente, mudar tudo.

10. Não existem sinais de que a edição de genes será permitida nos EUA tão cedo *

Ano passado, o Instituto Nacional de Saúde dos EUA deixou claro que não daria permissão aos cientistas para editar embriões humanos nem tão cedo, declarando que “não vamos financiar nenhum uso de tecnologias para edição de genes em embriões humanos”.

*Nota: Acerca do Brasil, Regina Parizi, presidente da Sociedade Brasileira de Bioética, diz que o país segue o que está descrito na Declaração Universal sobre o Genoma Humano e os Direitos Humanos, da Unesco. Segundo ela, “o documento aborda que esses estudos devem procurar tratamentos e cura para problemas de saúde, e não alterar o genoma ou duplicar com clonagens”

Tássio César

Tássio César

Oi. Tenho 19 anos e sou de Campina Grande, na Paraíba. Sou aficionado por biologia e (quase) tudo que ela engloba, e pretendo me formar em medicina.