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7 múmias famosas e os segredos que eles revelaram sobre o mundo antigo

Os humanos há muito tempo imaginam a continuação da vida após a morte. Os antigos egípcios, por exemplo, são famosos por seus elaborados rituais funerários e crenças sobre a vida após a morte. Mas a prática de preservar corpos deliberadamente se estende possivelmente 3.500 anos antes das múmias do antigo Egito. E múmias enterradas com riquezas e objetos pessoais são encontradas em todo o mundo.

Em alguns casos, essas múmias fornecem vislumbres detalhados das crenças e práticas das culturas antigas. As múmias e os objetos sepultados com elas revelam o que as pessoas achavam importante, seus símbolos espirituais e o que acreditavam que acontecia após a morte. Autópsias realizadas por cientistas modernos podem revelar o que esses povos antigos comiam, quais doenças sofriam e, finalmente, o que os matou.

Do Rei Tut a Lady Dai, essas sete múmias famosas levaram seus segredos para a tumba – e mais uma vez de volta para o mundo.

Ötzi, o Homem de Gelo

A múmia natural de Otzi, o Homem de Gelo, descoberta em uma passagem alpina em 1991. (Créditos: Andrea Solero/AFP via Getty Images)

Quando a múmia agora conhecida como Ötzi, o Homem do Gelo, foi descoberta nos Alpes em 1991, as autoridades austríacas inicialmente pensaram que o corpo pertencia a um montanhista moderno porque estava muito bem preservado. Mas depois que o homem do gelo foi arrancado rapidamente da geleira alpina, eles perceberam que ele era da Idade do Cobre.

Ötzi foi descoberto em uma passagem de uma montanha 3.210 metros acima do nível do mar, muito acima do Vale de Ötztal, no oeste da Áustria. Ele viveu 5.300 anos atrás, numa época em que a Europa estava desenvolvendo hierarquias sociais complexas. Sua morte foi violenta: Ötzi morreu após ser atingido por uma flecha e sofreu um ferimento na cabeça em seus últimos momentos, segundo pesquisa realizada em 2013.

A múmia do homem revelou muito sobre a vida na Europa da Idade do Cobre. Seus genes mostram que ele era um nativo da Europa Central, e seu conteúdo estomacal mostra que ele comeu carne de íbex. Ele estava na casa dos 40 anos, com artrite, estreitamento das artérias e parasitas intestinais, mas provavelmente usava acupuntura e ervas medicinais para tratar sua dor. Até sabemos que ele afiava suas ferramentas de raspar e cortar dias antes de seu assassinato, embora ninguém saiba se ele estava antecipando uma briga ou simplesmente preparando suas ferramentas para o trabalho de rotina.

Homem de Tollund

O Homem de Tollund pode ter sido vítima de sacrifício humano entre 405 a.C. e 380 a.C. (Créditos: Tim Graham/Contribuinte Getty)

O Homem de Tollund, uma múmia de pântano encontrado na Dinamarca em 1940, pode ser evidência de sacrifício humano. A múmia primorosamente preservada pertence a um homem que viveu durante a Idade do Ferro, entre cerca de 405 a.C. e 380 a.C. Em seu último dia, ele comeu uma refeição de mingau de cevada e peixe e foi asfixiado até a morte. Os pesquisadores suspeitam que sua morte foi parte de um sacrifício ritual porque o Homem de Tollund morreu em posição fetal, com os olhos e a boca cuidadosamente fechados, de acordo com o Museu Silkeborg na Dinamarca. (A maioria das pessoas neste período de tempo foi cremada, então o fato de ele ter sido sepultado em um pântano dá credibilidade à teoria do “sacrifício humano”.)

De acordo com o Museu Silkeborg, onde a múmia está agora em exibição, o Homem de Tollund tinha entre 30 e 40 anos quando morreu e tinha pelo menos 1,63 m de altura (talvez um pouco mais alto, presumindo que seu corpo encolheu no pântano após a morte). Ele estava usando um gorro de pele de carneiro e cinto de couro e ainda tinha a corda usada para pendurá-lo amarrada no pescoço.

Rei Tutancâmon

Um arqueólogo observa o rosto do rei Tutancâmon em 2007, quando a múmia foi transferida para uma ala climatizada (Créditos: Ben Curtis/AFP via Getty Images)

Talvez nenhuma múmia seja mais famosa do que a do menino rei, o rei Tut. O jovem faraó morreu há mais de 3.000 anos, aos 19 anos. A abertura de seu túmulo em 1922 foi um grande evento internacional porque, ao contrário de muitos túmulos reais, não havia sido saqueada. A múmia do jovem faraó ainda estava aninhada dentro de três caixões, incluindo um feito de ouro maciço.

Os reluzentes bens funerários de Tut capturaram um registro da história egípcia antiga, e sua múmia também ajudou a esclarecer práticas e mudanças culturais na época em que ele morreu, por volta de 1324 a.C. O DNA do corpo ajudou a restringir a busca pelos pais de Tut, desvendando o mistério sobre o laços reais do rei. Usando análise de DNA, os cientistas identificaram duas múmias que se acredita serem o pai de Tut, Aquenáton, e sua mãe, cujo nome é desconhecido. A múmia de Tut também revelou que o faraó tinha malária e uma rara doença óssea do pé que pode ter dificultado a locomoção. A malária ou outra infecção provavelmente o matou.

O pênis de Tut foi mumificado em posição ereta – um símbolo que repudiava as reformas religiosas feitas por seu pai, argumentam alguns arqueólogos. Aquenáton tentou concentrar a adoração religiosa no disco solar, Aton, mas o pênis ereto de Tutancâmon lembrava Osíris, o deus da fertilidade, ressurreição e vida após a morte. No mito, Osíris é desmembrado por seu irmão, mas sua esposa Ísis reúne os pedaços do corpo, incluindo o pênis, e concebe seu filho Hórus. A mumificação de Tut pode tê-lo ligado intimamente a Osíris para cimentar o fracasso das reformas religiosas de seu pai.

Xin Zhui

A múmia de Xin Zhui, também conhecida como Lady Dai, está em condições notavelmente realistas. (Créditos: Dennis Cox/Alamy Stock Photo)

As múmias são tipicamente ressecadas e desidratadas. Mas não Xin Zhui, também conhecida como “Lady Dai”. Esta senhora abastada que viveu durante a dinastia Han na China foi descoberta em 1971 em um túmulo elaborado selado com argila. As condições de seu sepultamento criaram um ambiente quase livre de oxigênio, e o caixão de Xin Zhui também foi preenchido com fluido de embalsamamento para ajudar a preservar o corpo, então, seu cadáver estava em um estado de preservação intocada. Seus membros ainda eram flexíveis, sua pele era macia e ela ainda ostentava uma cabeça cheia de cabelos.

A múmia, que remonta a 168 a.C., agora é mantida pelo Museu Hunan na China, juntamente com centenas de itens que foram enterrados com seu corpo. Estes incluem suntuosos conjuntos de louças lacadas, instrumentos musicais e sedas primorosamente pintadas. A partir de registros na tumba, os arqueólogos sabem que Xin Zhui era a esposa do Marquês de Dai, Li Cang. O marquês foi enterrado nas proximidades, e uma tumba vizinha continha o corpo de um homem de 30 e poucos anos que se acredita ter sido filho do casal ou irmão do marquês.

Os cientistas conseguiram realizar uma autópsia completa na múmia de Xin Zhui, de acordo com a revista Archaeology. Este exame revelou que ela morreu por volta dos 50 anos de um ataque cardíaco.

As múmias de Chinchorro

As Múmias de Chinchorro no museu arqueológico de San Miguel de Azapa em Camarones, Arica, Chile. (Créditos: Martin Bernetti/AFP via Getty Images)

As múmias de Chinchorro, encontradas no Chile moderno, estão entre as múmias feitas pelo homem mais antigas conhecidas no mundo, datando de 7.000 anos – 2.000 anos antes das múmias egípcias mais antigas.

Segundo a revista Archaeology, essas múmias foram cuidadosamente preparadas como qualquer realeza no antigo Egito. Seus órgãos foram removidos e seus músculos retirados dos ossos. Os corpos foram então remontados com juncos, matéria vegetal e argila para substituir as vísceras removidas. A pele era pintada de preto ou vermelho. Elaboradas perucas de cabelo humano e máscaras de argila esculpidas foram adicionadas para completar o tratamento estético pós-morte.

O povo Chinchorro que preparou essas múmias viveu no deserto do Atacama e não deixou registros escritos, então os mortos cuidadosamente preservados oferecem uma rara oportunidade para conhecer suas crenças e cultura. Notavelmente, de acordo com a Archaeology, os Chinchorro mumificavam todos, independentemente da classificação – até crianças natimortas.

“Os Chinchorro pareciam honrar todos os seres humanos, quer contribuíssem para a sociedade ou não, prestando atenção especial àqueles que nunca alcançaram seu potencial”, escreveram antropólogos na revista. “Nas mentes dos Chinchorro, a vida como múmia pode ter sido vista como uma segunda chance.”

Ramsés II

A múmia de Ramsés II em exposição no Museu Egípcio do Cairo em 2007. (Créditos: Nasser Nuri/Reuters)

Ramsés II, também conhecido como Ramsés, o Grande, governou o Egito por 68 anos. Durante sua vida (aproximadamente 1303 a.C. a 1213 a.C.), o faraó supervisionou campanhas militares para garantir novos territórios e financiou elaborados projetos de construção ao longo do Nilo, incluindo um enorme complexo de templos agora conhecido como Ramesseum. Muitos artefatos do reinado de Ramsés ainda sobrevivem, incluindo uma estátua de granito de 83 toneladas do rei.

A múmia de Ramsés também chegou à era moderna, embora não sem algum drama pós-morte. Quando o Novo Reino do Egito (1550–1070 a.C.) entrou em crise no século 11 a.C., os sacerdotes realocaram as múmias reais, nominalmente para protegê-las dos saqueadores. Na verdade, os sacerdotes provavelmente também queriam desmontar esses túmulos em busca de ouro e matérias-primas, que estavam em falta na época, de acordo com o American Research Center no Egito. Ramsés II acabou em um caixão simples em um esconderijo secreto de múmias reais em Deir el-Bahari, que foi redescoberto em 1881, e um registro de suas viagens foi escrito em seus invólucros.

De acordo com o Museu Egípcio Rosacruz em San Jose, Califórnia, Ramsés II tinha mais de 1,8 m de altura. Ele viveu uma vida longa, morrendo por volta dos 90 anos. Uma pesquisa de 2014 sugere que o rei tinha uma condição óssea chamada hiperostose esquelética idiopática difusa, que faz com que os ligamentos próximos à coluna endureçam, reduzindo a flexibilidade. A múmia está agora no Museu Nacional da Civilização Egípcia do Egito.

A Donzela do Gelo Siberiana

O braço e o ombro tatuados da Donzela do Gelo Siberiana, uma múmia encontrada congelada no pergelissolo no planalto de Ukok, na Rússia. (Créditos: Charles O’Rear)

A Donzela de Gelo Siberiana provavelmente era uma mulher importante em seu tempo. Ela era um membro da antiga e maiorcultura cita da Sibéria, a cultura Pazyryk, e viveu no século V a.C. Seu túmulo foi descoberto em 1993 na República de Altai, na Rússia, e ela foi encontrada enterrada em um grande caixão de lariço, com seis cavalos sacrificados sepultados perto dela.

A Donzela de Gelo Siberania, também conhecida como a Princesa Ukok, tinha provavelmente cerca de 25 anos quando morreu, de acordo com um documentário do NOVA sobre a descoberta. Ela foi embalsamada com turfa, seu cérebro e olhos foram removidos e suas órbitas oculares preenchidas de peles de animais. Seu corpo foi ornamentado com um cocar de feltro de 0,9 m enfeitado com esculturas folheadas a ouro. Ela estava vestida com um vestido de lã e pelo de camelo, tingido de vermelho, marrom e amarelo. Talvez os detalhes mais incríveis sejam as tatuagens da donzela, que incluem a cabeça de um cervo, uma pantera malhada e um cervo saltitante com bico de grifo e galhadas que se ramificam em formas floridas.

A múmia revelou segredos surpreendentes sobre o povo Pazyryk, que viveu entre os séculos VI e III a.C. Por exemplo, sua vestimenta superior era feita de seda selvagem que pode ter vindo da Índia, indicando rotas comerciais de longa distância na região há cerca de 2.400 anos.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.