Tipo de câncer mais comum na população masculina brasileira, o câncer de próstata conta com aproximadamente 68.800 novos casos por ano, segundo estimativa do Instituto Nacional do Câncer (Inca). Com essa incidência, é fundamental um investimento cada vez maior no rastreamento da doença, favorecendo o diagnóstico precoce.
Mesmo com os avanços tecnológicos da medicina, grande parte da responsabilidade de diagnosticar um tumor e definir a conduta terapêutica recai sobre um médico e seu microscópio. Segundo o diretor da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), Ricardo Artigiani, esse trabalho é exclusivo do patologista, o profissional do diagnóstico.
“A medicina tem evoluído muito em diversas áreas, como a genética molecular e testes cada vez mais precisos. Ainda assim, a figura do patologista continua indispensável para um diagnóstico preciso e a definição de uma melhor conduta terapêutica”, conta.
O especialista explica que é fundamental uma rotina de prevenção, uma vez que o achado da doença é realizado através de três vias clínicas principais – exame de toque retal, Antígeno Prostático Específico (PSA) e eventuais sintomas clínicos. A primeira suspeita do médico deve aparecer durante os exames de rotina com o urologista, seja no toque ou na dosagem de PSA, uma espécie de proteína produzida pela próstata que, em altas concentrações, pode ser sinal de alerta. Os sintomas clínicos como dor e dificuldade de urinar e sangue na urina, embora menos comuns, também podem ser indicativos.
A partir dessa primeira suspeita, o urologista deve proceder com uma biópsia da próstata, um exame simples, mas que ainda desperta muito medo em grande parte da população. “A biópsia consiste na retirada de uma porção do tecido do órgão para análise posterior. São pequenos fragmentos retirados com uma agulha, em um procedimento que pode facilmente ser realizado em um consultório de urologista. O padrão é retirar por volta de 20 amostras”, explica.
Esse material é enviado para o patologista, que monta esses fragmentos de tecido em lâminas histológicas que vão para o microscópio, onde é possível analisar a estrutura celular dos tecidos em busca de alterações que denotem a formação de um tumor. Segundo Artigiani, a partir dessa investigação é possível ter certeza do diagnóstico.
“As pessoas costumam achar que esse resultado sai de forma automatizado de uma máquina quando, na verdade, é completamente artesanal. Esse parecer é montado depois de muita observação, estudo e comparação com todo o conhecimento do médico especialista”, ressalta o diretor da SBP.
Mais do que indicar a presença do câncer, o patologista é fundamental para a definição da conduta terapêutica, conseguindo precisar o grau de desenvolvimento e agressividade da doença. Essa última é medida no Escore de Gleason, uma escala que vai de 2 a 10, sendo 10 o mais agressivo.
“Para conseguir essas informações, o especialista deve analisar nuances na arquitetura do tumor, como a presença de células isoladas, glândulas bem formadas e infiltração em vasos e nervos. Somente com esse parecer que o urologista pode indicar a melhor conduta a seguir, seja ela cirúrgica ou com o uso de quimioterapia e radioterapia”, finaliza.
Sobre a SBP
Fundada em 1954, a Sociedade Brasileira de Patologia (SBP) atua na defesa da atuação profissional dos patologistas, oferecendo oportunidades de atualização e encontros para o desenvolvimento da especialidade. Desde sua instituição, a SBP tem realizado cursos, congressos e eventos com o objetivo de elevar o nível de qualificação desses profissionais.