Artigo traduzido de NASA. Autor: Francis Reddy.
AstrĂ´nomos descobriram uma vasta nuvem de partĂculas de alta energia chamada nebulosa de vento em torno de uma rara estrela de nĂªutrons ultramagnĂ©tica, ou magnetar, pela primeira vez. A descoberta oferece uma janela Ăºnica para as propriedades, meio ambiente e histĂ³ria das explosões de magnetares, que sĂ£o os ĂmĂ£s mais fortes do universo.
A estrela de nĂªutrons Ă© o nĂºcleo esmagado de uma estrela maciça que ficou sem combustĂvel, entrou em colapso sob seu prĂ³prio peso e explodiu como uma supernova. Cada uma delas comprime a massa equivalente a meio milhĂ£o de Terras em uma bola com apenas 20 quilĂ´metros de diĂ¢metro. Estrelas de nĂªutrons sĂ£o mais comumente encontrado como pulsares, que produzem rĂ¡dio, luz visĂvel, raios-X e raios gama em vĂ¡rios locais em seus campos magnĂ©ticos circundantes. Quando um pulsar gira estas regiões em nossa direĂ§Ă£o, os astrĂ´nomos detectam pulsos de emissĂ£o, daĂ o nome.
Campos magnĂ©ticos dos pulsares tĂpicos podem ser de 100 bilhões a 10 trilhões de vezes mais fortes que o da Terra. Os campos dos magnetares chegam a ser milhares de vezes ainda mais fortes, e os cientistas nĂ£o sabem os detalhes de como eles sĂ£o criados. De cerca de 2.600 estrelas de nĂªutrons conhecidas, atĂ© agora, apenas 29 sĂ£o classificadas como magnetares.
A nebulosa recĂ©m descoberta rodeia um magnetar conhecido como Swift J1834.9-0846, que foi descoberto pelo satĂ©lite Swift da NASA, em 07 de agosto de 2011, durante uma breve explosĂ£o de raios-X. Os astrĂ´nomos suspeitam que o objeto estĂ¡ associado com o remanescente de supernova W41, localizado a cerca de 13.000 anos-luz de distĂ¢ncia na constelaĂ§Ă£o de Scutum, na parte central da nossa galĂ¡xia.
“Neste momento, nĂ³s nĂ£o sabemos como J1834.9 desenvolveu e continua a manter uma nebulosa de vento, que atĂ© agora era uma estrutura vista apenas cercando jovens pulsares”, disse o pesquisador George Younes, pesquisador de pĂ³s-doutorado na Universidade George Washington, em Washington. “Se o processo aqui for semelhante, entĂ£o cerca de 10% da perda de energia de rotaĂ§Ă£o do magnetar estĂ¡ alimentando o brilho da nebulosa, o que seria a mais alta eficiĂªncia jĂ¡ medida num sistema semelhante”.
Um mĂªs apĂ³s a descoberta do Swift, uma equipe liderada por Younes fez outra observaĂ§Ă£o do J1834.9 usando o observatĂ³rio XMM-Newton de raios X da ESA, que revelou um brilho assimĂ©trico incomum cerca de 15 anos-luz de diĂ¢metro do centro do magnetar. Novas observações do XMM-Newton em março e outubro de 2014, juntamente com dados arquivados do XMM-Newton e do Swift, confirmaram este brilho prolongado como a primeira nebulosa de vento jĂ¡ identificada em torno de um magnetar. Um artigo descrevendo a anĂ¡lise serĂ¡ publicado pelo The Astrophysical Journal.
“Para mim, a questĂ£o mais interessante Ă©: por que este Ă© o Ăºnico magnetar com uma nebulosa? Quando soubermos a resposta, talvez sejamos capazes de entender o que faz um magnetar e o que faz um pulsar”, disse a co-autora Chryssa Kouveliotou, professora do Departamento de FĂsica da Columbian College of Arts and Sciences da George Washington University.
A mais famosa nebulosa de vento alimentada por um pulsar com menos de mil anos de idade, estĂ¡ no coraĂ§Ă£o da remanescente de supernova Nebulosa do Caranguejo, na constelaĂ§Ă£o de Touro. Pulsares jovens como este giram rapidamente, muitas dezenas de vezes por segundo. A rĂ¡pida rotaĂ§Ă£o do pulsar e o campo magnĂ©tico forte trabalham em conjunto para acelerar elĂ©trons e outras partĂculas a altas energias. Isso cria uma fluxo que os astrĂ´nomos chamam de vento do pulsar, que serve como fonte de partĂculas que compõem uma nebulosa de vento.
“Criar uma nebulosa de vento requer grandes fluxos de partĂculas, bem como alguma forma de prender o fluxo para que ele nĂ£o fuja para o espaço”, disse a co-autora Alice Harding, astrofĂsica da NASA Goddard Space Flight Center em Greenbelt, Maryland. “Achamos que o escudo de expansĂ£o do remanescente de supernova serve como a garrafa, confinando o fluxo por alguns milhares de anos. Quando o casco se expande o suficiente, torna-se muito fraca para reter as partĂculas, que em seguida fogem, e a nebulosa desaparece.” Isto, naturalmente, explica porque as nebulosas de vento nĂ£o sĂ£o encontradas entre os pulsares mais velhos, mesmo aqueles com fluxos fortes.
Um pulsar drena sua energia de rotaĂ§Ă£o para produzir luz e acelerar o seu vento de pulsar. Em contrapartida, uma explosĂ£o magnetar Ă© alimentada por energia armazenada no campo magnĂ©tico superforte. Quando o campo de repente se reconfigura a um estado de menor energia, esta energia Ă© subitamente liberada em uma explosĂ£o de raios-X e raios gama. Assim, enquanto magnetares podem nĂ£o produzir a brisa constante de um vento tĂpico do pulsar, durante explosões eles sĂ£o capazes de gerar breves tempestades de partĂculas aceleradas.
“A nebulosa em torno de J1834.9 armazena as saĂdas energĂ©ticas do magnetar ao longo de toda a sua histĂ³ria ativa, começando muitos milhares de anos atrĂ¡s”, disse o membro da equipe Jonathan Granot, professor associado do Departamento de CiĂªncias Naturais da Universidade Aberta em Ra’anana, Israel. “Ela representa uma oportunidade Ăºnica para estudar a atividade histĂ³rica do magnetar, abrindo um novo playground para teĂ³ricos como eu.”