Traduzido do artigo de Peter Dockrill
Cientistas descobriram um tipo raro de galáxia a cerca de 359 milhões de anos-luz de distância da Terra, com uma estrutura circular nunca identificada antes.
A galáxia, denominada PGC 1000714, é um exemplo de galáxia anelar (ou anular) – onde um círculo externo de jovens estrelas rodeia um núcleo galáctico mais antigo.
Entretanto, uma inspeção mais próxima da galáxia PGC 1000714 revela que seu núcleo está no meio de não apenas um, mas de dois anéis estelares, sendo a primeira vez que astrônomos encontraram o fenômeno.
Os tipos mais comuns de galáxias que conhecemos são normalmente em forma de disco, com estrelas espalhadas em uma formação em espiral como a Via Láctea, ou em forma elíptica.
Mas existem outros tipos de galáxias irregulares, incluindo galáxias anelares – cujo exemplo mais famoso é o Objeto de Hoag (retratado abaixo), descoberto pelo astrônomo Arthur Hoag em 1950.
Ao contrário das galáxias em forma de disco em que as estrelas são geralmente espalhadas e dispersas, as estrelas em galáxias anelares são divididas em dois campos distintos: um anel de jovens estrelas azuis radiantes brilhando no exterior e cercando um núcleo bem definido de estrelas mais velhas e também menos luminosas no centro.
Galáxias anelares são incrivelmente incomuns, por isso, quando os pesquisadores que encontraram PGC 1000714 perceberam que a mesma apresentava dois anéis estelares, souberam que tinham algo muito especial em suas mãos.
“Era como detectar um leopardo de neve ou algum outro animal raro e indescritível”, disse o astrofísico Patrick Treuthardt do Museu de Ciências Naturais da Carolina do Norte a Ashley Strickland, da CNN.
“Uma galáxia similar ao Objeto de Hoag, com um único anel circular envolvendo um núcleo redondo, já é muito rara, mas encontrar uma com potencialmente dois anéis muito regulares é bastante único”.
Treuthardt e outros pesquisadores analisaram PGC 1000714 usando o Observatório Las Campanas no Chile e descobriram que o anel externo de estrelas azuis tem apenas cerca de 0,13 bilhão de anos, enquanto o núcleo vermelho interno é muito mais antigo, com aproximadamente 5,5 bilhões de anos.
Durante a investigação, eles encontraram evidências de um anel secundário de estrelas dentro do anel externo de estrelas azuis jovens. Após uma análise mais detalhada, esta estrutura secundária é o que Treuthardt chama de “um anel interno vermelho, difuso e mais antigo”, ou seja, que as estrelas nele são muito mais antigas do que as estrelas mais jovens. E não parece haver nada conectando esses dois anéis.
Quanto à forma como isso poderia ter acontecido, ninguém tem plena convicção, porém é uma descoberta astronômica completamente sem precedentes.
“Uma estimativa afirma que as galáxias do tipo Hoag podem representar 0,1% das galáxias observáveis, e pode ser muito menor do que isso”, diz Treuthardt. “Seria mais provável que você recebesse quatro cartas do mesmo tipo em um jogo de pôquer fechado (modalidade com cinco cartas). Essa galáxia pode ser única.”
Os pesquisadores especulam que a galáxia PGC 1000714 pode ter se reunido através de forças ao longo de, pelo menos, dois períodos de tempo distintos – embora como nunca vimos esse tipo de coisa antes, é difícil saber com certeza.
“As diferentes cores do anel interno e externo sugerem que esta galáxia experimentou dois períodos de formação diferentes”, explica um membro da equipe, Burçin Mutlu-Pakdil, da Universidade de Minnesota Duluth, em um comunicado.
“A partir desses instantes iniciais congelados no tempo, é impossível saber como os anéis desta galáxia particular foram formados.”
A equipe acha que é possível que o anel exterior tenha incorporado porções de uma galáxia rica em gás que existia nas proximidades.
Mas também não está claro sobre quanto tempo esses anéis podem durar – e se eles não mantêm sua formação por muito tempo, poderia explicar por que as galáxias anelares são tão raras em termos de observações humanas, sugere Treuthardt.
Quanto à determinação de como o anel interior mais velho chegou lá, os cientistas dizem que precisamos de mais dados para chegar ao fundo deste acaso cósmico.
“O que realmente precisamos fazer é realmente investigar o interior mais”, disse Treuthardt Karolyn Coorsh na CTV News. “Talvez algo veio e interagiu com a galáxia para formar estes anéis. Por isso precisamos sondar o gás que circunda a galáxia também.”
Embora ainda haja um monte de coisas que não sabemos sobre PGC 1000714 e galáxias anelares em geral, os pesquisadores dizem que sistemas de estrelas como este que não se encaixam no padrão regular são extremamente importantes para nos ajudar a entender mais sobre o Universo e como ele se modificou para ser da maneira que é.
“Casos isolados como PGC 1000714 desafiam nossas teorias”, disse Treuthardt à CNN, “o que é uma característica fundamental da ciência”.