Por Steven Pinker e outros pesquisadores
Publicado no The Guardian
Há grande interesse entre os professores no uso de resultados de pesquisas neurocientíficas na prática educacional. No entanto, há também equívocos e mitos que supostamente são baseados em neurociência que são prevalentes em nossas escolas. Gostaríamos de chamar a atenção para este problema, centrando-se em uma prática educativa, supostamente baseada em neurociência, que carece de evidência suficiente, e, por esta razão, acreditamos que não deve ser apoiada ou promovida.
Geralmente conhecida como “estilos de aprendizagem”, é a crença de que os indivíduos podem ser beneficiar ao receber informações em seu formato preferido, tendo como base um questionário de auto relato. Esta crença tem muito apelo intuitivo, porque os indivíduos são melhores do que outros em algumas coisas, e, em última análise, pode existir uma base no cérebro para explicar essas diferenças. Os estilos de aprendizagem prometem otimizar a educação, adaptando certos materiais para coincidir com a modalidade preferida do indivíduo na questão de processamento de informações sensoriais.
Há, no entanto, uma série de problemas com a abordagem de estilos de aprendizagem. Em primeiro lugar, não há nenhum quadro coerente preferido de estilos de aprendizagem. Normalmente, os indivíduos são categorizados em um dos três estilos preferidos, entre os quais incluem a capacidade auditiva, visual ou cinestésica, baseados em um auto relato. Um estudo descobriu que havia mais de 70 modelos diferentes de estilos de aprendizagem, incluindo, entre outros, “cérebro esquerdo versus cérebro direito”, “holísticos versus serialistas”, “verbalizadores versus visualizadores”, e assim por diante. O segundo problema é que categorizar os indivíduos pode levar à suposição de que existe um estilo de aprendizagem fixo ou rígido, o que poderia prejudicar a motivação para se aplicar ou se adaptar.
Finalmente, e ainda mais contundente, é que há estudos sistemáticos sobre a eficácia dos estilos de aprendizagem que consistentemente não têm encontrado nenhuma ou pouca evidência para apoiar a hipótese de que a correspondência ou “engrenagem” material no formato apropriado ao estilo de aprendizagem de um indivíduo é seletivamente mais eficaz para o sucesso escolar. Os alunos melhorarão se pensarem sobre como aprendem, mas não porque o material é correspondente ao suposto estilo de aprendizagem. A Educational Endowment Foundation, do Reino Unido, concluiu que os estilos de aprendizagem possuem um “baixo impacto para um custo muito baixo, baseado em evidências limitadas”.
Estes neuromitos podem ser ineficazes, mas não são baratos. Postulamos que qualquer atividade que utilize recursos de tempo e dinheiro, que poderia ser melhor direcionada para práticas baseadas em evidências, é cara e deve ser exposta e rejeitada. Tais neuromitos criam uma falsa impressão das habilidades de indivíduos, levando expectativas e desculpas que são prejudiciais à aprendizagem em geral, que é um custo a longo prazo.
Um caminho a seguir é chamar a atenção às práticas que não são baseadas em evidências e encorajar neurocientistas e educadores para promover a necessidade de pensamento crítico ao avaliar quaisquer reivindicações de benefícios educacionais supostamente baseadas em neurociência. Como parte da semana de conscientização do cérebro, que começou dia 13 de março, apoiamos que os neurocientistas entrem nas escolas para falar sobre suas pesquisas, mas também para conscientizar sobre os neuromitos.