Por Jeremy Hsu
Publicado na Scientific American
Em um feito científico muito esperado, astrônomos anunciaram ter criado o maior e mais preciso mapa em 3D da Via Láctea. A missão espacial Gaia, que custou 1 bilhão de dólares aos cofres da Agência Espacial Europeia, apresentou seu mais novo acervo de dados no mês de abril, o qual descreve, em detalhes, as posições e os movimentos de mais de um bilhão de estrelas.
A espaçonave Gaia, lançada em 2013, monitora todo o céu a partir de uma órbita estacionária acima da Terra, na parte que se encontra em oposição ao Sol. Esse mapa inédito é baseado em 25 observações separadas de estrelas individuais e seus movimentos feitas ao longo de dois anos, e contêm uma amostra que representa o equivalente a 1% da esfera da Via Láctea. Os dados, descritos em diversos artigos que serão publicados amanhã (25) na revista Astronomy & Astrophysics, podem se superar ao simular o passado e futuro da galáxia.
“Estamos desenhando um mapa em um dado momento do tempo, mas também podemos voltar e avançar no tempo”, diz Jos de Bruijne, cientista chefe-adjunto do projeto Gaia. O Gaia publicou seu primeiro conjunto de dados em setembro de 2016. Mas, por causa do tempo de observação limitado, e baseando-se no conhecimento prévio das posições, ele rastreou distâncias e movimentos de apenas dois milhões de estrelas. O segundo conjunto de dados contém detalhes similares em 1,3 bilhões delas – 650 vezes mais do que a quantidade relatada na primeira vez.
O telescópio consegue observar com precisão estrelas situadas no centro galáctico, a uma distância de até 30.000 anos-luz, o equivalente a uma pessoa na Terra que observa uma moeda na Lua. “A precisão com que o Gaia registra os movimentos é o que o faz tão revolucionário”, diz Allyson Sheffield, um astrofísico da Universidade Comunitária de LaGuardia, que não estava envolvido no projeto.
Os dois telescópios ópticos e três instrumentos científicos do Gaia também conseguem medir brilho, temperatura e composição estelar. O novo conjunto de dados inclui as cores das estrelas, o que pode revelar detalhes cruciais sobre suas superfícies, temperaturas e idade. Os dados também incluem velocidades radiais – os movimentos de aproximação e distanciamento da Terra – de sete milhões de estrelas. Essas medidas permitem aos cientistas calcular a velocidade dessas órbitas em relação ao nosso Sol, o que por sua vez revela mais sobre como a galáxia pode ter evoluído. Como bônus, o conjunto de dados contêm observações de 14.099 asteroides que pertencem ao Sistema Solar.
O conhecimento preciso dos movimentos estelares vai não apenas melhorar o entendimento dos cientistas da história e da evolução da galáxia, como também oferecer pistas sobre a natureza e a distribuição da misteriosa “matéria escura”. Também poderia ajudar a testar teorias alternativas sobre a gravidade, diz Amina Helmi, astrofísica no Instituto Astronômico de Kapteyn, na Holanda, e membro da missão Gaia ESA.