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Estimulação elétrica cerebral reduz sintomas da esquizofrenia

Por Júlio Bernardes
Publicado no Jornal da USP

Um tratamento com estimulação cerebral conseguiu reduzir os sintomas da esquizofrenia. O resultado foi obtido em um ensaio clínico com 100 pacientes, realizado em pesquisa do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). Submetidos a dez sessões de estimulação elétrica, os pacientes tiveram melhora permanente dos sintomas seis semanas após o tratamento, apresentando menos apatia e melhorando o convívio social. A terapia tem potencial para tratar sintomas em que não há medicação eficaz. Os resultados do estudo são descritos em artigo publicado no Journal of American Medicine Association Psichiatry, nos Estados Unidos.

O médico psiquiatra Leandro Valiengo, primeiro autor do artigo, explica que a esquizofrenia possui sintomas denominados positivos e negativos e o tratamento foi eficiente nos negativos. “Os sintomas positivos são aqueles que o paciente não tinha e acaba adquirindo, como alucinação, delírios, ouvir vozes, pensar estar sendo perseguido”, afirma. “Os sintomas negativos são aqueles que representam perdas para o paciente, tais como apatia, não conseguir expressar emoções, socializar menos. Todos eles o incapacitam e o fazem ficar isolado, deixando até de trabalhar”.

Participaram da pesquisa 100 voluntários, pacientes com esquizofrenia, entre 18 e 55 anos, a maior parte homens. “Ao todo, foram realizadas dez sessões de estimulação de 20 minutos, duas por dia. Após as sessões, os pacientes foram acompanhados por três meses”, conta o médico. “A avaliação era feita por meio de uma escala conhecida como PANS. A partir de questionários que verificam como está o afeto, as atividades e a socialização, é atribuída uma pontuação que indica o estado do paciente”.

Estimulação

A técnica usada no estudo, conhecida como estimulação elétrica transcraniana por corrente contínua, é feita por meio de eletrodos ligados a uma bateria, com um polo positivo (para estimulação cerebral) e um negativo, colocado na cabeça do paciente. “A área estimulada por meio das correntes elétricas emitidas pela bateria é o córtex frontal esquerdo”, descreve Valiengo, “a qual está associada ao aparecimento de sintomas negativos, já que ela funciona menos nos pacientes com a doença, por isso a necessidade de estimulação”.

A pesquisa verificou que os pacientes começavam a melhorar dos sintomas a partir da sexta semana após as sessões de tratamento. “Ao final dos três meses de acompanhamento, constatou-se que a melhora dos pacientes se mantinha”, ressalta o médico.

Existem poucos tratamentos para os sintomas negativos da esquizofrenia, aponta Valiengo. “A medicação, por exemplo, funciona com os sintomas positivos. Para os sintomas negativos, os medicamentos não têm eficácia comprovada”, destaca. De acordo com Valiengo, o estudo precisará ser replicado para permitir a liberação clínica do tratamento, a cargo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). “O tratamento é promissor, pois não há efeitos colaterais significativos. Na comparação com o grupo que não foi tratado, foi observada uma pequena vermelhidão na área estimulada por cerca de cinco minutos após a estimulação, que não era notada pelos próprios pacientes.”

Os resultados do estudo são descritos no artigo Efficacy and safety of transcranial direct current stimulation for treating negative symptoms of schizofrenia, publicado na revista científica Journal of American Medicine Association Psichiatry em 16 de outubro. A análise estatística dos dados coletados no estudo teve a colaboração de um grupo de pesquisa da Universidade de Munique (Alemanha). As sessões de estimulação foram realizadas no IPq e no Instituto Bairral, em Itapira (interior de São Paulo).

Universidade de São Paulo

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