Publicado na Scientific American
A Elsevier, uma das principais editoras de publicações científicas do mundo, anunciou na sexta, 11, que vai conduzir uma investigação independente sobre o artigo “O uso de hidroxicloroquina e azitromicina no tratamento para a COVID-19”. O artigo foi publicado on-line em 20 março na revista científica International Journal of Microbial Agents, e rapidamente ganhou repercussão mundial, ao relatar melhoras no tratamento de pacientes franceses infectados com a doença. A revista é publicada pela Elsevier juntamente com a Sociedade Internacional de Quimioterapia Antimicrobiana (ISAC).
“Ressalvas foram levantadas quanto ao conteúdo, à aprovação ética do experimento e o professor de publicação do artigo no International Journal of Microbial Agents”, diz a nota. Ela relata que que a Elsevier e a ISAC querem se “certificar de que o processo de revisão por pares foi seguido no processo de aprovação do artigo”e que estão em contato com os autores. “Dependendo da resposta deles, uma correção nos registros [da revista] pode vir a ser considerada’, conclui o texto.
No dia 3 de abril, a própria ISAC já havia publicado um comunicado onde afirmava que o artigo “não seguiu os padrões da Sociedade”, no que tange a explicar quais foram os “critérios de inclusão e de triagem dos pacientes, a fim de zelar por sua segurança”. “Ainda que a ISAC reconheça a importância se colaborar com a comunidade científica ao publicar novos dados com velocidade, isso não pode ocorrer às expensas do escrutínio científico e das boas práticas”, dizia a nota.
O editor-chefe da publicação, o francês Jean Marc Rolain, foi um dos coautores do artigo, cujo principal autor é o também francês Didier Raoul, da Universidade de Marselha. Rolain não participou da revisão por pares, garantiram a ISAC e a Elsevier. Mesmo assim, a análise e aprovação para publicação parecem ter ocorrido em apenas 24 horas, uma rapidez incomum. E muitos outros aspectos do estudo foram contestados, incluindo: a diferença nos perfis do grupo teste e do grupo controle; o fato de que a escolha de quem pertenceria a qual grupo não foi feita de forma aleatória; a não inclusão dos dados de alguns dos pacientes que foram tratados hidroxicloroquina, que não apresentaram melhoras; e o baixo número de participantes da pesquisa, apenas 42. Destes, 26 receberam a hidroxicloroquina, e 20 completaram o tratamento.
Ainda assim, com toda a polêmica que o artigo despertou na comunidade acadêmica, os possíveis benefícios do fármaco para o tratamento da COVID-19 continuam sendo investigados por diversos grupos. A hidroxicloroquina foi inclusive um dos quatro fármacos selecionados pela Organização Mundial da Saúde para ser analisada pelo Solidariedade, um gigantesco estudo, conduzido em 90 países, que busca identificar opções terapêuticas contra o mal.