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Gatos podem imitar humanos, mostra a primeira demonstração científica desse comportamento

Por David Grimm
Publicado na Science

Ebisu pode ser a primeira gata imitadora do mundo. Os pesquisadores mostraram que a felina japonesa pode imitar as ações de seu dono sob condições científicas controladas. A habilidade só foi vista em pouquíssimas criaturas, e a descoberta pode sugerir que a imitação surgiu relativamente cedo na evolução dos mamíferos.

“É realmente emocionante”, diz Kristyn Vitale, pesquisadora de cognição de gatos e comportamento animal no Unity College. “As pessoas pensam nos gatos como seres solitários e anti-sociais”, diz ela. “Mas este estudo reforça a ideia de que eles estão nos observando e aprendendo conosco”.

A descoberta aconteceu por acaso. Claudia Fugazza, etologista da Universidade Eötvös Loránd, estudou cognição canina por quase 10 anos usando o treinamento “Faça o que eu faço”. Nesse método, um pesquisador primeiro treina um cão ou outro animal para este copiar um comportamento que ele já conhece, como rolar, dizendo “Faça o que eu faço”, demonstrando o comportamento e, em seguida, dizendo “Faça!” O cão é então recompensado quando tem sucesso. Com o tempo, o animal aprende que “Faça!” significa “copie-me”. A abordagem pode ser usada para testar se os animais podem realmente imitar – isto é, copiar ações que eles nunca fizeram antes, como tocar um sino.

Fugazza, que também é uma treinadora de cães, estava trabalhando com Fumi Higaki, uma outra treinadora de cães em Ichinomiya, Japão, quando Higaki disse a ela que havia treinado um de seus gatos com “Faça o que eu faço”. A felina, uma fêmea de 11 anos chamada Ebisu (em homenagem ao deus japonês da prosperidade), vivia na loja de animais de estimação de Higaki e sempre foi influenciada pela comida, o que a tornava fácil de treinar. “Ela costumava ir às minhas aulas de treinamento de cães porque sabia que as pessoas de lá tinham boas guloseimas”, diz Higaki.

Fugazza queria estudar imitação em outras espécies, e diante dela, surpreendentemente, estava uma gata que aparentemente já tinha o treinamento necessário. Mas Ebisu sempre se assustava com estranhos. Assim, Higaki conduziu os experimentos à noite em sua loja de animais, enquanto Fugazza supervisionava do outro lado da sala.

Higaki mostrou que Ebisu consegue copiar ações familiares, como abrir uma gaveta de plástico e morder um barbante de borracha. Em seguida, ela pediu a gata para que imitasse dois novos comportamentos. Enquanto estava diante de Ebisu, que estava sentada em uma bancada ao lado de uma caixa de papelão, Higaki ergueu a mão direita e tocou a caixa. Em outras ocasiões, ela se abaixava e esfregava o rosto na caixa.

Em 16 testes subsequentes, Ebisu copiou com precisão sua dona mais de 81% do tempo, a equipe relatou este mês na Animal Cognition (veja o vídeo acima). O fato de que a gata usou sua pata e rosto para tocar a caixa quando sua dona usou sua mão e rosto para fazer o mesmo, respectivamente, indica que ela foi capaz de “mapear” as partes do corpo da sua dona em sua própria anatomia, diz a equipe.

Fugazza diz que apenas golfinhos, papagaios, macacos e baleias assassinas demonstraram capacidade de imitar as pessoas. Os gatos com a mesma habilidade, diz ela, sugerem que pode ser comum no reino animal, evoluindo no início da evolução animal. E embora o estudo tenha sido conduzido em um único gato, Fugazza acredita que a maioria dos gatos consegue imitar as pessoas. “Não acho que Ebisu foi um gênio”.

Mas Claudio Tennie, etologista da Universidade de Tübingen que estudou cognição em cães e primatas, não se impressionou. Ele diz que é impossível dizer a partir do estudo se os gatos têm uma habilidade inata de imitar humanos, ou se o treinamento intensivo do “Faça o que eu faço” deu a eles essa habilidade. “Podemos treinar ursos para andar de motocicleta”, diz ele. “Isso não significa que os ursos andam de motocicleta”.

Tennie também observa que ambas as imitações – tocar uma caixa com uma pata e esfregar o rosto contra uma caixa – são ações que um gato pode fazer de qualquer maneira. E Ebisu pode ter simplesmente esfregado o rosto contra a caixa para mascarar o cheiro de seu dono, diz ele. “Não estou convencido de que estamos vendo uma verdadeira imitação”.

Mas Vitale está mais otimista. Alguns anos atrás, um de seus gatos, Bo, começou a apertar uma campainha depois que viu Vitale fazer isso. “Esperamos que outras pessoas reproduzam este método, para que saibamos como isso é difundido em gatos”, diz ela.

Infelizmente, isso não será possível com a Ebisu. Ela desenvolveu doença renal no ano passado e morreu em junho.

Ainda assim, o coautor Adam Miklosi, etologista cognitivo da Eötvös Loránd, diz que mais estudos sobre esses amigos peludos do homem estão chegando. A pesquisa com Ebisu, diz ele, revela novas maneiras de treinar e fazer experimentos cognitivos com gatos, que são notoriamente difíceis de estudar. O artigo reforça, por exemplo, que os gatos – ao contrário dos cães – tendem a mostrar suas verdadeiras habilidades apenas se o dono estiver presente. “Podemos aprender muito com a Ebisu”.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.