Pular para o conteúdo

A imunidade protetora contra o SARS-CoV-2 pode durar oito meses ou mais

Por Madeline McCurry-Schmidt
Publicado na ScienceDaily

Novos dados sugerem que quase todos os sobreviventes da COVID-19 possuem as células imunológicas necessárias para combater a reinfecção. Os resultados, baseados em análises de amostras de sangue de 188 pacientes com COVID-19, sugerem que as respostas ao novo coronavírus, SARS-CoV-2, de todos os principais participantes do sistema imunológico “adaptativo”, que aprende a combater patógenos específicos, podem durar pelo menos oito meses após o início dos sintomas da infecção inicial.

“Nossos dados sugerem que a resposta imune existe – e permanece”, disse o professor do Instituto de Imunologia La Jolla (LJI) Alessandro Sette, Doutor em Ciências Biológicas, que co-liderou o estudo com o professor Shane Crotty, Ph.D., e a professora assistente de pesquisa Daniela Weiskopf, Ph.D. do LJI.

“Medimos anticorpos, células B de memória, células T auxiliares e células T assassinas, tudo ao mesmo tempo”, disse Crotty. “Pelo que sabemos, este é o maior estudo já feito, para qualquer infecção aguda, que mediu todos os quatro componentes da memória imunológica.”

As descobertas, publicadas em 6 de janeiro de 2021, edição online da Science, podem significar que os sobreviventes da COVID-19 têm imunidade protetora contra versões graves do vírus SARS-CoV-2 por meses, talvez anos após a infecção.

O novo estudo ajuda a esclarecer alguns dados relativos a COVID-19 de outros laboratórios, que mostraram uma queda dramática dos anticorpos anti-COVID nos meses seguintes à infecção. Alguns temiam que esse declínio nos anticorpos significasse que o corpo não estaria equipado para se defender contra a reinfecção.

Sette explica que um declínio nos anticorpos é muito comum. “Claro, a resposta imune diminui com o tempo até certo ponto, mas isso é normal. É isso que as respostas imunes fazem. Elas têm uma primeira fase de aceleração e, depois dessa expansão fantástica, eventualmente a resposta imune se contrai um pouco e chega a um estado estacionário “, disse Sette.

Os pesquisadores descobriram que os anticorpos específicos do vírus persistem na corrente sanguínea meses após a infecção. É importante ressaltar que o corpo também tem células imunes chamadas células B de memória prontas. Se uma pessoa encontrar o SARS-CoV-2 novamente, essas células B de memória podem ser reativadas e produzir anticorpos contra o SARS-CoV-2 para combater a reinfecção.

O vírus SARS-CoV-2 usa sua proteína “spike” para iniciar a infecção de células humanas, então os pesquisadores procuraram por células B de memória específicas para a spike do SARS-CoV-2. Eles descobriram que as células B de memória específicas da spike realmente aumentaram no sangue seis meses após a infecção.

Os sobreviventes da COVID-19 também tinham um exército de células T prontas para lutar contra a reinfecção. As células T “auxiliares” de CD4+ de memória permaneceram, prontas para desencadear uma resposta imunológica caso vissem o SARS-CoV-2 novamente. Muitas células T “assassinas” CB8+ de memória também permaneceram, prontas para destruir as células infectadas e interromper uma reinfecção.

As diferentes partes do sistema imunológico adaptativo trabalham juntas, portanto, ver os anticorpos de combate a COVID, células B de memória, células T CD4+ de memória e células T CD8+ de memória no sangue mais de oito meses após a infecção é um bom sinal.

“Isso implica que há uma boa chance de as pessoas terem imunidade protetora, pelo menos contra doenças graves, por esse período de tempo, e provavelmente muito além disso”, disse Crotty.

A equipe alerta que a imunidade protetora varia dramaticamente de pessoa para pessoa. Na verdade, os pesquisadores observaram uma variação de 100 vezes na magnitude da memória imunológica. Pessoas com memória imunológica fraca podem ser vulneráveis ​​a um caso de COVID-19 recorrente no futuro, ou podem ter maior probabilidade de infectar outras pessoas.

“Existem algumas pessoas que não sabemos quanta memória imunológica elas têm, e talvez essas pessoas sejam muito mais suscetíveis à reinfecção”, disse Crotty.

“Parece que as pessoas que foram infectadas terão algum grau de imunidade protetora contra a reinfecção”, acrescenta Weiskopf. “Mas quanta proteção elas têm é ainda algo que precisa ser estabelecido.”

O fato de que a memória imunológica contra o SARS-CoV-2 é possível também é um bom sinal para os desenvolvedores de vacinas. Weiskopf enfatiza que o estudo rastreou as respostas à infecção natural por SARS-CoV-2, não a memória imunológica após a vacinação.

“É possível que a memória imunológica tenha uma duração semelhante após a vacinação, mas teremos que esperar até que os dados cheguem para podermos ter certeza”, disse Weiskopf. “Vários meses atrás, nossos estudos mostraram que a infecção natural induziu uma forte resposta, e este estudo agora mostra que as respostas perduram. Os estudos da vacina estão nos estágios iniciais e até agora foram associados a uma forte proteção. Temos esperança de que a padrão semelhante de respostas duradouras ao longo do tempo também surgirá para as respostas induzidas pela vacina.”

Os pesquisadores continuarão a analisar amostras de pacientes com COVID-19 nos próximos meses e esperam rastrear suas respostas 12 a 18 meses após o início dos sintomas.

“Também estamos fazendo análises muito detalhadas em uma granularidade muito, muito mais alta sobre quais partes do vírus são reconhecidas”, disse Sette. “E planejamos avaliar a resposta imunológica não apenas após a infecção natural, mas após a vacinação.”

A equipe também está trabalhando para entender como a memória imunológica difere entre pessoas de diferentes idades e como isso pode influenciar a gravidade dos casos de COVID-19.

O estudo, “Immunological memory to SARS-CoV-2 assessed for up to 8 months after infection” (tradução livre: memória imunológica para SARS-CoV-2 avaliada por até oito meses após a infecção), incluiu os primeiros autores Jennifer M. Dan, Jose Mateus e Yu Kato, bem como Kathryn M. Hastie, Caterina E. Faliti, Sydney I. Ramirez, April Frazier, Esther Dawen Yu, Alba Grifoni, Stephen A. Rawlings, Bjoern Peters, Florian Krammer, Viviana Simon, Erica Ollmann Saphire e Davey M. Smith.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.