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A mais antiga arte em caverna de animais já registrada foi encontrada na Indonésia e é adorável

Por Laura Geggel
Publicado na Live Science

O desenho de animal mais antigo conhecido no mundo é uma representação de 45.500 anos de um porco verrugoso e peludo em uma parede de uma caverna na Indonésia, descobriu um novo estudo.

A pintura cor de amora, desenhada com o mineral vermelho ocre, mostra uma representação do que provavelmente é um porco verrugoso da ilha de Celebes (Sus celebensis), uma fera selvagem de pernas atarracadas com verrugas faciais que podem pesar até quase 85 kg.

Esses porcos “ainda são encontrados lá hoje, embora em números cada vez menores”, disse o copesquisador principal do estudo Adam Brumm, professor de arqueologia do Centro de Pesquisa Australiano para Evolução Humana da Universidade Griffith.

A descoberta fornece mais evidências de que a antiga Indonésia era um ponto crítico para a arte rupestre e que “as primeiras tradições da arte rupestre provavelmente não surgiram na era glacial na Europa, como se supunha”, disse Brumm ao Live Science por e-mail.

Em dezembro de 2017, Brumm e seus colegas encontraram pelo menos três desenhos de porcos verrugosos na caverna Leang Tedongnge, em Celebes, uma ilha indonésia ligeiramente maior que o estado do Acre. Essa caverna ficava em um pequeno vale agora habitado por fazendeiros bugineses, um grupo étnico da Indonésia.

“Não há estradas para este vale; chegar lá das terras baixas adjacentes requer uma caminhada árdua ao longo da floresta que leva até as colinas de calcário e termina em uma passagem estreita de caverna – esta é a única entrada para o vale”, disse Brumm.

Portanto, apesar da proximidade do vale com a grande cidade de Macáçar, “de acordo com as pessoas que vivem neste vale, nenhum ocidental jamais pôs os pés no local”, disse Brumm, que trabalhou com uma equipe internacional da Austrália e Indonésia em o estudo, publicado online na quarta-feira (13 de janeiro) na revista Science Advances.

Porquinhos

Dos poucos desenhos de porcos na caverna de calcário, o mais bem preservado é o mais antigo. Ele mostra um grande porco – medindo cerca de 136 por 54 centímetros, com os contornos de duas mãos humanas pintadas acima de suas costas.

O porco peludo e de cauda minúscula está observando dois ou três outros porcos, que estão bem menos preservados e parecem estar tendo algum tipo de interação social com o porco gigante.

Em uma caverna próxima, chamada Leang Balangajia 1, a equipe avistou um porco ainda maior pintado no teto, medindo cerca de 187 por 110 centímetros, com quatro mãos estampadas nele. A câmara da caverna tem pelo menos outras duas pinturas de animais, mas estão muito danificadas para serem decifradas, disseram os pesquisadores.

Algumas pistas anatômicas sugerem que a arte rupestre em ambas as cavernas retrata porcos machos adultos – por exemplo, eles são pintados com verrugas faciais impressionantes, que são maiores nos homens adultos do que nas mulheres.

Então, por que os porcos eram temas populares para os artistas das cavernas?

Porcos verrugosos de Celebes são exclusivos dessa ilha – eles evoluíram lá isolados centenas de milhares de anos atrás, disse Brumm. Evidências arqueológicas sugerem que os humanos caçaram e até domesticaram esses porcos.

“Portanto, parece claro que os primeiros humanos interagiram intimamente com esse porco em vários níveis por um longo período de tempo”, disse Brumm.

“Na verdade, os artistas da era do gelo de Celebes quase parecem ter sido obcecados por porcos verrugosos, o que talvez não seja surpreendente, dada sua importância econômica.”

Dúvidas sobre a datação

Anteriormente, a arte rupestre mais antiga conhecida retratando um animal, um porco verrugoso da ilha de Celebes encontrado em outra caverna na ilha, datava de pelo menos 43.900 anos atrás, de acordo com um estudo de 2019 publicado na revista Nature, que também foi descoberto por Brumm e colegas, incluindo Maxime Aubert, arqueólogo e geoquímico da Universidade Griffith.

Enquanto isso, o desenho mais antigo conhecido (de qualquer tipo) feito por um humano é uma cerquilha de 73.000 anos pintada em um pedaço de rocha da África do Sul, como a Live Science relatou anteriormente.

Na recém-descoberta arte rupestre, a equipe amostrou alguns minerais de calcita que “cresceram” sobre os porcos depois de pintados. Os pesquisadores fizeram isso usando datação por séries de urânio, um método que mede a decadência radioativa do urânio.

Quando a água da chuva penetra em uma caverna de calcário, ela dissolve pequenas quantidades de urânio, que se decompõe com o tempo no elemento tório. Analisando a proporção de urânio para tório em cada amostra de mineral, os cientistas determinaram quando os minerais começaram a crescer nas pinturas.

Esta técnica revelou que o porco verrugoso de Leang Tedongnge tinha pelo menos 45.500 anos, enquanto o porco no teto de Leang Balangajia 1 datava de pelo menos 32.000 anos.

Além de ser a pintura de arte rupestre mais antiga conhecida de um animal, o porco de Leang Tedongnge é a “primeira obra de arte representacional conhecida no mundo” e, possivelmente, a evidência mais antiga de humanos modernos em Celebes, se assumirmos que os humanos modernos (e não um parente humano intimamente relacionado, como os denisovanos) pintou os porcos, escreveram os pesquisadores no estudo.

No entanto, os pesquisadores tiveram uma série de dificuldades técnicas com a datação urânio-tório, que eles reconhecem, mas que tornam as datas estimativas aproximadas, disse David Pearce, professor associado do Instituto de Pesquisa de Arte Rupestre da Universidade de Witwatersrand na África do Sul, que não participou da pesquisa.

“É importante lembrar que são idades relativas… ao invés de datas diretas nas próprias pinturas”, disse Pearce ao Live Science por e-mail.

A questão da datação também foi apontada por João Zilhão, professor do Instituto Catalão de Investigação e Estudos Avançados (ICREA) da Universidade de Barcelona, ​​que não esteve envolvido no estudo. Mas “o que este paper faz é corroborar sua descoberta anterior de que pinturas rupestres estavam sendo feitas na Indonésia há mais de 43.900 anos”, disse ele ao Live Science.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.