Por David Nield
Publicado na ScienceAlert
As placas tectônicas que cobrem a Terra como um quebra-cabeça se movem tão rápido quanto o crescimento de nossas unhas, mas ao longo de um bilhão de anos isso é o suficiente para elas viajarem por todo o planeta – como mostra um novo vídeo fascinante.
Em um dos modelos mais completos de movimentação de placas tectônicas já reunidos, os cientistas condensaram um bilhão de anos de movimentação em um videoclipe de 40 segundos, para que possamos ver como essas placas gigantes de rocha interagiram ao longo do tempo.
À medida que se movem, as placas afetam o clima, os padrões das marés, os movimentos dos animais e sua evolução, a atividade vulcânica, a produção de metais e muito mais: são mais do que apenas uma cobertura para o planeta, são um sistema de suporte de vida que afeta tudo que vive na superfície.
“Pela primeira vez, um modelo completo de atividade tectônica foi construído, incluindo todas as fronteiras”, disse o geocientista Michael Tetley, que concluiu seu doutorado na Universidade de Sydney, Austrália, ao Euronews.
“Em uma escala de tempo humana, as coisas se movem em centímetros por ano, mas, como podemos ver na animação, os continentes estiveram em todos os lugares ao longo do tempo. Um lugar como a Antártica, que vemos hoje como um lugar frio, inóspito e gelado, na verdade já foi bastante um bom destino para as férias no equador”.
O movimento e deslizamento das placas é uma visão incrível se você conferir o vídeo – massas de terra que estão perto de suas vizinhas tornam-se primas distantes e vice-versa, e você pode se surpreender em quão recentemente os países e continentes se estabeleceram nas posições que conhecemos hoje.
Compreender esses movimentos e padrões é crucial se os cientistas desejam prever o quão habitável nosso planeta será no futuro e onde encontraremos os recursos metálicos de que precisamos para garantir um futuro de energia limpa.
O movimento das placas é estimado por meio do estudo do registro geológico – o magnetismo que fornece dados sobre as posições históricas dos substratos em relação ao eixo de rotação da Terra e os tipos de materiais presos em amostras de rocha que ajudam a combinar as peças de quebra-cabeças das placas geológicas anteriores.
Aqui, a equipe fez um grande esforço para escolher e combinar os modelos mais adequados disponíveis atualmente, observando os movimentos dos continentes e as interações ao longo dos limites das placas.
“O planeta Terra é incrivelmente dinâmico, com sua superfície composta por placas que se chocam constantemente de uma forma única entre os planetas rochosos conhecidos”, disse o geocientista Sabin Zahirovic, da Universidade de Sydney.
“Essas placas se movem na velocidade do crescimento das unhas, mas quando um bilhão de anos é condensado em 40 segundos, uma dança hipnotizante é revelada. Os oceanos se abrem e fecham, os continentes se dispersam e periodicamente se recombinam para formar imensos supercontinentes”.
Quanto mais os cientistas avançam no passado, mais difícil se torna estimar como as placas se moveram e, neste caso, as eras Neoproterozoico ao Cambriano (1.000 a 520 milhões de anos atrás) em particular foram cuidadosamente mapeadas e alinhadas para corresponder com os registros mais modernos que temos.
Ainda restam dúvidas sobre como essas placas se formaram pela primeira vez e quando essa formação aconteceu, mas cada novo conjunto de dados nos ajuda a entender a história antiga da Terra – mesmo levando em conta as placas ausentes em alguns modelos.
Os cientistas admitem que seu trabalho carece de alguns detalhes mais sutis, mas eles esperam que ele possa atuar como um recurso útil e uma base para o estudo futuro desses movimentos e do impacto que eles tem em todo o planeta.
“Nossa equipe criou um modelo inteiramente novo de evolução da Terra nos últimos bilhões de anos”, disse o geocientista Dietmar Müller, da Universidade de Sydney.
“Nosso planeta é único na maneira como hospeda a vida. Mas isso só é possível porque os processos geológicos, como as placas tectônicas, fornecem um sistema de suporte de vida planetário”.
A pesquisa foi publicada na Earth-Science Reviews.