Por Stephanie Pappas
Publicado na Live Science
Os restos mortais parcialmente mumificados de um morador urbano de Pompeia foram descobertos em uma tumba fora do centro da cidade construída antes da famosa erupção que enterrou a região em cinzas.
De acordo com as inscrições na tumba, o falecido era um homem chamado Marcus Venerius Secundio, que tinha 60 anos quando morreu e foi, a certa altura, escravizado. Mais tarde, depois de ser libertado, Secundio tornou-se um padre abastado que conduzia rituais em latim e grego.
A inscrição na tumba referindo-se a esses rituais gregos é a primeira evidência direta de apresentações gregas sendo realizadas na cidade italiana.
“O fato de apresentações em grego serem organizadas é uma evidência do clima cultural aberto e animado que caracterizou a antiga Pompeia”, disse Gabriel Zuchtriegel, diretor do Parque Arqueológico de Pompeia, em um comunicado.
Restos mumificados
Os restos mortais de Secundio jazem em uma tumba retangular de alvenaria que já foi pintada com imagens de plantas verdes em um fundo azul; vestígios dessa tinta ainda enfeitam as paredes externas da tumba. O corpo parcialmente mumificado foi colocado em uma alcova selada na tumba com um teto arqueado. Pedaços de cabelo curto e uma orelha ainda são visíveis no crânio.
Os arqueólogos também recuperaram retalhos de tecido e duas garrafas de vidro chamadas de ‘unguentários’ da tumba de Secundio. Os unguentários são frequentemente encontrados em cemitérios romanos e gregos e podem conter óleos ou perfumes para rituais junto ao túmulo.
A tumba também continha duas urnas funerárias, incluindo uma bela urna de vidro azul pertencente a uma mulher cujo nome está registrado como Novia Amabilis (“esposa gentil”). A cremação era o método de sepultamento mais comum para os habitantes de Pompeia durante o período romano, de acordo com os arqueólogos.
Não está claro por que os restos mortais de Secundio não foram cremados. Também não está claro se seu corpo mumificou naturalmente ou se foi tratado para prevenir a decomposição.
“Ainda precisamos entender se a mumificação parcial do falecido se deve a tratamento intencional ou não”, disse o arqueólogo Llorenç Alapont, da Universidade de Valência, em comunicado.
Cidade multilíngue
O túmulo está na necrópole de Porta Sarno, que fica fora das muralhas da cidade, perto do portão de Porta di Nola. Vários notáveis foram enterrados na necrópole, incluindo o administrador da cidade Marcus Obellius Firmus, que viveu durante o reinado do imperador Nero (entre 54 e 68 d.C.), de acordo com a ArchaeoSpain, um centro de pesquisa de campo que coordena estágios em Pompeia e outros locais.
O que se sabe sobre a vida de Marco Venerius Secundio vem de uma tábua de manutenção de registros previamente descoberta pertencente ao banqueiro Cecilius Giocondus, bem como da inscrição esculpida em mármore na tumba de Secundio. Ele era escravo no templo de Vênus antes de ser libertado, depois do qual ingressou no sacerdócio do culto imperial, dedicado a glorificar a memória do imperador romano Augusto, que governou de 27 d.C. a 14 a.C.
Como um desses sacerdotes augustais, Secundio “apresentava ‘ludos’ em grego e latim pela duração de quatro dias”, de acordo com a inscrição do túmulo. “Ludi graeci” (ludos em grego) eram apresentações de teatro em grego, disse Zuchtriegel.
“É a primeira evidência clara de apresentações em Pompeia na língua grega, que havia sido previamente hipotetizada com base em indicadores indiretos”, disse ele.
Essas performances indicam que Pompeia no primeiro século era um lugar multilíngue e multiétnico onde as culturas do Mediterrâneo Oriental se fundiram.