Por Mike McRae
Publicado na ScienceAlert
De política mundial às empresas que estão no topo dos rankings, para os degraus mais altos da academia e até mesmo prêmios Nobel, homens superam as mulheres por uma margem significativa.
Uma alegação de tal disparidade foi atribuída à biologia. A ideia de que existe algum tipo de “superdiversidade” entre os cérebros masculinos tem sido repetidamente citada na literatura científica nas últimas décadas; mas, de acordo com uma meta-análise recém-publicada, esse argumento para o sucesso masculino não é totalmente sustentado por evidências.
“Com base em nossos dados, se presumirmos que os humanos são como os outros animais, há chances iguais de ter um número semelhante de mulheres de alto desempenho do que de homens de alto desempenho neste mundo”, disse a bióloga e autora principal Lauren Harrison, do a Universidade Nacional da Austrália (ANU, na sigla em inglês). “Com base nessa lógica, também há uma grande chance de haver um número semelhante de homens e mulheres com baixo desempenho”.
A maioria das pesquisas sobre diversidade dentro de várias espécies tende a se concentrar nas diferenças entre os sexos. Não é difícil encontrar exemplos numerosos e extremos de dimorfismo; mesmo dentro de nossa própria espécie, contrastes nos cromossomos sexuais são responsáveis por evidenciar várias características anatômicas, como barbas ou seios.
Desde o final do século 19, com os escritos do famoso sexólogo inglês Havelock Ellis, a suposição de que cérebros masculinos maiores igualam maior potencial para proezas cognitivas tem sido usada para explicar por que os homens “merecem” posições de influência e comando.
Muito já foi escrito sobre se as diferenças estatísticas entre os sexos se traduzem em algo realmente significativo (resposta curta – não é verdade), mas poucos estudos investigaram se a diversidade anatômica dentro de um sexo proporciona um espectro maior de comportamento.
Generalizando a afirmação em relação aos animais não humanos, nesta nova meta-análise a equipe investigou se os equivalentes de nossos próprios traços de personalidade em 220 espécies variavam em grande medida dentro de qualquer um dos sexos.
Apesar de uma busca completa em cerca de 10.000 estudos, a equipe não conseguiu encontrar nenhuma evidência convincente que demonstrasse uma maior riqueza de variabilidade nos traços de personalidade de machos ou fêmeas de qualquer uma das espécies incluídas.
Isso não quer dizer que não houve diferenças entre as espécies como um todo. Algumas características selecionadas, como imunidade ou certos traços morfológicos, também foram encontradas variando consideravelmente dentro dos sexos em espécies específicas.
Mas se quisermos usar a natureza como um indicador para nossa própria extensão de variação dentro dos cérebros masculinos, como sugerido no passado, só podemos concluir que o rico panorama dos cérebros femininos oferece tantas oportunidades para a genialidade (e tolices) quanto o masculino.
“Se os homens forem mais variáveis do que as mulheres, isso significaria que há mais homens do que mulheres com QIs muito baixos ou muito altos”, disse um dos autores, o biólogo evolutivo Michael Jennions da ANU. “Mas nossa pesquisa em mais de 200 espécies de animais mostra que a variação no comportamento de machos e fêmeas é muito semelhante. Portanto, não há razão para invocar esse argumento baseado na biologia para explicar por que mais homens do que mulheres são ganhadores do Nobel, por exemplo, algo que associamos com alto QI”.
A falta de evidências a favor da variação comportamental entre os homens não descarta outras explicações biológicas para essa desigualdade absurda que permeia grande parte da sociedade moderna.
No entanto, isso limita os argumentos para que essa desigualdade seja o resultado de nossa programação biológica e, portanto, algo sobre o qual não podemos – ou não devemos – fazer nada.
Desmantelar as noções de que o mérito masculino está cimentado na biologia pode até ajudar a quebrar as estruturas sociais que são realmente responsáveis pelos preconceitos de gênero.
“Em vez de usar a biologia para explicar por que há mais CEOs ou professores do sexo masculino, temos que perguntar que papel a cultura e a educação desempenham em empurrar homens e mulheres por caminhos diferentes”, disse Harrison.
Esta pesquisa foi publicada na Biological Reviews.