Por Michelle Starr
Publicado na ScienceAlert
Um fóssil excepcional desenterrado em Montana, nos EUA, nos presenteou com o ancestral mais antigo conhecido de lulas e polvos vampiros.
O cefalópode, pertencente à superordem vampiropode ou octopodiforme, retrocede a idade do grupo em cerca de 82 milhões de anos.
Isso desafia nossa compreensão de que os polvos evoluíram de um ancestral do Triássico. Fascinantemente, esse não tem oito, mas 10 braços, mostrando que, em algum momento, esses animais perderam dois tentáculos funcionais.
“Este é o primeiro e único vampiropode conhecido a possuir 10 apêndices funcionais”, disse o paleontólogo Christopher Whalen, do Museu Americano de História Natural (AMNH) e da Universidade de Yale.
O animal recém-descoberto foi nomeado Syllipsimopodi bideni, em homenagem ao presidente Joseph ‘Joe’ Biden, que na época da descoberta foi eleito com planos para combater as mudanças climáticas (embora pareça que eles estão chamando o presidente de vampiro velho com muitos braços).
Nossa compreensão da história evolutiva dos vampiropodes é, na melhor das hipóteses, irregular. Polvos-vampiros e lulas-vampiras – assim chamados por sua cor vermelho-sangue e uma rede de tentáculos parecida com um manto ou uma capa vampiresca – são criaturas moles e leves, sem ossos, apenas uma casca interna de quitina, e esses tecidos geralmente não sobrevivem por milhões de anos como dentes e ossos.
No entanto, em alguns tipos de formações fósseis excepcionais, conhecidas como Lagerstättes, o tecido mole é ocasionalmente preservado.
Foi aqui que Whalen e seu coautor, o paleontólogo do AMNH Neil Landman, encontraram Syllipsimopodi: em um fóssil do tipo Lagerstätte recuperado em Montana, conhecido como Bear Gulch.
Essa pequena impressão de um corpo mole, preservado intocado por centenas de milhões de anos, mostra que a história dos animais de hoje foi uma saga complexa e fascinante.
“Nossas descobertas sugerem que os primeiros vampiropodes, pelo menos superficialmente, se assemelhavam a lulas que vivem nos dias de hoje”, disse Whalen. “Syllipsimopodi bideni também desafia os argumentos predominantes para as origens dos vampiropodes e oferece um novo modelo para a evolução dos cefalópodes com concha interna”.
Houve indícios de que as linhagens de vampiropodes podem ter sido mais antigas do que o espécime mais antigo conhecido, datado de cerca de 240 milhões de anos atrás.
O relógio molecular da linhagem – a taxa de mutação de biomoléculas no DNA, que pode ser usada para determinar a história evolutiva de um organismo – sugeriu que os vampiropodes se originaram em algum momento entre 350-330 milhões de anos atrás.
A descoberta de Whalen e Landman corrobora essas estimativas, acrescentando ainda que o Syllipsimopodi de 10 braços é o primeiro vampiropode divergente conhecido do ancestral comum do grupo. Esses 10 braços, todos com ventosas, sugerem que esse ancestral comum também tinha 10 braços.
“O número de braços é uma das características que distingue a linhagem de lulas e chocos de 10 braços (Decabrachia) da linhagem de polvos-vampiros e lulas-vampiras de 8 (Vampyropoda)”, explicou Whalen. “Há muito tempo entendemos que os polvos chegaram ao número de oito braços através da eliminação dos dois apêndices da lula-vampira, e que esses apêndices são braços vestigiais. No entanto, todos os vampiropodes fósseis relatados anteriormente que preservam os apêndices têm apenas oito braços, então este fóssil é sem dúvida a primeira confirmação da ideia de que todos os cefalópodes possuíam ancestralmente 10 braços”.
Com base no incrível fóssil, os pesquisadores conseguiram determinar que dois dos braços de Syllipsimopodi eram mais longos que os outros; é possível que estes tenham sido usados para capturar presas, enquanto os mais curtos poderiam ter sido usados para segurá-los e manuseá-los.
O corpo do animal também era em forma de torpedo, como as lulas modernas, e tinha barbatanas que pareciam grandes o suficiente para ajudar Syllipsimopodi a nadar e se estabilizar.
Em outra semelhança anatômica com lulas (assim como lulas-vampiras), o fóssil de Syllipsimopodi mostrou evidências de uma estrutura de concha interna chamada pena. Os polvos não têm essa estrutura; foi reduzido a estruturas em forma de barra chamadas septos.
Essas características ajudaram os pesquisadores a determinar onde Syllipsimopodi pode ter se encaixado em seus ecossistemas.
“Syllipsimopodi pode ter preenchido um nicho mais semelhante às lulas existentes, um predador aquático de nível médio”, dsse Landman. “Não é inconcebível que ele tenha usado seus braços carregados de ventosas para arrancar pequenos amonites de suas conchas ou se aventurado mais perto da costa para caçar braquiópodes, bivalves ou outros animais marinhos com conchas”.
A pesquisa foi publicada na Nature Communications.