Traduzido por Julio Batita
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert
Uma análise de algumas das rochas mais antigas do mundo sugere que os primeiros continentes da Terra eram instáveis e afundaram de volta no manto antes de emergir novamente e se reformar.
Isso poderia explicar algumas das características mais intrigantes dos crátons, partes extremamente antigas e estáveis da litosfera (a crosta e o manto superior) que sobreviveram a mudanças continentais ao longo de eras e registram a história antiga da Terra.
As novas descobertas podem nos ajudar a entender as mudanças na geologia da Terra ao longo de sua vida útil de 4,5 bilhões de anos.
“As rochas no núcleo dos continentes, chamadas crátons, têm mais de três bilhões de anos”, explicou o geólogo Fabio Capitanio, da Faculdade da Terra, Atmosfera e Meio Ambiente da Universidade Monash, na Austrália.
“Elas se formaram na Terra primitiva e guardam o segredo de como os continentes e o planeta mudaram ao longo do tempo.”
Nós realmente não sabemos como os continentes se formaram. Nenhum outro planeta do Sistema Solar tem algo parecido com eles, então parece claro que deve haver um conjunto específico de circunstâncias.
Existem várias linhas de evidência que sugerem que os continentes podem ter se formado de dentro para fora, em torno de núcleos cratônicos. Mas o mecanismo de formação dos próprios crátons é muito debatido.
Os crátons, dos quais cerca de 35 são conhecidos atualmente, são flutuantes e rígidos em comparação com outras partes da litosfera, o que lhes confere estabilidade. Mas sua composição é incomum em comparação com a litosfera mais recente, composta por uma mistura estranhamente diversificada de materiais, minerais com uma variedade de idades, composições e fontes.
Essa heterogeneidade, ou diversidade, é sugestiva de reciclagem e reformação, descobriram pesquisas anteriores.
Capitanio e sua equipe realizaram modelagem computacional para simular a evolução da Terra durante os primeiros bilhões de anos de sua existência, a fim de observar a evolução térmica e química do manto litosférico cratônico. Além disso, eles executaram um conjunto de simulações de teste para descobrir a sensibilidade do modelo a diferentes parâmetros.
Os resultados mostraram que os primeiros blocos continentais a emergir na Terra eram instáveis, afundando de volta no manto. Lá, eles derreteram e se misturaram com o material fundido até se dissolverem.
No entanto, algumas peças podem permanecer lá por um longo tempo antes de flutuar de volta, acumulando-se sob a litosfera em camadas, dando-lhe flutuabilidade e rigidez.
Como alguns desses pedaços de rocha mais antigos podem permanecer no manto por longos períodos de tempo, isso pode explicar a heterogeneidade da composição cratônica: rochas mais antigas de diferentes lugares misturadas com rochas mais jovens.
Na verdade, ainda pode haver algumas dessas peças lá embaixo, esperando para flutuar de volta.
A equipe chamou esse mecanismo de ‘relaminação regional massiva’ (RRM). Por se encaixar perfeitamente na composição observada dos crátons, a equipe diz que pode ter sido um componente-chave da formação continental na Terra primitiva.
Dado que os continentes são considerados muito importantes para o surgimento e a existência contínua da vida na Terra, descobrir como eles se formaram tem implicações, não apenas para o nosso próprio planeta, mas para a busca de mundos habitáveis fora do Sistema Solar.
“Nosso trabalho é importante de duas maneiras”, disse Capitanio.
“Primeiro, os crátons são onde importantes metais e outros minerais são armazenados/encontrados. E segundo, eles nos dizem como os planetas se formaram e mudaram no passado, incluindo como os continentes surgiram e como eles sustentaram a vida e como a atmosfera se formou e mudou como resultado da tectônica dos planetas.”
A pesquisa foi publicada na PNAS.