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A Expansão do Universo não foi derrubada!

Há um novo paper na International Journal of Modern Physics, que apresenta evidências de que o universo não está se expandindo. Sim, você ouviu isso direito. Se for verdade, com certeza, isso derrubaria décadas da teoria cosmológica. É o tipo de descoberta revolucionária que valeria um Prêmio Nobel. Vamos manter um pouco ceticismo antes mesmo da notícia circular nos principais veículos de informação, e não jogue seus velhos livros de astronomia fora, pelo menos ainda.

O paper centra-se num teste cosmológico conhecido como o teste Tolman. Foi proposto pela primeira vez em 1930 por Richard C. Tolman, e isso é feito comparando o brilho superficial das galáxias (brilho por área) aos seus redshifts (desvios para o vermelho). Se o universo fosse perfeitamente estático, então o brilho de uma galáxia distante deveria ser a mesma que a de uma galáxia próxima. Isto ocorre porque enquanto galáxias distantes aparecem ofuscantes, elas também parecem menores pelo mesmo valor, uma vez que o brilho e a área aparente em ambos seguem uma relação inversa do quadrado. Claro, sabemos que a maioria das galáxias têm redshifts, e isto serviria para escurecer uma galáxia ainda mais. Mas acontece que a quantidade de escurecimento extra é proporcional ao redshift. Assim, para um universo estático com redshift, o rácio de brilho superficial de redshift deve ser constante.

O teste de Tolman foi feito várias vezes antes, com milhares de galáxias, e os resultados concordam com os modelos de que o universo está em expansão. Então, o que tem de diferente neste paper? Ele não olha para um universo estático tradicional onde o redshift é devido ao movimento das galáxias em relação a nós, mas sim um universo estático alternativo onde a “era” luz passa por algum mecanismo desconhecido, de modo que ao longo do tempo apareça os redshifts. Desta forma, as galáxias distantes tem um redshift devido a sua tired light (envelhecida luz) ao invés do movimento relativo ou expansão cósmica. Por esse modelo, o brilho da superfície deve escurecer proporcional ao redshift.

Então, os autores comparam o brilho superficial, os redshifts de baixos redshifts e o alto redshift de galáxias espirais, e acham que os resultados estão de acordo com o seu modelo estático de tired light (o que eles chamam de modelo SEU). Eles, então, concluem que, embora o resultado não é por si só suficiente para derrubar o modelo do universo em expansão, mostra que mais pesquisas devem ser feitas do modelo SEU. Daí as manchetes “Universo não está se expandindo, dizem cientistas”.

Se você vai testar um modelo alternativo que exige a introdução de algum mecanismo desconhecido para redshift, você provavelmente deve comparar seus resultados com um modelo de universo em expansão para ver se o seu funciona melhor. Em particular, você provavelmente deve comparar seus dados com o modelo ΛCDM (a Energia Escura padrão/Matéria Escura/Universo em Expansão). Será que eles fizeram isso? Não. Em suas próprias palavras: “Neste trabalho, nós não comparamos os dados com o modelo ΛCDM. Nós só observamos que qualquer esforço para se ajustar esses dados para ΛCDM exige hipotetizar uma evolução do tamanho de galáxias com z”. Aparentemente, hipotetizar uma evolução do tamanho de galáxias é ruim, mas a introdução de um mecanismo desconhecido de tired light para preservar um universo estático está bom.

Há uma outra razão pela qual eles não compararam seus resultados com ΛCDM, e isso é porque iria coincidir igualmente bem com os dados. Tais comparações foram feitas antes, e eles oferecem suporte a ΛCDM. Na verdade, um estudo no início deste ano usou um teste cosmológico semelhante conhecido como o teste Alcock-Paczynski e compararam os resultados de uma série de modelos. O teste eliminou todos os dois modelos, ΛCDM e a estática tired light.

Claro, a tired light foi excluída por outra evidência observacional. Se vivêssemos em um universo estático de tired light, as galáxias distantes deveriam aparecer borradas (elas não aparecem), supernovas distantes não deveriam sofrer a dilatação do tempo pela expansão cósmica (elas sofrem) e não deveríamos ver a radiação cósmica de fundo (nós vemos).

Então, este paper mostra que o universo pode ser estático? Não. Eles não comparam os resultados com uma série de modelos de universo estático e em expansão para mostrar que o modelo estático funciona melhor. Eles assumiram um modelo estático de franja, projetado especificamente para combinar com o modelo de expansão padrão. Eles ainda afirmam isso em seu artigo: “Neste trabalho, reconsideramos o assunto adotando um universo euclidiano estático com uma relação linear de Hubble… resultando em uma relação entre o fluxo e a luminosidade que é virtualmente indistinguível daquele utilizado para os modelos ΛCDM.” Em outras palavras, eles escolheram o modelo de universo estático tired light, porque ele coincide com o modelo padrão de universo em expansão para o teste de Tolman.

Não é assim que a ciência funciona.


Artigo traduzido originalmente de Brian Koberlein. Selection Bias. 24 May 2014.


Referências Bibliográficas

Eric J. Lerner. UV surface brightness of galaxies from the local Universe to z ~ 5. International Journal of Modern Physics, Volume 23, Number 6. May 01, 2014.

M. López-Corredoira. Alcock-Paczyński Cosmological Test. The Astrophysical Journal, Volume 781 Number 2. Jan 14, 2014.

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Douglas Rodrigues Aguiar de Oliveira

Divulgador Científico há mais de 10 anos. Fundador do Universo Racionalista. Consultor em Segurança da Informação e Penetration Tester. Pós-Graduado em Computação Forense, Cybersecurity, Ethical Hacking e Full Stack Java Developer. Endereço do LinkedIn e do meu site pessoal.