Traduzido por Julio Batista
Original de Jeff Renaud para a Universidade de Ontário Ocidental
Andrew Nelson estuda bioarqueologia, em parte, porque permite que ele entenda como as pessoas viviam há milhares de anos. E embora ele tenha viajado pelo mundo investigando múmias antigas, sua última aventura com o rei Tutancâmon é inesquecível.
“A melhor maneira de saber sobre as pessoas do passado é estudar múmias, esqueletos e artefatos funerários. Trabalhar em uma múmia nos diz como era um indivíduo como pessoa”, disse Nelson, membro de cátedra e professor de antropologia.
Esta semana – marcando o centenário da abertura da tumba do rei Tutancâmon por Howard Carter – a emissora pública nacional estadunidense PBS exibiu um documentário em duas partes intitulado Tutankhamon: Allies & Enemies (Tutancâmon: Aliados & Inimigos, na tradução livre), e Nelson é uma figura de destaque.
“Já trabalhei com muitas múmias, no Peru, no Egito e em outros lugares e cada uma é especial. Cada uma foi uma pessoa que merece nosso respeito – e isso é importante e é importante contar suas histórias – mas, só há um Rei Tut”, disse Nelson.
A pedido da produtora, seguindo uma recomendação de Sahar Saleem, professor de radiologia da Faculdade de Medicina Kasr AlAiny da Universidade do Cairo, Nelson foi contratado para participar de uma nova reconstrução facial do rei Tut. O processo envolveu o uso de tomografia computadorizada (TC) e software de bioimagem 3D Dragonfly, para criar um modelo virtual do crânio do rei.
(Créditos: Universidade de Ontário Ocidental)
“Tenho muitas varreduras de outras múmias egípcias, mas é realmente difícil fazer uma varredura de um faraó, então trabalhar com o rei Tutancâmon é a melhor experiência”, disse Nelson, membro do Western’s Bone and Joint Institute. “Foi somente com o envolvimento de Sahar que conseguimos permissão das autoridades egípcias para examinar os dados.”
Antes da mumificação do rei Tutancâmon ser concluída em 1323 a.C., a resina foi derramada em sua cavidade craniana vazia (o espaço no crânio que contém o cérebro) e suas bochechas foram cobertas com tiras de linho revestidas com resina. Essa técnica foi usada para dar forma ao rosto depois de seco durante o processo de mumificação, mas tornou a dissecação virtual de Nelson extremamente difícil.
“Eles colocaram tamponamento embaixo das bochechas e na boca para tentar manter o formato do rosto. Mas ainda não é o rosto original dele. Não havia tecido muscular, então é uma espécie de versão encolhida de seu rosto real”, disse Nelson. “Nosso trabalho foi tentar conservar o rosto e essencialmente reanimá-lo.”
Depois que a reconstrução digital do crânio foi concluída, Nelson trabalhou com a Objex Unlimited de Toronto para produzir uma impressão 3D do crânio. Ele então se juntou ao artista Christian Corbet de Sackville, Nova Brunswick, Canadá, que primeiro fez uma representação forense do busto do rei Tut sem orelhas e sem expressão, e seguiu com sua versão artística final, inspirada na egiptologia e na arte egípcia, que apareceu no documentário.
“Trabalhamos a partir do modelo 3D do crânio e, em seguida, adicionamos as camadas de músculos e realmente construímos o rosto”, disse Nelson. “A anatomia de seu crânio guiou a reconstrução facial, então acho que é uma aparência muito mais realista do que qualquer uma das que vimos no passado.”
O toque final, que não fazia parte das reconstruções faciais anteriores do rei Tut, foi a inclusão de um khepresh no topo de sua cabeça.
O khepresh, que é a coroa de batalha do rei Tut, realmente eleva a reconstrução”, disse Nelson. “Existem muitas ilustrações e representações na arte egípcia com o rei Tut usando sua coroa, com a serpente na frente, por isso optamos por ir nesse caminho.”
No documentário, o arqueólogo egípcio Yasmin El Shazly e o fotógrafo Mahmoud Rashad inspecionam as inconsistências históricas explorando os mistérios da vida e do enterro do rei Tut.
“O objetivo da produção é realmente contar a história do rei Tut como pessoa e quem ele era como menino rei”, disse Nelson. “Os anfitriões visitaram locais antigos e realmente exploraram seus amigos e inimigos. Como parte dessa exploração, eles queriam olhar para o rosto dele, e acho que Sahar, Christian e eu acertamos a tarefa. Agora podemos realmente ver o rosto do rei Tutancâmon e trazer esse aspecto dele à vida.”