Traduzido por Julio Batista
Original de Tom Metcalfe para a Live Science
Mais de 700 anos atrás, um “caso de violência pura” medieval acabou com a vida de um jovem com quatro golpes de espada na cabeça, de acordo com um novo estudo de um “caso arquivado” medieval.
A brutalidade dos ferimentos sugere que o assassinato pode ter sido “um caso de violência excessiva”, disse a principal autora do estudo, Chiara Tesi, antropóloga do Centro de Osteoarqueologia e Paleopatologia da Universidade de Insubria na Itália, disse ao Live Science. Tesi e seus colegas analisaram os restos mortais da vítima com técnicas forenses modernas, incluindo tomografia computadorizada (TC) – varreduras tridimensionais de raios-X – e microscopia digital de precisão das lesões do crânio.
“O indivíduo provavelmente foi pego de surpresa pelo agressor” e não conseguiu proteger adequadamente a cabeça, disse ela em um e-mail. Depois de inicialmente atacar a vítima pela frente, o assassino parece ter perseguido o homem enquanto ele se virava, provavelmente tentando escapar, já que os ferimentos mais profundos foram infligidos por trás, de acordo com um estudo publicado na edição de dezembro do Journal of Archaeological Science: Reports.
Assassinato brutal
Arqueólogos descobriram o esqueleto da vítima em 2006 na igreja de San Biagio em Cittiglio, uma pequena cidade na província de Varese, no norte da Itália.
Acredita-se que as partes mais antigas da igreja datam do século VIII d.C., mas o esqueleto danificado foi encontrado em uma tumba em um átrio construído perto da entrada no século XI; a datação por radiocarbono indica que a vítima foi enterrada lá antes de 1260 d.C.
O novo estudo sugere que a vítima era um homem que tinha entre 19 e 24 anos quando foi assassinado. Um estudo da escavação publicado em 2008 no jornal Fasti Online observou alguns de seus ferimentos, mas Tesi disse que o novo estudo revelou mais ferimentos e a sequência do assassinato.
Ela disse que o jovem provavelmente bloqueou ou desviou do ataque inicial do agressor, embora o primeiro golpe ainda tenha causado uma lesão superficial no topo do crânio.
Quando ele se virou para escapar, no entanto, “a vítima foi atingida por dois outros golpes em uma rápida sucessão, um afetando a região auricular [orelha] e o outro a região nucal [parte de trás do pescoço]”, disse ela. “No final, provavelmente exausto e com o rosto para baixo, ele finalmente foi atingido por um último golpe na nuca que causou a morte imediata.” Esse “evidente exagero na violência” sugere que pode ter havido um motivo complexo para o assassinato, disse Tesi; tal ataque frenético parecia mostrar que o agressor estava determinado a terminar seu trabalho mortal.
Vestígios medievais
O novo estudo mostra que os ferimentos foram todos causados pela mesma arma branca – provavelmente uma espada de aço – enquanto a posição dos ferimentos sugere que os ferimentos foram infligidos por um único agressor, disse ela.
Os pesquisadores vasculharam os registros históricos na tentativa de determinar a identidade da vítima, mas “não encontramos nada”, disse Tesi.
Seu enterro proeminente, no entanto, sugere que ele pode ter sido um membro da poderosa família De Citillio que originalmente estabeleceu a igreja.
Um ferimento cicatrizado na testa da vítima sugere que ele tinha experiência em guerra; enquanto marcas em seu ombro direito provavelmente foram causadas pela “prática habitual de arco e flecha e o uso de um arco desde a infância ou juventude”, disse Tesi – possivelmente um sinal de que ele costumava caçar por esporte.
Para examinar como a espada golpeou os tecidos moles agora decompostos da vítima, os pesquisadores criaram uma reconstrução do rosto da vítima. “Testamos a formação de feridas colocando uma lâmina na cabeça reconstruída e replicando os golpes recebidos pelo sujeito”, disse ela.
A reconstrução ajudou a avaliar a gravidade dos ferimentos.
“Eles estão usando literalmente a cabeça como uma forma de mostrar essas múltiplas feridas no crânio”, disse Caroline Wilkinson, diretora do Face Lab na Universidade John Moores de Liverpool, no Reino Unido, à Live Science. “É realmente interessante – um bom uso de técnicas forenses para observar traumas na cabeça e como esses ferimentos foram causados.”
Wilkinson não participou do novo estudo, mas trabalhou na reconstrução dos rostos de algumas das vítimas de um massacre medieval de judeus na cidade inglesa de Norwich. Representações faciais “podem criar uma narrativa pessoal em torno de restos humanos, em vez de apenas olhar para espécimes em uma caixa de vidro”, disse ela.
Tesi também acredita que a reconstrução pode ajudar as pessoas a se relacionarem com a vítima.
“Ver o rosto e os olhos de um jovem é definitivamente mais emocionante do que simplesmente olhar para uma caveira”, disse ela.