Traduzido por Julio Batista
Original de Clare Watson para o ScienceAlert
A ligação entre antigas erupções vulcânicas e o evento de extinção mais severo que o mundo já viu ficou ainda mais forte. Uma nova análise de isótopos de mercúrio forneceu evidências de que um quarto de bilhão de anos atrás, lugares distantes no Hemisfério Sul da Terra foram cobertos com detritos de erupções vulcânicas na Sibéria.
A chamada Grande Morte, também chamada de evento de extinção em massa do Permiano-Triássico, foi um marco na história da Terra onde a maior parte da vida foi eliminada sob o céu cheio de cinzas.
Embora esteja claro como as coisas terminaram – com a perda de mais de 90% das espécies marinhas e mais de 70% dos vertebrados terrestres – nossa compreensão de como o maior evento de extinção da Terra se desenrolou permanece um pouco nebulosa, apesar dos melhores esforços dos geólogos.
Ao reunir vestígios químicos presos em rochas e sedimentos oceânicos, os geocientistas estão bastante confiantes de que uma série de erupções vulcânicas desencadeou uma cascata de mudanças dramáticas na atmosfera e nos oceanos da Terra que eventualmente sufocaram os animais.
Mas um evento de extinção tão grande quanto a Grande Morte também precisa de um caso bastante sólido antes que os geocientistas possam dizer definitivamente o que o causou e quando aconteceu. Afinal, eles estão voltando no tempo cerca de 252 milhões de anos.
Em pesquisas anteriores, o zinco e o níquel foram usados para vincular as mudanças na química dos oceanos ao vulcanismo maciço e à extinção da vida marinha. Mas esses elementos são reciclados na superfície da Terra, ao contrário dos isótopos de mercúrio, que oferecem um sinal muito mais estável de atividade vulcânica.
Além disso, muitos estudos desse evento de extinção em massa se concentraram em locais do Hemisfério Norte, dificultando a compreensão do impacto do vulcanismo na parte inferior da Terra. Isso é significativo porque evidências crescentes sugerem que a Grande Morte não foi um único evento mortal, mas vários episódios de extinção que ocorreram em ondas ao longo de cem mil anos.
Assim, o paleoclimatologista Jun Shen, da Universidade de Geociências da China, e seus colegas começaram a detectar isótopos de mercúrio em depósitos rochosos em dois locais do Hemisfério Sul: a Bacia de Karoo, no centro-sul da África, e a Bacia de Sydney, na costa leste da Austrália.
Na época da Grande Morte, as bacias estavam unidas em um supercontinente chamado Pangeia, mas agora estão separadas por cerca de 10.000 quilômetros e o oceano Índico. Neles, os pesquisadores encontraram padrões quase idênticos: os isótopos de mercúrio atingiram o pico no final do Permiano.
Esta evidência – do que são até hoje os locais terrestres mais distantes dos Trapps Siberianos, os gigantescos fluxos de lava formados pelos vulcões no fim do período em questão – sugere que o mercúrio foi expelido de vulcões no Hemisfério Norte e varreu o globo, disseram os pesquisadores.
“Acontece que as emissões vulcânicas de mercúrio têm uma composição isotópica muito específica do mercúrio que se acumulou no horizonte de extinção”, explicou a autora do estudo e geóloga da Universidade de Connecticut, EUA, Tracy Frank.
“Conhecendo a idade desses depósitos, podemos vincular de forma mais definitiva o momento da extinção a esta erupção massiva na Sibéria”.
Seu trabalho se alinha com sinais de isótopos de enxofre que coincidem com a Grande Morte, e também se baseia em pesquisas anteriores que sugerem que extinções em massa começaram a ocorrer em terra até 600.000 anos antes da vida marinha ser extinta.
“Isso sugere que o evento em si não foi apenas um grande golpe que aconteceu instantaneamente”, explicou Christopher Fielding, outro geólogo da Universidade de Connecticut.
“Não foi apenas um dia muito ruim na Terra, por assim dizer, levou algum tempo para desenvolver e isso alimenta os novos resultados porque sugere que o vulcanismo foi a causa raiz”.
Os pesquisadores reconhecem que não é fácil descobrir a causa direta da Grande Morte. Plumas de cinzas de erupções vulcânicas no sul da China também foram implicadas na carnificina, além dos Trapps Siberianos.
Então, por mais que tentemos reconstruir a sequência de eventos que levaram ao maior evento de extinção da Terra, talvez uma mensagem mais importante a ser absorvida seja a fragilidade da vida em um planeta violento que hoje está sob pressão de muitas das mesmas mudanças climáticas: aumento das temperaturas e gases de efeito estufa.
A pesquisa foi publicada na Nature Communications.