Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert
A Terra, atualmente, é nosso único projeto de habitabilidade planetária. Pode haver vida em outro lugar na grande e vasta galáxia, mas o nosso é o único mundo no qual sabemos, com certeza, que ela surgiu.
O problema é que não encontramos nada lá fora que seja exatamente igual ao nosso próprio planeta: do mesmo tamanho e composição, ocupando um local semelhante em seu sistema planetário, à distância certa na “Zona de Cachinhos Dourados” de sua estrela para temperaturas favoráveis à vida como nós a conhecemos.
A maioria dos 5.300 mundos que encontramos até agora estão, de fato, muito mais próximos de suas estrelas hospedeiras do que a Terra está do Sol. Graças a essa proximidade, eles não estão apenas fervendo no calor, mas também travados no lugar sem rotação. Isso significa que um lado está sempre voltado para a estrela, torrando na luz permanente do dia, e o outro está sempre voltado para o lado oposto, na noite gelada e perpétua.
Um novo paper descobriu que existe um lugar em exoplanetas de dupla personalidade em órbita próxima que pode ser habitável: a fina zona crepuscular onde o dia encontra a noite, conhecido como terminador.
“Você quer um planeta que esteja no ponto ideal da temperatura certa para ter água líquida”, disse a geofísica Ana Lobo, da Universidade da Califórnia em Irvine, EUA.
“Este é um planeta onde o lado do dia pode ser escaldante, muito além da habitabilidade, e o lado da noite vai ser congelante, potencialmente coberto de gelo. Você pode ter grandes geleiras no lado noturno.”
Nossa busca por exoplanetas semelhantes à Terra é atualmente um tanto dificultada pelas limitações de nossa tecnologia. Nossas técnicas mais úteis são melhores para encontrar mundos que orbitam suas estrelas bem de perto, girando em menos de 100 dias.
Se estivéssemos olhando apenas para estrelas como o Sol, isso poderia representar um problema para a habitabilidade potencial. No entanto, a maioria das estrelas da galáxia são anãs vermelhas; menores, mais fracas e muito mais frias que a nossa própria estrela.
Embora isso signifique que a zona habitável pode estar um pouco mais próxima, também introduz o problema do acoplamento de maré. Isso ocorre quando a interação gravitacional entre dois corpos “trava” a rotação do corpo menor no mesmo período de sua órbita, de modo que um lado esteja sempre voltado para o corpo maior. Ocorre particularmente em exoplanetas com órbitas próximas, porque a gravidade da estrela estica o exoplaneta de tal forma que a distorção aplica um efeito de frenagem. Vemos isso com a Terra e a Lua também.
Para os exoplanetas, às vezes conhecidos como “planetas oculares“, significa que o lado diurno e o lado noturno experimentam extremos climáticos que podem não ser hospitaleiros. Para determinar se há alguma maneira de esses mundos serem habitáveis, Lobo e seus colegas empregaram um software de modelagem climática modificado geralmente usado para a Terra.
Tentativas anteriores de determinar a habitabilidade potencial de exoplanetas se concentraram muito mais em mundos ricos em água, já que a vida na Terra exige isso. A equipe esperava expandir a gama de mundos que deveríamos procurar por sinais de vida extraterrestre.
“Estamos tentando chamar a atenção para planetas com mais limitação de água, que apesar de não terem oceanos generalizados, podem ter lagos ou outros corpos menores de água líquida, e esses climas podem ser muito promissores”, explicou Lobo.
Curiosamente, o trabalho da equipe mostrou que mais água provavelmente tornaria os planetas oculares menos habitáveis. Se o lado diurno desse mundo tivesse oceanos líquidos, a interação com a estrela encheria a atmosfera com vapor que poderia envolver todo o exoplaneta, induzindo efeitos estufa sufocantes.
No entanto, se o exoplaneta tiver muita terra, o terminador se tornará mais habitável. Lá, o gelo das geleiras noturnas pode derreter à medida que as temperaturas sobem acima de zero, transformando o terminador em um cinturão habitável circulando o exoplaneta.
Isso é semelhante às descobertas de um paper de 2013 publicado na revista Astrobiology. Juntos, eles sugerem que valeria a pena adicionar exoplanetas oculares à mistura em futuras buscas por sinais de vida nas atmosferas de planetas fora do Sistema Solar.
“Ao explorar esses estados climáticos exóticos, aumentamos nossas chances de encontrar e identificar adequadamente um planeta habitável em um futuro próximo”, disse Lobo.
A pesquisa da equipe foi publicada no The Astrophysical Journal.