Traduzido por Julio Batista
Original de Tessa Koumoundouros para o ScienceAlert
Os macacos parecem ser mais facilmente enganados por um famoso truque de mágica se possuírem polegares opostos, mostra uma nova pesquisa – revelando o quanto nossa anatomia pode afetar nossa capacidade de perceber o mundo ao nosso redor.
“Nosso trabalho levanta a possibilidade intrigante de que a capacidade física inerente de um indivíduo influencia fortemente sua percepção, sua memória do que eles acham que viram e sua capacidade de prever movimentos manuais daqueles ao seu redor”, explicou a psicóloga Nicola Clayton, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.
Observar os outros fazerem uma tarefa pode ativar as mesmas regiões cerebrais que se iluminam se nós mesmos estivéssemos fazendo a tarefa. Isso acontece dentro do nosso sistema de neurônios espelho, e quanto mais familiarizados estivermos com uma tarefa, mais nossos cérebros irão espelhá-la.
Os dançarinos de balé têm uma ativação mais forte de neurônios espelho enquanto assistem a balé em vez de uma capoeira, por exemplo. Essas ações são robustamente codificadas em nossos cérebros como uma sequência de causa e efeito para poupar o esforço de prever movimentos comuns.
Os mágicos podem explorar nossa confiança nesse mapa mental para mexer com nossas percepções. Por exemplo, se um mágico mostra a você uma moeda em uma mão e simula pegá-la com a outra mão, você será perdoado por presumir que a moeda foi transferida de uma mão para a outra.
Isso é verdade mesmo quando a moeda é escondida de nós e o mágico deixa a moeda na mão inicial. Esse truque é chamado de troca francesa, conforme visto na primeira demonstração abaixo.
Como mágico praticante com uma década de experiência, o psicólogo comparativo Elias Garcia-Pelegrin estava curioso para saber se a capacidade de realizar um conjunto de ações pessoalmente é necessária para que os neurônios espelho mapeiem a mesma sequência de etapas.
Sendo pesquisador da Universidade de Cambridge na época do estudo, Garcia-Pelegrin e uma equipe de seus colegas fizeram testes com 24 macacos representando três espécies, realizando a troca francesa para o adorável público. Primeiro, eles mostraram ao público primata uma guloseima favorita. Eles então fingiram transferir a guloseima em uma troca francesa ou realmente a transferiram para a outra mão.
Cada teste contou com um movimento preciso envolvendo o polegar para transferir a guloseima, independentemente de a transferência ser real ou falsa.
Eles também fizeram algumas transferências reais da guloseima de uma mão para a outra, a segunda demonstração no vídeo acima. Cada teste foi feito como se o mágico estivesse usando um movimento preciso envolvendo um polegar, para transferir a guloseima, independentemente da transferência ser real ou falsa.
Os saguis só foram enganados por uma transferência falsa de marshmallows 6% das vezes, possivelmente graças ao fato de seus polegares minúsculos não serem oponíveis o suficiente para pegar a guloseima com os dedos comprimidos.
Macacos-pregos com relativa destreza nas mãos, por outro lado, foram enganados 81% das vezes. Pobres macacos-esquilos perplexos foram tapeados em 93% das vezes. Dada a suas habilidades com os polegares opositores, é possível que seus cérebros já estivessem preparados para antecipar o movimento de um objeta com a “pinça” das mãos.
Nem todos os truques de prestidigitação exigem o uso do polegar, conforme demonstrado no terceiro e quarto exemplos do vídeo acima. Embora os macacos possam não ser capazes de realizar as variações pessoalmente, nada em sua anatomia os impediria de tentar.
Em outra rodada de testes, os pesquisadores usaram o punho para agarrar (ou fingir agarrar) a guloseima em vez de fazer uma pinça com as mãos, que parecia enganar todas as três espécies de macacos na maior parte do tempo.
“Os macacos-esquilo não podem fazer movimentos totalmente precisos com as mãos, mas ainda assim foram enganados. Isso sugere que um macaco não precisa ser especialista em um movimento para predizê-lo, apenas ser capaz de executá-lo”, explicou Garcia-Pelegrin.
Trabalhos anteriores da equipe mostram que uma ave selvagem, o gaio-comum (Garrulus glandarius), tem uma resposta semelhante aos saguis quando realizada a troca francesa, não caindo no truque que precisa de um polegar para executar.
“Existem evidências crescentes de que as mesmas partes do sistema nervoso usadas quando realizamos uma ação também são ativadas quando observamos essa ação executada por outras pessoas”, disse Clayton.
A psicóloga ainda disse: “Como os dedos e polegares se movem ajuda a moldar a maneira como pensamos e as suposições que fazemos sobre o mundo – bem como o que os outros podem ver, lembrar e antecipar, com base em suas expectativas”.
Esta pesquisa foi publicada na revista Current Biology.