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IA aprimora dramaticamente a primeira imagem de um buraco negro

Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert

Este mês marca o aniversário de uma grande conquista na astrofísica.

Em 10 de abril de 2019, a colaboração do Telescópio do Horizonte de Eventos (EHT, na sigla em inglês) revelou a primeira imagem direta da sombra de um buraco negro. Agora,  cientistas usaram uma nova técnica de aprendizado de máquina para reprocessar os dados originais para revelar uma visão nova e mais nítida do material laranja ardente girando em torno de M87*.

Este novo visual nos dá uma visão mais detalhada do ambiente extremo em torno de um buraco negro, o que, por sua vez, melhorará as análises científicas.

“Com nossa nova técnica de aprendizado de máquina, PRIMO, conseguimos atingir a resolução máxima da matriz atual”, disse a astrofísica Lia Medeiros, do Instituto de Estudos Avançados e do EHT.

“Como não podemos estudar buracos negros de perto, os detalhes em uma imagem desempenham um papel crítico em nossa capacidade de entender seu comportamento. A largura do anel na imagem agora é menor em cerca de um fator de dois, o que será uma poderosa restrição para nossos modelos teóricos e testes de gravidade.”

A galáxia que hospeda M87*, Messier 87 (ou M87), está localizada a 55 milhões de anos-luz de distância. Ela foi escolhida como o primeiro alvo do EHT porque é relativamente próximo e porque, com 6,5 bilhões de vezes a massa do Sol, o buraco negro supermassivo em seu centro é grande e ativo o suficiente para que nossa tecnologia atual possa desvendá-lo.

Os buracos negros, obviamente, não podem ser vistos sozinhos; mas um buraco negro supermassivo ativo, ou um que esteja se alimentando ativamente de matéria, tem um disco quente e um toro de material ao seu redor que brilha. Mesmo assim, a geração de imagens M87* não foi uma tarefa fácil.

Foram necessários sete radiotelescópios em todo o mundo, combinando suas forças para criar o que é efetivamente um telescópio do tamanho da Terra, e quatro dias de tempo de observação para coletar os dados que eventualmente se tornaram a imagem agora familiar. Depois veio o processamento de dados, que era extremamente trabalhoso.

No entanto, embora inovadora e eficaz, a técnica de combinar os sete telescópios – conhecida como interferometria – não é perfeita. Existem lacunas nos dados, porque os telescópios não são realmente um grande receptor do tamanho da Terra – eles estão fisicamente separados. Então, Medeiros e seus colegas desenvolveram um algoritmo de aprendizado de máquina chamado de Modelagem Interferométrica de Componentes Principais (PRIMO, na sigla em inglês) para preencher essas lacunas.

“PRIMO é uma nova abordagem para a difícil tarefa de construir imagens a partir de observações do EHT”, explicou o astrônomo Tod Lauer do NOIRLab da National Science Foundation. “Ele fornece uma maneira de compensar a falta de informações sobre o objeto observado, o que é necessário para gerar a imagem que teria sido vista usando um único radiotelescópio gigantesco do tamanho da Terra”.

O PRIMO depende de algo chamado aprendizado de dicionário, no qual um algoritmo é treinado ao receber milhares de exemplos de uma coisa para aprender as regras de como essa coisa funciona. Os pesquisadores treinaram o PRIMO com mais de 30.000 imagens simuladas de buracos negros ativos para que ele pudesse aprender como o processo funciona e procurar padrões.

Então, o PRIMO produziu o que os pesquisadores dizem ser uma imagem altamente precisa do M87*, na resolução máxima atualmente possível. Ele revela a estrutura que faltava na imagem original e é consistente com os quatro dias de dados coletados em 2017 – cerca de 5 petabytes – e com as previsões teóricas.

Essa nova imagem permitiu que a equipe fizesse medições mais detalhadas do M87* do que era possível anteriormente e realizasse testes mais rigorosos do regime gravitacional ao seu redor. No futuro, o algoritmo pode ser aplicado a outras imagens, incluindo a de Sagitário A*, o buraco negro supermassivo no coração da Via Láctea que foi revelado no ano passado.

“A imagem de 2019 foi só o começo”, disse Medeiros. “Se uma imagem vale mais que mil palavras, os dados subjacentes a essa imagem têm muito mais histórias para contar. O PRIMO continuará a ser uma ferramenta crítica na extração de tais pesrpectivas.”

A pesquisa foi publicada no The Astrophysical Journal Letters.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.