Traduzido por Julio Batista
Original de Tom Metcalfe para a Live Science
Ao juntar fragmentos de um crânio antigo, cientistas reconstruíram o rosto assustador de uma criatura “com corpo de girino” semelhante a um crocodilo de 330 milhões de anos, revelando não apenas sua aparência, mas também como pode ter vivido.
Os cientistas sabem sobre a espécie extinta, Crassigyrinus scoticus, há uma década. Mas como todos os fósseis conhecidos do carnívoro primitivo foram severamente esmagados, tem sido difícil descobrir mais sobre ele. Agora, os avanços na tomografia computadorizada (TC) e na visualização 3D permitiram que os pesquisadores reunissem digitalmente os fragmentos pela primeira vez, revelando mais detalhes sobre o monstro antigo.
Uma pesquisa mostrou que o C. scoticus era um tetrápode, um animal de quatro membros aparentado com as primeiras criaturas a fazer a transição da água para a terra. Tetrápodes começaram a aparecer na Terra por volta de 400 milhões anos atrás, quando os primeiros começaram a evoluir de peixes com nadadeiras lobadas.
Ao contrário de seus parentes, no entanto, estudos anteriores descobriram que C. scoticus era um animal aquático. Isso ocorre porque seus ancestrais voltaram da terra para a água ou porque nunca foram para a terra em primeiro lugar. Em vez disso, vivia em pântanos carboníferos – pântanos que ao longo de milhões de anos se transformariam em depósitos de carvão – no que hoje é a Escócia e partes da América do Norte.
A nova pesquisa, realizada por cientistas do Colégio Universitário de Londres, mostra que o animal tinha dentes enormes e mandíbulas poderosas. Embora seu nome signifique “girino encorpado”, o estudo mostra que C. scoticus tinha um corpo relativamente plano e membros muito curtos, semelhantes a um crocodilo ou jacaré.
“Em vida, Crassigyrinus teria cerca de dois a três metros de comprimento, o que era bastante grande para a época”, disse a principal autora do estudo, Laura Porro, professora de biologia celular e do desenvolvimento no Colégio Universitário de Londres, em um comunicado. “Ele provavelmente teria se comportado de maneira semelhante aos crocodilos modernos, espreitando abaixo da superfície da água e usando sua poderosa mordida para agarrar a presa”.
C. scoticus também foi adaptado para caçar presas em terrenos pantanosos. A nova reconstrução facial mostra que ele tinha olhos grandes para enxergar em águas barrentas, além de buracos lineares laterais com um sistema sensorial que permite aos animais detectar vibrações na água.
Embora se saiba muito mais sobre C. scoticus, os cientistas ainda estão intrigados com uma lacuna perto da frente do focinho do animal. Segundo Porro, a lacuna pode indicar que o C. scoticus tinha outros sentidos para ajudá-lo a caçar. Pode ter tido um chamado órgão rostral que ajudou a criatura a detectar campos elétricos, disse Porro. Alternativamente, C. scoticus pode ter um órgão de Jacobson, que é encontrado em animais como cobras e ajuda a detectar diferentes compostos químicos.
Em estudos anteriores, disse Porro, os cientistas reconstruíram o C. scoticus com um crânio muito grande, semelhante ao de uma moreia. “No entanto, quando tentei imitar essa forma com a superfície digital das tomografias, simplesmente não funcionou”, explicou Porro. “Não havia chance de um animal com um palato tão largo e um teto craniano tão estreito ter uma cabeça assim.”
A nova pesquisa, publicada em 2 de maio no Journal of Vertebrate Palaeontology, mostra que o animal teria um crânio semelhante ao de um crocodilo moderno. Para reconstruir a aparência do animal, a equipe usou tomografias computadorizadas de quatro espécimes separados e juntou os fósseis quebrados para revelar seu rosto.
“Uma vez que identificamos todos os ossos, era como um quebra-cabeça 3D”, disse Porro. “Normalmente começo com os restos da caixa craniana, porque será o núcleo do crânio, e depois monto o palato em torno dele.”
A equipe agora planeja realizar simulações biomecânicas para testar suas ideias sobre C. scoticus e suas capacidades.