Por David Nield
Publicado no ScienceAlert
Existem várias maneiras pelas quais os cientistas podem descobrir o que está acontecendo abaixo da superfície da Terra – como medir ondas sísmicas enquanto viajam no subsolo – mas talvez nada supere um buraco muito, muito, muito profundo.
De acordo com a agência de notícias estatal chinesa Xinhua, um trabalho está em andamento para cavar um poço de 11.100 metros no deserto de Taklamakan, no noroeste da China. Isso é o equivalente a mais de 33 Torres Eiffel, empilhadas umas sobre as outras.
Isso não é exatamente o mais profundo que os humanos já foram. A nova escavação não superará o Poço superprofundo de Kola de 12.262 metros na Rússia (que agora está abandonado) ou o poço de petróleo BD-04A de 12.290 metros no campo de petróleo Al Shaheen em Catar – mas está chegando perto.
Cientistas chineses esperam que o buraco melhore significativamente nossa compreensão da geologia profunda da Terra, enquanto buscas por reservas de petróleo e gás também serão realizadas à medida que a perfuração for para profundidades cada vez mais baixas.
A China não revelou muito mais sobre os detalhes do poço, ou os tipos de experimentos e análises que resultarão quando estiver concluído, mas a perfuração pode ajudar a verificar o que achamos que sabemos sobre a crosta terrestre. A crosta continental desce a profundidades médias de cerca de 30 quilômetros (mais de 18 milhas), então esse buraco não atingirá o manto.
É um enorme empreendimento técnico, como você pode imaginar. O buraco levará mais de um ano para ser concluído, e cerca de 2.000 toneladas de equipamentos e instrumentos – incluindo brocas e tubos de perfuração – foram trazidos para o trabalho.
Para ter uma ideia de como pode ser difícil perfurar nessas profundidades, observe o Poço superprofundo de Kola. As obras deste projeto iniciaram-se em Maio de 1970 e prolongaram-se até 1994, tendo sido escavados no total cinco furos devido a falhas mecânicas e avarias.
No entanto, provou ser muito útil: os cientistas encontraram água e hidrogênio em quantidades e em profundidades que não esperavam. Outra descoberta interessante foi a presença de fósseis microscópicos de plâncton a cerca de 6.000 metros abaixo da superfície.
“A dificuldade de construção do projeto de perfuração pode ser comparada a um grande caminhão dirigindo entre dois cabos de aço finos”, disse à Xinhua o cientista Sun Jinsheng, da Academia Chinesa de Engenharia.
O equipamento usado para criar o furo terá que suportar temperaturas de até 200 graus Celsius e pressão atmosférica cerca de 1.300 vezes maior do que na superfície.
Quando estiver concluído, em 450 dias (aproximadamente), o novo buraco na China passará por 10 estratos continentais – as camadas de rochas sedimentares que se estendem por continentes inteiros – até o Sistema Cretáceo, formado há 145 milhões de anos atrás.