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Cientistas criam embriões humanos sintéticos pela primeira vez

sinteticos

Por David Nield
Publicado no ScienceAlert

Em uma grande inovação científica, modelos sintéticos de embriões humanos foram desenvolvidos em laboratório, sem qualquer necessidade dos ingredientes naturais usuais de óvulos e espermatozoides.

A pesquisa – primeiro trazida à atenção pelo The Guardian – gerou entusiasmo sobre o potencial de novos avanços na saúde, genética e tratamento de doenças. Mas também levantou sérias questões éticas.

As estruturas do embrião foram produzidas a partir de células-tronco cultivadas a partir de um embrião tradicional em laboratório. As células-tronco podem ser programadas para se desenvolver em qualquer outro tipo de célula – que é como elas são usadas no corpo para crescimento e reparo.

Aqui, as células-tronco foram cuidadosamente induzidas a se tornar células precursoras que eventualmente se tornariam o saco vitelino, a placenta e, em seguida, o próprio embrião.

Um artigo sobre o avanço ainda não foi publicado, então ainda estamos esperando os detalhes de como exatamente isso foi alcançado.

O trabalho foi liderado pela bióloga Magdalena Żernicka-Goetz, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, juntamente com colegas do Reino Unido e dos Estados Unidos. No ano passado, uma equipe liderada por Zernicka-Goetz conseguiu cultivar com sucesso embriões sintéticos de camundongos com cérebros e corações primitivos.

Devemos ressaltar que ainda estamos muito longe de criar bebês artificialmente. Estas são estruturas semelhantes a embriões, sem coração ou cérebro: são mais como modelos de embriões capazes de imitar algumas, mas não todas, as características de um embrião normal.

“É importante enfatizar que não são exatamente embriões sintéticos, mas modelos de embriões”, escreveu Zernicka-Goetz no Twitter. “Nossa pesquisa não é para criar vida, mas para salvá-la.”

Uma das maneiras pelas quais essa pesquisa pode salvar vidas é ajudar a examinar por que muitas gestações falham no estágio em que esses embriões artificiais se replicam. Se esses primeiros momentos puderem ser estudados em um laboratório, poderemos compreendê-los muito melhor.

Também poderíamos usar essas técnicas para aprender mais sobre como os distúrbios genéticos comuns se desenvolvem nos primeiros estágios da vida. Uma vez que haja um maior conhecimento sobre como eles começam, estaremos em melhor posição para fazer algo sobre eles.

Ao mesmo tempo, há preocupações sobre onde esse tipo de criação de embriões sintéticos pode levar. Os cientistas dizem que regulamentações fortes são necessárias para controlar esse tipo de pesquisa – regulamentações que realmente não existem no momento.

“Esses novos ensaios in vitro abrirão caminho para estudos futuros que visam desvendar os mecanismos do desenvolvimento humano, bem como os efeitos de anomalias ambientais e genéticas”, diz o biólogo Rodrigo Suarez, da Universidade de Queensland, na Austrália, que não esteve envolvido na pesquisa.

“Como acontece com a maioria das tecnologias emergentes, a sociedade precisará equilibrar as evidências sobre os riscos e benefícios dessa abordagem e atualizar a legislação atual adequadamente”.

Conforme apontado pela pesquisadora de bioética Rachel Ankeny, da Universidade de Adelaide, que não participou da pesquisa, hoje os cientistas obedecem a uma ‘regra dos 14 dias’ que limita o uso de embriões humanos no laboratório, exigindo que os embriões humanos possam ser cultivadas in vitro por no máximo 2 semanas.

Regras como esta, bem como novas que podem ser introduzidas à medida que esta pesquisa continua, nos forçam a fazer perguntas fundamentais sobre quando consideramos que a ‘vida’ começa na existência de um organismo – e o quão próximo de um embrião humano um embrião sintético deve estar antes de ser considerado essencialmente o mesmo.

“Precisamos envolver vários públicos sobre sua compreensão e expectativas com relação a esse tipo de pesquisa e, de maneira mais geral, sobre seus pontos de vista sobre o desenvolvimento humano inicial”, diz Ankeny.

“Esses processos biológicos estão profundamente ligados aos nossos valores e ao que pensamos que conta como vida humana”.

A pesquisa ainda não foi revisada por pares ou publicada, mas foi apresentada na reunião anual da International Society for Stem Cell Research.

Brendon Gonçalves

Brendon Gonçalves

Sou um nerd racionalista, e portanto, bastante curioso com o que a Ciência e a Filosofia nos ensinam sobre o Universo Natural... Como um autodidata e livre pensador responsável, busco sempre as melhores fontes de conhecimento, o ceticismo científico é meu guia em questões epistemológicas... Entusiasta da tecnologia e apreciador do gênero sci-fi na arte, considero que até mesmo as obras de ficção podem ser enriquecidas através das premissas e conhecimentos filosóficos, científicos e técnicos diversos... Vida Longa e Próspera!