Embora já não faltem ameaças e perigos causados pelas mudanças climáticas, temos mais uma a acrescentar à lista: o clima mais quente aumenta a probabilidade de picadas de cobras venenosas , de acordo com um novo estudo.
O estudo foi realizado na Geórgia, nos Estados Unidos, um estado que abriga 17 espécies de cobras venenosas, embora apenas sete delas sejam uma preocupação comum para os humanos. A análise do estudo mostra que cada grau Celsius de aumento na temperatura leva a um aumento de quase 6% nas picadas de cobra, em média.
Sabe-se que as cobras reagem às mudanças sazonais do clima, entrando em um estado de hibernação conhecido como brumação no inverno, então esses resultados talvez sejam esperados – e eles também correspondem às descobertas de estudos anteriores.
Incidentes de picada de cobra foram mapeados em todo o estado da Geórgia. (Landry et al., GeoHealth, 2023)
No entanto, os pesquisadores não se aprofundaram muito nas razões dessa associação. Pode ser que algo a ver com o clima mais quente e a atividade humana esteja contribuindo para o aumento, assim como a biologia das cobras.
“Não sabemos muito sobre como o clima – ou seja, mudanças de curto prazo na meteorologia – impulsionam as interações homem-cobra, em parte porque muitas picadas de cobra perigosas ocorrem em locais que carecem de bons dados sobre as causas de morbidade e mortalidade”, diz Health e o cientista ambiental Noah Scovronick, da Emory University, na Geórgia.
“Podemos aprender muito sobre os padrões de mordida de cobra, mesmo com dados bastante modestos e usando métodos epidemiológicos estabelecidos. Este estudo demonstra isso.”
Scovronick e o restante da equipe analisaram 3.908 visitas hospitalares relacionadas a picadas de cobras venenosas, abrangendo 2014 a 2020. Essas internações foram cruzadas com o clima de cada dia, incluindo detalhes como temperatura e precipitação.
Enquanto os verões mostraram o maior número de picadas de cobra no total, na verdade foram as primaveras que tiveram a associação mais forte entre temperatura e picadas de cobra. É possível que as temperaturas mais altas do verão tornem as cobras mais lentas, de acordo com os pesquisadores.
O estudo não tentou prever como o aumento futuro da temperatura pode afetar o risco de mordida de cobra, mas a expansão das áreas urbanas já está tornando mais provável que esses répteis se cruzem com seres humanos.
As picadas de cobra totalizam mais de 5 milhões anualmente, estima a Organização Mundial da Saúde, e são responsáveis por até 138.000 mortes todos os anos. O veneno de uma cobra pode causar inúmeros problemas de saúde, amputações e outras deficiências permanentes.
“O fator chave para reduzir encontros negativos é a educação”, diz o herpetologista Lawrence Wilson, da Emory University. “Deixe as pessoas saberem quais habitats as cobras preferem, como lugares com cobertura de solo densa, e elas podem desconfiar de tais habitats.”
“Cobras e pessoas podem viver de forma compatível, mesmo cobras venenosas, desde que respeitemos e entendamos seus habitats e necessidades”.
A pesquisa foi publicada na GeoHealth.
Por David Nield
Publicado no ScienceAlert
