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Até mesmo pessoas saudáveis ​​podem ser enganadas e ouvir vozes que não existem

Até mesmo pessoas saudáveis ​​podem ser enganadas e ouvir vozes que não existem

Poderíamos associar automaticamente ouvir vozes a condições neurológicas como a esquizofrenia. Acontece agora que a maioria dos cérebros pode ser enganada para ouvir vozes que não existem, dadas as condições certas.

Pesquisadores da École Polytechnique Fédérale de Lausanne (EPFL) na Suíça e da Universidade Savoie Mont Blanc na França queriam investigar como as alucinações auditivo-verbais (AVH) podem ser desencadeadas na mente: é onde ouvimos uma voz, mas não há alto-falante presente.

Estudos anteriores sugerem que estas alucinações são causadas por uma incapacidade de distinguir corretamente o eu do seu ambiente, ou por crenças fortemente arraigadas, ou suposições anteriores que superam o que quer que esteja realmente a acontecer num ambiente. A equipe queria testar ambas as hipóteses.

“Aqui, desenvolvemos um novo método de indução de AVH em um ambiente de laboratório controlado, integrando métodos de percepção de voz com estimulação sensório-motora, permitindo-nos investigar a contribuição de ambos os principais relatos de AVH”, escrevem os pesquisadores em seu artigo publicado.

Ao ouvir um ruído rosa estático, os voluntários apertaram um botão que acionou suas costas após um atraso aleatório. (Orepic et al., 2023)

A equipe adaptou uma técnica que já havia usado antes: quando os participantes apertavam um botão na frente deles, um braço robótico os cutucava nas costas. Neste novo experimento envolvendo 48 participantes, o atraso do puxão foi variável, e os voluntários usaram fones de ouvido tocando uma mistura de “ruído rosa” semelhante a uma cachoeira e, ocasionalmente, trechos de vozes – suas próprias e de outras pessoas.

Tal como acontece com o teste de botão anterior, os participantes relataram sentir uma presença atrás deles por causa da cutucada – mas alguns deles também relataram ouvir vozes que não estavam lá através dos fones de ouvido.

O fenômeno de ouvir vozes era mais comum se os voluntários ouvissem a voz de outra pessoa antes da sua própria e se houvesse um intervalo entre o apertar do botão e o toque do braço. Era como se os envolvidos no teste inventassem uma voz para acompanhar a sensação de ter alguém atrás deles.

Estes resultados, pensam os pesquisadores, são suficientes para sugerir que ambas as teorias desencadeadoras de alucinações estão corretas: os participantes não conseguiam monitorar corretamente o que os rodeava e estavam sendo influenciados por fortes crenças sobre o que se passava à sua volta.

Notavelmente, a frequência das vozes alucinadas aumentou com a duração dos testes, de modo que os participantes eram mais propensos a ouvir os sons fantasmas no final da sessão experimental.

Em última análise, saber como estas alucinações podem ser desencadeadas é importante para compreender como se relacionam com condições como a doença de Parkinson. É também uma indicação de que, se você ouvir uma voz em sua cabeça, pode não ser motivo imediato de alarme (embora, se estiver preocupado, seja melhor consultar um médico).

“Além da novidade e do importante impacto metodológico, esses resultados lançam uma nova luz sobre a fenomenologia da AVH, fornecendo suporte experimental para relatos proeminentes, embora aparentemente opostos – retratando a AVH como um híbrido entre déficits no automonitoramento e antecedentes hiperprecisos”, escrevem os pesquisadores.

 

Traduzido por Mateus Lynniker de ScienceAlert

Mateus Lynniker

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