A perda de um animal de estimação querido é um acontecimento doloroso e, embora inevitável, em breve poderá haver uma maneira de retardar esse luto entre os donos de cães, pelo menos por um tempo.
Está atualmente em desenvolvimento um novo medicamento que poderá um dia prolongar a vida útil de algumas raças caninas de grande porte.
O medicamento foi desenvolvido pela empresa de biotecnologia veterinária Loyal for Dogs e, embora ainda precise passar por testes clínicos, funcionários da Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos disseram em uma carta à empresa que seus dados iniciais são “suficiente” para mostrar “uma expectativa razoável de eficácia”, de acordo com uma cópia da carta fornecida ao The New York Times.
“Hoje, estou muito orgulhoso de anunciar que Loyal conquistou o que acreditamos ser a primeira aceitação formal da FDA de que um medicamento pode ser desenvolvido e aprovado para prolongar a vida útil”, escreve a fundadora e CEO da Loyal, Celine Halioua, em um comunicado à imprensa em 28 de novembro.
“No jargão regulatório, concluímos a parte de eficácia técnica de nosso pedido de aprovação condicional para o uso do LOY-001 na extensão da vida útil de cães de grande porte.”
LOY-001 é o nome da primeira versão do medicamento, direcionado a cães com 7 anos ou mais e com peso mínimo de 18 quilos. É apresentado na forma de uma injeção que pode ser administrada a cães a cada três a seis meses por veterinários.
Ao mesmo tempo, os cientistas da Loyal também estão trabalhando em duas outras versões, chamadas LOY-002 e LOY-003, que seriam tomadas em comprimidos diários. LOY-003 foi projetado para todos os cães mais velhos, exceto as raças menores.
Todas as versões da droga funcionam limitando o poder de um hormônio relacionado ao crescimento, chamado fator de crescimento da insulina-1 (IGF-1), que além de contribuir para o crescimento está ligado ao envelhecimento e à longevidade em animais como lombrigas, moscas-da-fruta, e ratos.
Não está claro se essas associações também se estendem aos cães, mas há razões para suspeitar que níveis elevados de IGF-1 podem acelerar o envelhecimento em caninos.
Em comparação com cães menores, como os chihuahuas – que vivem em média entre 14 e 16 anos – cães maiores, como os Pastores Alemães, vivem apenas entre 7 e 10 anos.
Raças de cães maiores também tendem a apresentar níveis altamente elevados de IGF-1 – até 28 vezes mais altos que cães menores. Nos caninos, esse hormônio impulsiona o crescimento celular e é parte do que permite que raças de cães maiores cresçam tanto.
Mas em idades mais avançadas, esse hormônio pode ter sérias desvantagens. Embora nenhum hormônio seja provavelmente responsável por todos os processos de envelhecimento, este é um dos caminhos mais bem estudados em modelos animais e um caminho que vale a pena explorar mais.
Um estudo observacional não publicado da Loyal, que analisou a saúde de mais de 450 cães de grande porte, descobriu que caninos com níveis mais baixos de insulina apresentavam fragilidade reduzida e maior qualidade de vida.
Depois de ver esses resultados e ler mais de 2.300 páginas de informações técnicas da Loyal, funcionários do FDA confirmaram o potencial do LOY-001 para prolongar a vida útil dos cães.
Agora que têm uma prova de conceito validada, Halioua e sua equipe esperam receber aprovação condicional para LOY-001 até 2026. Esta é uma autorização acelerada da FDA que tornaria o medicamento disponível no mercado mesmo enquanto as evidências ainda estão sendo coletadas provenientes de ensaios clínicos.
Halioua disse ao The New York Times que ela e sua equipe pretendem prolongar a vida útil dos cães em ensaios clínicos em pelo menos um ano.
Resta saber se a empresa conseguirá alcançar esse resultado.
“Se for verdade que prolonga a vida útil, só estou interessado se o período de vida prolongado for de boa qualidade”, disse Kate Creevy, veterinária-chefe do Dog Aging Project, ao The New York Times. .
“Não quero fazer meu cachorro viver mais dois anos com a saúde debilitada.”
Especialistas do Dog Aging Project também estão trabalhando em um medicamento que pode prolongar a vida dos caninos, chamado rapamicina, que mostra efeitos antienvelhecimento em moscas, vermes e roedores.
A rapamicina atua bloqueando uma molécula chamada mTOR, que regula a proliferação e a morte celular. É um alvo importante na pesquisa de drogas no momento.
Os cientistas não estão interessados apenas em testar esses tipos de drogas para o bem dos cães. Tais vias também poderiam ser relevantes para a saúde humana.
Até o momento, o FDA ainda não aprovou nenhum medicamento para longevidade para animais ou humanos. Embora alguns especialistas estejam preocupados com o fato de que adicionar anos à vida dos cães pode não ser do interesse de nossos animais de estimação, outros argumentam que, como criamos cães para terem uma expectativa de vida mais curta, devemos aos nossos animais de estimação tentar melhorar sua saúde e prolongar suas vidas de qualquer maneira que pudermos.
Traduzido por Mateus Lynniker de ScienceAlert