Artefatos realmente antigos são sempre fascinantes, agindo quase como máquinas do tempo, na medida em que nos permitem perscrutar centenas ou mesmo milhares de anos de história – e os arqueólogos acabam de descobrir no Wyoming, um ‘cilindro’ em forma de tubo que se pensa ter cerca de 12.940 anos.
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O ‘cilindro’ é o mais antigo já encontrado no hemisfério ocidental: tem apenas 7 milímetros de comprimento e 2,9 mm de diâmetro. Segundo a equipe que o identificou, ele tem muito a nos contar sobre a ornamentação pessoal na cultura Clovis, ativa por volta de 11.500-10.800 a.C.
Após análise cuidadosa, a conclusão é que o cilindro usado como miçanga é feito do osso metapodial ou da falange proximal de uma lebre, retrocedendo o período em que o uso de ossos de lebre teve esse fim decorativo.
“Embora a utilização de osso de lebre para o fabrico de miçangas fosse uma prática comum no oeste da América do Norte durante o Holoceno, as suas origens podem agora ser rastreadas pelo menos até ao Pleistoceno terminal”, escrevem os investigadores no seu artigo publicado.
A análise envolveu um tipo de espectrometria de massa conhecida como ZooMS, onde a composição molecular de um material é revelada desencadeando uma série de reações químicas. Neste caso, os pesquisadores conseguiram medir a proteína de colágeno do osso.
Embora a possibilidade de o osso ter sido simplesmente deixado para trás depois que a lebre foi comida ou apodreceu, parece improvável: as pontas são alisadas e polidas, enquanto há sulcos marcados nas laterais. A miçanga também foi encontrada entre outros artefatos culturais.
Além desta miçanga de osso, o resto do sítio arqueológico também é intrigante. É um acampamento baseado no local de um mamute colombiano morto ou eliminado, com diversas áreas de atividades centradas em lareiras. Pensa-se que as pessoas teriam vivido aqui por um longo período de tempo.
Estamos a falar das primeiras pessoas a povoar esta parte do mundo, há muitos milênios, e o trabalho continua neste e noutros locais para descobrir mais sobre como as sociedades Clovis viviam e funcionavam.
E a descoberta do osso pode dizer aos especialistas mais do que se imagina, dado o seu tamanho minúsculo – oferece dicas sobre caça, hierarquia, decoração pessoal e até padrões de migração, através de uma comparação de miçangas semelhantes de diferentes lugares e épocas.
“Hesitamos em nos envolver em extensas especulações sobre a importância do uso de miçangas durante a época da cultura Clóvis, exceto para reiterar que miçangas e outros ornamentos pessoais e modificações corporais são mais comumente usados para sinalizar aspectos de identidade para outras pessoas”, escrevem os pesquisadores.
A pesquisa foi publicada em Scientific Reports.
Publicado no ScienceAlert