Por Mike Wall
Publicado na Live Science
Uma das mais impressionantes descobertas recentes da astrofísica pode ser apenas uma miragem.
Em Março, uma equipe de cientistas anunciaram que haviam encontrado evidência das ondas gravitacionais primordiais, hipotéticas ondulações no espaço-tempo cuja existência pode sugerir que o Universo se expandiu muitas vezes mais rápido que a velocidade da luz nos primeiros instantes após o Big Bang, como postulada pela teoria da inflação da inflação cósmica.
Mas outros pesquisadores logo levantaram questões sobre a descoberta, que foi feita usando o telescópio BICEP2, na Antártica. O suposto sinal de onda gravitacional, dizem os céticos, pode na verdade ser um contaminante, o resultado de poeira e gás dentro de nossa própria galáxia, a Via Láctea.
A equipe do BICEP2 viu um padrão de polarização de “tipo B” na radiação cósmica de fundo em micro-ondas, a “luz” antiga deixada pelo Big Bang há 13,8 bilhões de anos. Ampla aceitação da suposta descoberta só virá quando outros instrumentos também a detectarem – em particular, o Satélite Planck da Agência Espacial Europeia, que mapeou todo o Fundo de Radiação Cósmica em detalhes de 2009 até 2013.
A equipe do Planck seguiu os resultados do BICEP2, analizando dados da mesma área do céu em uma variedade de frequências desde os 30GHz até os 857 (o BICEP2 olhou apenas em uma frequência, 150GHz), e as novidades não são boas para o pessoal do BICEP2.
“Infelizmente, de acordo com a nossa análise, o efeito de contaminantes e em particular de gases presentes em nossa galáxia não pode ser descartado”, disse o co-autor Carlo Baccigalupi da Escola Internacional de Estudos Avançados em Trieste, Itália.
Por outro lado, o novo estudo também não descarta a possibilidade do BICEP2 realmente ter captado a assinatura das ondas gravitacionais primordiais. De fato, os cientistas do Planck estão trabalhando com a equipe da descoberta para ver se esse é o caso.
“Nós começamos uma colaboração com o BICEP2. Nós estamos diretamente comparando os nossos dados com os deles, na mesma frequência, 150GHz, e tentando explorar a imagem de contaminantes que conseguimos com o Planck em outras frequências” disse Baccigalupi “Dessa forma, esperamos poder dar uma resposta definitiva. Na verdade, nós talvez descobriremos que realmente foi uma contaminação, mas, tendo em conta que estamos otimistas, nós talvez possamos excluir essa possibilidade com confiança”.
Se a descoberta for confirmada, Baccigalupi acrescentou, ela “abriria uma nova janela para cenários desconhecidos e estudos do universo primordial e física de energia-muito-alta”.
O novo estudo da equipe do Planck será publicado amanhã (29/09) na revista Astronomy & Astrophysics. Você pode ler uma prévia aqui.