Não encontramos a história da civilização e da evolução divina do planeta Terra apenas em meios físicos e materiais, mas podemos também visualizá-la por meios naturais exibidos pela Natureza.
Quando me refiro a meios naturais, foi exatamente à Natureza e a sua incrível capacidade de deixar pequenos ‘farelos’ do que um dia a Terra fora… e um excepcional cientista do século XVIII e XIX, acabou observando atentamente tais detalhes, levando à elaboração e criação de uma das maiores áreas da Geologia atualmente: a Estratigrafia. Conheça William Smith, e sua contribuição para esta ciência.
Imagine-se na segunda metade do século XVIII, onde o Iluminismo ainda existia, e é claro, a Revolução Industrial se consolidava na Inglaterra. Novas técnicas de produção de ferro e aço – fora o desenvolvimento do motor a vapor – acabaram permitindo uma expansão no âmbito da construção civil, principalmente dedicadas às construções de incríveis estruturas metálicas. O carvão extraído das minas era a principal base da Revolução Industrial, cujo material alimentava as grandes máquinas a vapor, que aquecia as lareiras das casas (cujo número estava aumentando proporcionalmente).
A demanda de carvão crescia, e com isso as indústrias precisavam de um amplo transporte deste mineral pelo território inglês, levando assim à construção de um vasto canal de rios pelo país. Durante os anos seguintes da década de 1760, fora inaugurado uma grande quantidade de obras do gênero; tudo uma grande parte de um ciclo vicioso do comércio, pulsante na economia britânica.
Através deste mundo de dinheiro e capitalismo, poucos ali imaginavam que desta ‘tais’ obras, viria a surgir uma das observações mais importantes e até atualmente usada e estudada no meio geológico.
O “pai” da Estratigrafia
William Smith, nascera em Oxfordshire, como um simples camponês. Ao completar seus 18 anos de idade, em 1787, era estudante de um agrimensor. Como naquela época – e como dito anteriormente -, a grande demanda por matérias primas estava em alta, havendo então uma grande dependência de mão de obra, no caso, para Smith. Fora trabalhar nos campos de carvão de Somerset e na construção do canal fluvial de Somerset Coal Seu trabalho era simples: exigia observações minuciosas do caráter e da ordem das camadas de rochas em escala regional.
Durante o trabalho na mina de carvão, Smith acabara percebendo que as rochas estavam distribuídas em camadas ou estratos distintos. Porém, ele já sabia de que este comportamento de deposição das camadas de rochas na posição horizontal já havia sido estabelecido um século antes, pelo bispo dinamarquês Nicolau Steno. Mas, Smith percebeu que ‘tal’ comportamento de deposição se estendia-se de forma contínua e que os diferentes estratos de rochas poderiam ser identificados de um certo modo; mesmo estes apresentarem quilômetros de extensão em toda a Grã-Bretanha.
“E como William Smith percebera isto? Qual seria o modo de identificação?”. Simples… FÓSSEIS!
Fósseis: os marcadores-naturais dos estratos
Durante seu trabalho nas minas e nas construções de canais pela Inglaterra, Smith se baseou na constatação de que as rochas que estavam expostas nos canais em construção, nas montanhas, nos vales e a fins, poderiam ser ordenadas, diferenciadas e identificadas através de características básicas presentes nas próprias rochas… e é claro, a ordem e presença dos fósseis nestas.
Baseando-se nesta sua interpretação, ele conseguiu acompanhar o posicionamento, distribuição e inferir relativamente as idades das rochas e estratos daquela região, com a ajuda dos fósseis e das características presentes nas ‘camadas de terra’. Embora um estrato acabe se inclinando, se dobrando, ou afunde quase para se desaparecer, os fósseis estariam ali prontos para serem utilizados como um “ticket ou sinalizador” das rochas, onde quer que estivessem e até aonde elas se distribuíam ou se estendiam – saberiam seu nome… junto com sua idade e características.
Veja bem, tal método elaborado por Smith (e expresso acima), também serviu e serve até hoje como uma forma de Datação Relativa das Rochas, onde a utilização de fósseis permite estabelecer uma relação de idade entre ambos estratos e camadas. William chamara isto de “princípio da sucessão faunística”).
O mapeamento estratigráfico
Após longos anos coletando informações das rochas britânicas, Smith publicara em 1815, o que viria a ser o primeiro mapa estratigráfico “que mudou o mundo”, como muitos disseram. O mapa em si, consolidado com as técnicas de mapeamento geológico da época, introduzindo sua forma de analisar e diferenciar as rochas utilizando fósseis para datar e correlacionar as rochas em uma escala regional.
William Smith utilizou cores chamativas para diferenciar e representar unidades rochosas por toda a Grã-Bretanha. Tal trabalho serviu como modelo para os mapas geológicos subsequentes.
Atualmente, o mapa está pendurado na parede da Geological Society, em Piccadilly, Londres.
O legado de William Smith
Antes de morrer, este grande homem obteve seu grande e merecido reconhecimento pela sociedade geológica; atualmente conhecido como o “pai da estratigrafia”, Smith contribuiu com a sua incrível capacidade de observar as sequências sedimentares, e nelas, identificar e correlacionar através dos fósseis, suas continuidades, suas identificações e principalmente reconhecer novos estratos sedimentares. Não é à toa que os britânicos o chamam por “pai de Geologia inglesa”, também.
Referências bibliográficas
Decifrando a Terra / organizadores Wilson Teixeira…[et. al] . — 2. ed. — São Paulo : Companhia Editorial Nacional, 2009. Pags: 288-291.
Uma História da Ciência / Michael Mosley e John Lynch. — 1. ed. — São Paulo: Editora Zahar, 2011.
Paleontologia: conceitos e métodos. volume 1/editor, Ismar de Souza Carvalho. — 3. ed. — Rio de Janeiro: Interciência, 2010. Pag: 97.