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A característica evolutiva que pode ter levado à fala humana

Traduzido por Julio Batista
Original de Will Sullivan para a Smithsonian Magazine

Um novo estudo sugere que a falta de certos músculos nos humanos pode nos dar a capacidade de controlar nossa fala.

Humanos e outros primatas fazem ruídos vocais usando a laringe, um tubo oco conectado à garganta que contém as cordas vocais e ajuda na respiração. No estudo, um grupo de cientistas examinou as laringes de 43 espécies de primatas não humanos. Todos eles tinham um conjunto de músculos chamados membranas vocais, localizados acima das cordas vocais, relatou Oliver Whang, do New York Times. Os humanos, por outro lado, não tinham.

Em um paper publicado na Science, os pesquisadores argumentam que essas membranas vocais tornam mais difícil para outros primatas controlar os ruídos que eles fazem. Isso sugere que, sem eles, os humanos foram capazes de desenvolver um controle vocal mais preciso, disse Tecumseh Fitch, um dos autores do paper e biólogo da Universidade de Viena, na Áustria, a Clare Wilson, da New Scientist.

Os cientistas já sabiam que alguns primatas têm membranas vocais, mas este foi o primeiro estudo em larga escala de laringes de primatas, segundo a New Scientist. Os pesquisadores estudaram uma ampla gama de espécies por meio de ressonância magnética (RM) e tomografia computadorizada (TC) de primatas mortos ou anestesiados.

“Ninguém fez uma avaliação sistemática como essa”, disse Asif Ghazanfar, psicólogo da Universidade de Princeton (EUA) que não esteve envolvido na pesquisa, ao Times. “Nós não tínhamos uma grande noção de quais primatas tinham [membranas vocais] e quais primatas não tinham. Nós meio que tínhamos um palpite, mas este estudo acertou em cheio.”

Para descobrir como as membranas vocais afetaram os sons falados, os pesquisadores anexaram laringes de três chimpanzés falecidos e seis macacos-rhesus que haviam sido sacrificados para outros experimentos em pulmões simulados, de acordo com o Times. Eles descobriram que as membranas vocais e as cordas vocais vibravam juntas. Modelos matemáticos e evidências em vídeo também apoiaram essa descoberta, segundo o Times.

Sem essas membranas, a fonte vocal dos humanos é mais estável, permitindo melhor controle de tom e produção de sons longos e de tons uniformes, relatou Will Dunham da Reuters. “Uma coisa fundamental que distingue a fala humana dos sons dos animais é nosso controle refinado sobre os sons que emitimos”, disse Richard Futrell, que estuda o processamento de linguagem em humanos na Universidade da Califórnia, Irvine (EUA), e não esteve envolvido no estudo à New Scientist. “Isso só é possível se nosso aparelho vocal for fácil de controlar pelo cérebro.”

No entanto, Adriano Lameira, psicólogo evolutivo da Universidade de Warwick, no Reino Unido, que não esteve envolvido com o paper, disse à New Scientist que “o suposto efeito limitante [das membranas vocais] na produção vocal dos primatas parece exagerado”. Ele ressalta que muitos símios e outros macacos podem fazer ruídos silenciosos e controlados.

Além disso, enquanto os autores levantam a hipótese de que a perda de membranas vocais desempenhou um papel no desenvolvimento da linguagem humana, alguns especialistas querem mais evidências. “Este estudo mostrou que modificações evolutivas na laringe eram necessárias para a evolução da linguagem falada”, disse Takeshi Nishimura, primatologista da Universidade de Kyoto no Japão e principal autor do paper, ao Times.

Mas Harold Gouzoules, um psicólogo da Universidade Emory (EUA) que escreveu um comentário sobre o paper, disse ao Times: “Pode ser um passo necessário na evolução da linguagem, mas ainda não se sabe se é absolutamente crítico”.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.