Pular para o conteúdo

A estátua de madeira mais antiga conhecida do mundo tem mais de 7 mil anos que o Stonehenge

Traduzido por Julio Batista
Original de Michelle Starr para o ScienceAlert

Quanto mais você volta no tempo, mais complicado se torna o registro arqueológico. Muitos materiais usados ​​pelos humanos – madeira, couro, tecido – simplesmente não duram tanto e são engolidos pela Terra com a marcha implacável do tempo. O Ídolo de Shigir, nesse contexto, é um verdadeiro tesouro.

Esta estátua figurativa de madeira com vários rostos semelhantes a máscaras foi esculpida há milhares de anos e preservada por milênios no ambiente ácido e antimicrobiano do pântano de turfa de Shigir nos Montes Urais da Rússia.

Agora, aprendemos que a estátua parece ser ainda mais velha do que pensávamos.

Divido em dez partes, o ídolo foi descoberto pela primeira vez em 1890 e considerado uma relíquia, uma escultura em forma de totem de uma época anterior. Seu verdadeiro significado só seria revelado um século depois. A datação por radiocarbono revelou na década de 1990 que o Ídolo de Shigir era muito mais antigo do que imaginávamos, situando-se em torno de 9.750 anos.

Os cientistas ficaram surpresos. Não apenas por causa da preservação espetacular do artefato – muitos especialistas achavam que o estilo de arte era sofisticado demais para as pessoas daquela época.

Então, em 2018, outra revelação bombástica. A datação inicial por radiocarbono foi realizada a partir de uma amostra do lado de fora do pedaço de madeira, que havia sido submetida às condições ambientais e esforços de preservação. Uma equipe de cientistas conduziu uma nova análise, usando uma amostra extraída do núcleo mais puro do artefato, e descobriu que ele tinha quase 11.600 anos.

Três membros da mesma equipe, os arqueólogos Thomas Terberger da Universidade de Göttingen na Alemanha, Mikhail Zhilin do Instituto de Arqueologia da Academia Russa de Ciências e Svetlana Savchenko do Museu Regional de Sverdlovsk na Rússia, agora reanalisaram vários resultados da datação por carbono. Eles descobriram que a estátua é ainda mais velha.

A madeira usada na escultura parece ter cerca de 12.250 anos. Como o Ídolo de Shigir foi feito do tronco de uma árvore de larício com 159 anéis de crescimento, isso sugere que a própria estátua foi esculpida há cerca de 12.100 anos – cerca de 500 anos antes do que a análise de 2018 mostrou.

Isso sugere que a escultura foi esculpida no final da Última Idade do Gelo e no início do Holoceno. (Para efeito de comparação, acredita-se que o Stonehenge tenha sido construído apenas 5.000 anos atrás.)

(Créditos: Terberger et al., Quat. Int., 2021)

“O ídolo foi esculpido durante uma era de grandes mudanças climáticas, quando as primeiras florestas se espalharam pela Eurásia entra a era glacial tardia e a pós-glacial”, disse Terberger ao The New York Times.

“A paisagem mudou, e a arte – desenhos figurativos e animais naturalistas pintados em cavernas e esculpidos na rocha – mudou também, talvez como uma forma de ajudar as pessoas a enfrentar os ambientes desafiadores que encontraram.”

Embora não possamos saber exatamente para que era usado o Ídolo de Shigir, sua própria existência sugere uma apreciação pela arte e pelo artesanato. As pessoas que o criaram parecem ter apreciado o simbolismo que, anteriormente, os especialistas pensaram emergir muito mais tarde.

A ausência de objetos que demonstrem esse nível de cultura e espiritualidade no registro arqueológico não pode ser tomada como evidência da falta de cultura, argumentam os pesquisadores. As pessoas que construíram o Ídolo de Shigir claramente tinham as habilidades para moldar e entalhar madeira; este artefato dificilmente teria sido o único objeto de seu tipo.

Na verdade, os entalhes geométricos na estátua correspondem a padrões semelhantes vistos em toda a Europa durante o mesmo período. Não é o Ídolo de Shigir em si, mas as circunstâncias de sua preservação, que são os ingredientes extraordinários em sua sobrevivência até o presente.

Os pesquisadores argumentam que a estátua sugere que os caçadores-coletores que povoaram os Urais durante o período mesolítico viveram vidas espirituais ricas e complexas e que muito poucos de seus objetos artísticos sobreviveram à devastação do tempo.

“Temos que aceitar que os caçadores-coletores tinham rituais complexos e eram capazes de expressões muito sofisticadas de ideias e arte”, disse Terberger ao The Guardian em 2018. “Essas coisas não começaram com os agricultores, começaram com os caçadores-coletores muito antes.”

Existem muitos pântanos de turfa espalhados pelos Urais, alguns dos quais também revelaram artefatos de madeira de milhares de anos atrás.

A maioria deles permanece inexplorada e as expedições de escavação são caras e demoradas. Quaisquer segredos em suas profundezas sombrias provavelmente permanecerão assim por algum tempo.

A pesquisa foi publicada no Quaternary International.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.