Pular para o conteúdo

A múmia de 3.000 anos de um famoso faraó egípcio foi desembrulhada digitalmente

Por Owen Jarus
Publicado na Live Science

A múmia do antigo faraó egípcio Amenófis I foi tão primorosamente embrulhada – decorada com guirlandas de flores e sepultada com uma máscara facial natural – que os cientistas hesitaram em abrir os restos mortais. Isto é, até agora.

Cerca de 3.000 anos após o sepultamento de Amenófis, uma equipe de pesquisadores usou tomografias computadorizadas para desembrulhar digitalmente seu corpo pela primeira vez, investigando-o digitalmente através das muitas camadas para revelar como ele seria quando vivo (ele parece o pai, pelo visto).

Eles também descobriram que o faraó, que governou de cerca de 1525 d.C. a 1504 d.C., tinha 35 anos e 169 centímetros de altura quando morreu; ele também foi circuncidado e tinha dentes bons, disseram os pesquisadores. Sob os invólucros estavam 30 amuletos, bem como “um cinto de ouro único com joias de ouro”, disse em um comunicado o coautor do estudo Sahar Saleem, professor de radiologia da faculdade de medicina da Universidade do Cairo.

Este cinto pode ter “um significado mágico”, e os amuletos “cada um tinha uma função de ajudar o rei falecido na vida após a morte”, disse Zahi Hawass, ex-ministro de Antiguidades do Egito e coautor do novo estudo publicado na terça-feira (dezembro 28) na revista Frontiers in Medicine, à Live Science em um e-mail.

“A múmia de Amenófis I está usando uma joia que se assemelhava a um cinto. Os antigos egípcios usavam joias como esta na cintura. Alguns cintos, como este, têm amuletos de concha nas laterais”, disse Saleem ao Live Science por e-mail.

Amenófis I, abril de 2006, Museu do Cairo, Egito. Créditos: Patrick Landmann / Getty Images.

Amenófis I

O Egito se expandiu no norte do Sudão durante o tempo em que Amenófis I reinou durante a 18ª dinastia. O faraó iniciou um programa de infraestrutura que previa a construção ou expansão de vários templos. Ninguém sabe como o faraó morreu ou onde foi enterrado originalmente.

Uma equipe liderada pelo egiptólogo francês Gaston Maspero encontrou a múmia de Amenófis em 1881, junto com várias outras múmias em uma tumba na margem oeste de Tebas (a cidade de Luxor dos dias modernos). Sua múmia foi colocada na tumba em algum momento durante a 21ª dinastia (por volta de 1070 a.C. a 945 a.C.), depois de ter sido roubada em tempos antigos.

Os pesquisadores descobriram que os ladrões danificaram o corpo do faraó. “As imagens de TC mostram a extensão do dano da múmia de Amenófis I que envolveu fraturas e decapitação do pescoço, um grande estrago na parede abdominal anterior e desarticulação das extremidades”, incluindo a mão e o pé direitos, escreveram Saleem e Hawass em um artigo presente no periódico.

Os pesquisadores descobriram que os sacerdotes haviam reparado a múmia colocando membros separados de volta em seu lugar, usando resina para ajudar a manter as partes da múmia juntas e embrulhando partes da múmia com ataduras novas.

“Nós mostramos que pelo menos para Amenófis I, os sacerdotes da 21ª dinastia repararam amorosamente os ferimentos infligidos pelos ladrões de tumbas, restauraram sua múmia à sua antiga glória e preservaram as magníficas joias e amuletos no lugar”, disse Saleem no comunicado.

O que matou o faraó não está claro. “Não encontramos feridas ou deformações causadas por doenças que justificassem a causa da morte”, disse Saleem no comunicado.

O crânio do Faraó mostrou que seus dentes estavam em boas condições no momento da morte. Créditos: S. Saleem / Z. Hawass.

As varreduras ajudam a esclarecer como o faraó se parecia quando estava vivo. “Amenófis I parece ter se parecido fisicamente com seu pai [Amósis I]: ele tinha um queixo estreito, nariz pequeno e delgado, cabelo encaracolado e dentes superiores ligeiramente protuberantes”, disse Saleem.

A maioria das múmias faraônicas foi desembrulhada fisicamente ou extensivamente estudada usando tomografias, disseram os pesquisadores, observando que Amenófis I foi uma das poucas múmias reais que não foram examinadas em detalhes.

“O fato da múmia de Amenófis I nunca ter sido desembrulhada nos tempos modernos nos deu uma oportunidade única: não apenas estudar como ele foi originalmente mumificado e sepultado, mas também como ele foi tratado e sepultado duas vezes, séculos após sua morte, por Sumos Sacerdotes de Ámon”, disse Saleem.

Crânio e esqueleto escolhido sob os invólucros. Créditos: S. Saleem / Z. Hawass.

A Live Science contatou estudiosos não envolvidos com a pesquisa. “É tudo muito interessante, mas não tenho certeza se há algo tão especial aqui”, disse Aidan Dodson, professor de egiptologia da Universidade de Bristol, no Reino Unido.

O cinto dourado “pode ​​não ter paralelos diretos, mas quase todas as outras múmias reais foram completamente roubadas, então isso não significa muito”, disse Dodson, observando que outras múmias reais podem ter usado cintos semelhantes que foram posteriormente roubados.

É possível que os sacerdotes da 21ª dinastia tenham colocado o cinto de ouro em Amenófis I, disse Kara Cooney, professora de egiptologia da UCLA.

Os sumos sacerdotes de Ámon, que efetivamente controlavam partes do Egito durante a 21ª dinastia, consideravam Amenófis I como um ancestral e podem ter mostrado sua afeição pelo faraó colocando este cinto nele, disse Cooney à Live Science por e-mail.

Cooney disse que discutirá mais este tópico em um livro chamado “Recycling for death” (Reciclagem para a morte, na tradução livre), que será publicado pela editora da American University em Cairo.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.