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A pena fossilizada mais antiga já encontrada é do dinossauro Archaeopteryx, confirma estudo

Por Carly Cassella
Publicado na ScienceAlert

O fóssil de uma pena mais antigo já encontrado está moldado nas rochas há cerca de 150 milhões de anos. Desde que foi descoberto, há mais de um século e meio, quase tudo sobre ele permaneceu incerto.

Os cientistas vêm tentando supor que se tratava de um dinossauro do Jurássico Superior há anos, e o debate atingiu sua mais recente onda de turbulência em 2019, quando uma equipe de pesquisadores argumentou que o fóssil não pertencia ao Archaeopteryx lithographica – famoso por ser ‘o primeiro pássaro’ conhecido – mas era de uma espécie completamente desconhecida e diferente.

Outros especialistas não têm tanta certeza disso. Uma nova pesquisa afirma que a pena isolada realmente tem o formato das penas de voo do Archaeopteryx. Além do mais, a pena foi encontrada no mesmo local com os fósseis de quatro esqueletos de Archaeopteryx.

A localização por si só sugere uma explicação melhor do que supor se tratar de irrefutavelmente uma nova espécie, argumenta o novo jornal; afinal, como diz o ditado da língua inglesa: aves da mesma plumagem voam juntas.

“A hipótese taxonômica alternativa do estudo [a de 2019] é de que se trata de um dinossauro hipotético não registrado, uma posição que contorna o ônus da prova e não pode ser falsificada”, explicam os pesquisadores.

Combinando a pena com vários espécimes de Archaeopteryx, alguns dos quais vêm do mesmo local com vários fósseis, o novo artigo argumenta que a pena antiga poderia, de fato, caber em uma asa do Archaeopteryx.

Tanto em tamanho quanto em forma, dizem eles, sua extensão se assemelha às principais penas coberteiras de voo (penas externas que ajudam a suavizar o fluxo de ar sobre as asas e cauda) de outros Archaeopteryx, que foram encontrados com evidências de penas em outros lugares.

Espécime do Rio Altmühl, na Alemanha, de Archaeopteryx, mostrando a superfície dorsal da asa direita, sobreposta com o contorno da pena fossilizada. Créditos: Carney et al., Nature, 2020.

“Há um debate nos últimos 159 anos se esta pena pertence ou não à mesma espécie dos esqueletos de Archaeopteryx, bem como o debate sobre de onde ela veio e qual era sua cor original no corpo”, disse Ryan Carney da Universidade do Sul da Flórida.

“Por meio de um trabalho de detetive científico que combinou novas técnicas de examinar fósseis com a literatura antiga que temos, fomos capazes de finalmente resolver esses mistérios centenários”.

Pesquisas anteriores supunham que a pena era provavelmente preta. Uma reanálise do padrão de corpos de pigmento capturados pelo fóssil reforçou essas interpretações, também observando que era improvável que fosse uma tonalidade muito iridescente ou brilhante.

Uma das partes mais controversas deste fóssil é a perda do bico da pena, ou linha central, que se dissolveu com o tempo desde de sua descoberta. No estudo publicado no ano passado, os pesquisadores argumentaram que a curvatura da pena era muito grande para ser de um Archaeopteryx.

O novo artigo argumenta que a curva das penas é altamente variável entre as espécies, especialmente na asa superior. Além disso, acrescentam os autores, a curva em formato de C que a última equipe supôs está incorreta.

Na figura abaixo, o novo estudo faz sobreposição desse formato em C com uma linha central “corrigida”, que os autores reconstruíram a partir do fóssil capturando uma imagem de fluorescência estimulada pelo laser.

“Esta nova linha central é substancialmente diferente da apresentada originalmente”, escrevem os autores.

“A correção desse erro… elimina completamente a suposto grande curvatura da linha central da pena fóssil, que agora está dentro da faixa das espécies modernas selecionadas”.

Figura modificada, incluindo uma gama mais representativa de morfologias de linhas centrais modernas. A imagem na esquerda servindo de comparação é a pena de uma pega (aves da família corvidae). Há comparações com a curvatura das penas do Maçarico-real (na imagem: Eurasian curlew), das aves Tinamiformes (na imagem: Tinamou), dos Grous (na imagem: Crane) e da gralha-calva (na imagem: Rook). A curvatura das penas do Archaeopteryx apontada pelo estudo está em azul. A curvatura “incorreta” está representada na linha vermelha. Créditos: Carney et al., Nature, 2020.

Claro, dificilmente será aqui que o debate terminará. Embora a maioria das novas pesquisas sobre esta pena afirme ter resolvido a questão, ao longo de 150 anos, continuamos aprendendo mais e mais sobre os fósseis de Archaeopteryx, incluindo as várias formas, cores e funções de suas penas.

Apesar dessa nova refutação, Michael Pittman, um dos autores do estudo de 2019, está mantendo firmemente suas posições sobre as descobertas.

O paleontólogo de vertebrados disse ao The New York Times que, embora esta pena fóssil possa caber em algum lugar do Archaeopteryx, “[não] podemos descartar que outro pássaro ou outra espécie não tenha derrubado a pena”.

O caráter isolado dessa pena faz com que nunca possamos saber ao certo a quem ela pertencia, mas pesquisadores da USF estão convencidos de que o Archaeopteryx é a explicação “mais empírica e mais parcimoniosa“.

De acordo com o NYT, Carney está tão convencido que fez uma nova tatuagem rotulando a pena como de um Archaeopteryx.

O estudo foi publicado na Scientific Reports.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.