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A vida alienígena pode estar transformando planetas hostis em paraísos – e os astrônomos querem encontrá-los

Traduzido por Julio Batista
Original de Paul Sutter para a Live Science

Uma vez que a vida prospera em um único ponto de um planeta, ela pode ter o poder de transformar esse mundo, forçando-nos a ampliar nossa definição de “habitável”, sugere uma nova pesquisa.

Nós realmente não sabemos onde a vida pode surgir. Temos apenas um exemplo de um planeta que hospeda vida, a Terra, que começou a ficar interessante para a vida talvez apenas algumas centenas de milhões de anos depois de se formar. Sabemos que a vida na Terra requer um determinado conjunto de elementos para realizar sua complexa cadeia de produção de energia, que precisa de água líquida como solução e que pode existir apenas em uma faixa relativamente estreita de temperaturas e pressões atmosféricas.

Em nossas buscas por vida fora da Terra, os astrônomos geralmente se concentram em uma área chamada zona habitável, uma faixa de órbitas ao redor de uma estrela onde a água líquida pode potencialmente existir na superfície de um planeta. Se um planeta estiver mais próximo da estrela, a água evaporará com o calor; se estiver mais longe da estrela, a água congelará. Nenhuma dessas condições é boa para a vida como a conhecemos.

Mas a zona habitável é apenas um guia aproximado, não uma garantia. Tanto Marte quanto Vênus estão dentro da zona habitável do nosso Sol, e esses planetas não são habitados. Por outro lado, a nova pesquisa, publicada no servidor de pré-publicação arXiv.org, sugere que nossa definição atual de zona habitável pode ser muito restrita porque não inclui como a vida influencia um mundo.

Um mundo em mudança

A representação de um artista do ambiente primitivo da Terra, pouco antes do surgimento da vida. Você pode chamar esse caos de “paraíso”? (Créditos: Lucy Entwisle)

A Terra seria completamente diferente se não fosse pela vida. O exemplo clássico são as quantidades abundantes de oxigênio na atmosfera do nosso planeta. O oxigênio é um elemento muito comum em todo o cosmos, e a Terra nasceu com muito dele. Mas a maior parte desse oxigênio está ligada na forma de dióxido de silício – rochas. O oxigênio gasoso não pode sobreviver na atmosfera por muito tempo, porque a radiação ultravioleta do Sol o decompõe.

Mas o processo de fotossíntese libera gás oxigênio como subproduto. Na verdade, a vida primitiva produziu tanto oxigênio que quase se envenenou com ele em um incidente conhecido como o Grande Evento de Oxigenação. Foi necessária a evolução de criaturas que respiram oxigênio para colocar o ecossistema de volta em equilíbrio.

De qualquer forma, seria incrivelmente difícil para a Terra manter tanto oxigênio atmosférico se não fosse pelos constantes esforços da vida.

Essa linha de pensamento pode ser estendida a muitas outras propriedades da atmosfera da Terra. As criaturas vivas também emitem grandes quantidades de metano, um gás de efeito estufa que ajuda a manter nosso planeta aquecido. Vastas copas das florestas alteram a quantidade de luz solar refletida na superfície, afetando também a temperatura do nosso mundo. Mesmo a produção de vários subprodutos de gás de criaturas grandes e pequenas é capaz de alterar a pressão do ar na atmosfera do nosso planeta.

A zona habitável de Gaia

Uma maneira de ver todas essas mudanças é que, uma vez que a vida começa em um planeta, ela realmente não quer desaparecer. E assim vai (involuntariamente, é claro) alterando a química e a física básicas do planeta para criar um ambiente mais adequado. Este planeta com vida alterada torna-se muito mais habitável do que era antes.

Isso certamente é verdade para a Terra. Os primeiros sinais possíveis de vida no registro fóssil indicam que a vida pode ter surgido quando nosso planeta ainda estava parcialmente derretido em magma e lava. Deve ter sido um lugar altamente hostil, mas bilhões de anos depois, se tornou ótimo para a vida (a menos que continuemos arruinando tudo com as mudanças climáticas causadas pelo homem).

Os autores do novo paper imaginaram um mundo no limite da zona habitável, quase muito frio ou quase muito quente. Mas se a vida conseguisse começar ali, ela teria uma chance de melhorar a composição do planeta, talvez aumentando ou diminuindo a pressão atmosférica ou a temperatura, ou criando nichos subterrâneos onde a vida poderia prosperar.

Portanto, devemos repensar a definição tradicional de zona habitável. Os pesquisadores propõem uma nova: a zona habitável de Gaia (de Gaia, a personificação mitológica grega da Terra). Essa zona seria mais ampla do que atualmente consideramos adequada para a vida, porque a própria vida é capaz de alterar os limites do adequado.

Os pesquisadores argumentam que devemos empregar essas definições mais amplas da zona habitável na seleção de futuros alvos para exploração. Se a zona habitável for muito estreita, podemos deixar sinais de vida passar despercebidos, simplesmente porque estamos procurando no lugar errado. Não importa o que aconteça, ao procurar por vida extraterrestre, devemos manter a mente aberta e estar preparados para surpresas. A vida… dá um jeito.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.