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Adivinhe qual animal está na pintura rupestre mais antiga da Austrália, datada de 17.000 anos

Por Damien Finch, Andrew Gleadow, Janet Hergt e Sven Ouzman
Publicado no
The Conversation

Na região de Kimberley, no nordeste da Austrália Ocidental, Condado de Balanggarra, uma pintura de dois metros de comprimento de um canguru se estende pelo teto inclinado de um abrigo rochoso acima do rio Drysdale.

Em um paper publicado no dia 22 de fevereiro na Nature Human Behavior, datamos a obra de arte como tendo entre 17.500 e 17.100 anos – o que a torna a pintura rupestre in situ mais antiga da Austrália.

Usamos uma técnica pioneira de datação por radiocarbono em 27 ninhos de vespas de lama subjacentes e sobrepostas a 16 pinturas diferentes de 8 abrigos rochosos. Descobrimos que pinturas desse estilo foram produzidas entre 17.000 e 13.000 anos atrás.

Nosso trabalho faz parte da maior iniciativa de datação de arte rupestre da Austrália. O projeto é baseado em Kimberley, uma das principais regiões de arte rupestre do mundo. Aqui, abrigos rochosos preservaram galerias de pinturas, muitas vezes com gerações de obras de arte mais jovens pintadas sobre obras mais antigas.

Ao estudar as características estilísticas das pinturas e a ordem em que foram pintadas quando se sobrepõem, uma sequência estilística foi desenvolvida por pesquisadores anteriores com base em observações em milhares de locais de arte rupestre de Kimberley.

Eles identificaram cinco períodos estilísticos principais, dos quais o mais recente é o familiar período Wanjina.

Estilos de arte rupestre

estilo mais antigo, que inclui a pintura do canguru que datamos recentemente, costuma apresentar animais em tamanho natural em forma de contorno, preenchidos com traços irregulares. As pinturas neste estilo pertencem ao período estilístico “naturalista”.

O ocre utilizado é um óxido de ferro de cor vermelho amora. Infelizmente, nenhum método de datação científica atual pode determinar quando essa tinta foi aplicada à superfície da rocha.

Uma abordagem diferente é datar ninhos de insetos fossilizados ou acréscimos minerais nas superfícies da rocha que por acaso são pigmentos de arte rupestre sobrejacentes ou subjacentes. Essas datas fornecem uma faixa etária máxima (subjacente) ou mínima (sobreposta) para a pintura.

Nossa datação sugere que o período principal para pinturas naturalísticas em Kimberley foi de pelo menos 17.000 a 13.000 anos atrás.

A pintura rupestre australiana mais antiga conhecida

Muito raramente, encontramos ninhos de vespas de lama cobrindo e estando embaixo de uma única pintura. Foi o que aconteceu com a pintura do canguru, feita no teto baixo de um abrigo rochoso bem protegido do rio Drysdale.

Conseguimos datar três ninhos de vespas subjacentes à pintura e três ninhos construídos em cima dela. Com essas idades, determinamos com segurança que a pintura tem entre 17.500 e 17.100 anos; provavelmente perto de 17.300 anos.

Foto de Damien Finch. Ilustração de Pauline Heaney.

Nossas idades quantitativas apoiam a sequência estilística proposta que sugere que o estilo naturalista mais antigo foi seguido pelo estilo Gwion. Esse estilo apresentava pinturas de figuras humanas decoradas, geralmente com cocares e segurando bumerangues.

De animais e plantas a pessoas

Uma pesquisa que publicamos no ano passado mostra que as pinturas Gwion floresceram há cerca de 12.000 anos – cerca de 1.000 a 5.000 anos após o período naturalista.

Este mapa da região de Kimberley (The Kimberley) na Austrália Ocidental (Western Australia) mostra o litoral em três pontos distintos no tempo: hoje, 12.000 anos atrás (o período Gwion [Gwion period]) e 17.300 anos atrás (o primeiro fim do conhecido período naturalista) – o período do canguru (kanguroo). O local está marcado com um círculo (art sites). Créditos: Pauline Heaney / Damien Finch.

Com essas datas, também podemos reconstruir parcialmente o ambiente em que os artistas viveram há 600 gerações. Por exemplo, grande parte do período naturalista coincidiu com o fim da última era do gelo, quando o ambiente estava mais frio e seco do que agora.

Durante o período naturalista, 17.000 anos atrás, o nível do mar estava 106 metros abaixo de hoje e a linha costeira de Kimberley estava cerca de 300 quilômetros mais distante, mais da metade da distância de Timor.

Os artistas aborígines dessa época frequentemente optavam por representar cangurus, peixes, pássaros, répteis, equidnas e plantas (particularmente o inhame). Com o aquecimento do clima, as calotas polares derreteram, as monções foram restabelecidas, as chuvas aumentaram e o nível do mar subiu, às vezes rapidamente.

No período Gwion, há cerca de 12.000 anos, o nível do mar subiu para 55m abaixo do de hoje. Isso, sem dúvida, teria causado um ajuste de longo prazo aos territórios e às relações sociais.

Foi quando os pintores aborígenes retrataram figuras humanas altamente decoradas, com uma semelhança impressionante com as fotos de trajes cerimoniais aborígines do início do século 20. Enquanto plantas e animais ainda eram pintados, as figuras humanas eram claramente o tema mais popular.

Alcançando o passado

Embora agora tenhamos estimativas de idade para mais pinturas do que nunca, mais trabalho continua para descobrir, com mais precisão, quando cada período artístico começou e terminou.

Por exemplo, uma idade mínima em uma pintura Gwion sugere que ela pode ter mais de 16.000 anos. Nesse caso, a arte Gwion teria se sobreposto ao período naturalista, mas outras datas são necessárias para ter mais certeza.

Além disso, é altamente improvável que a pintura naturalista mais antiga conhecida que datamos seja a mais antiga sobrevivente. Pesquisas futuras quase certamente localizarão trabalhos ainda mais antigos.

Por enquanto, o canguru de 17.300 anos é um espetáculo para se maravilhar.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.