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Antiga rocha cheia de cristal esconde segredo de dinossauros há 140 anos

Traduzido por Julio Batista
Original de Sascha Pare para a Live Science

Um belo cristal guardado em uma coleção de minerais há 135 anos abrigava um tesouro ainda mais raro: a casca de um ovo de titanossauro de 67 milhões de anos.

O ovo incrustado se originou de uma planície vulcânica na Índia central, levando os pesquisadores a pensar que um fluxo de lava sufocou o ninho logo após o dinossauro o ter colocado. O embrião se decompôs, enquanto camadas de rocha vulcânica solidificada preservaram a casca. Ao longo das eras, a água rica em sílica penetrou dentro da casca e cristalizou para formar um mineral de ágata rosa claro e branco.

“Só agora reconhecemos que este espécime tem algo extra especial – a ágata preencheu esta estrutura esférica, que acabou por ser um ovo de dinossauro”, disse Robin Hansen, curador de minerais do Museu de História Natural de Londres e a primeira pessoa a suspeitar da singularidade do espécime, em um comunicado.

Um homem chamado Charles Fraser encontrou o cristal enquanto vivia na Índia entre 1817 e 1843, de acordo com Hansen, e o Museu de História Natural do Reino Unido o catalogou como ágata em 1883. Ele permaneceu na coleção do museu por mais de um século até ser colocado em exibição em 2018, quando chamou a atenção de Hansen.

A forma esférica quase perfeita da rocha, bem como a impressão de dois outros objetos redondos agrupados em torno dela e a fina camada ao redor do cristal, sugerem que poderia ser um ovo de dinossauro. O espécime mede 15 centímetros de diâmetro, o que é consistente com os ovos de titanossauro encontrados na China e na Argentina, de acordo com especialistas do museu.

Os paleontólogos tentaram escanear o espécime para confirmar sua origem, mas a densidade da ágata obstruiu os detalhes mais sutis. Eles estão confiantes de que é um ovo de titanossauro em parte porque essas feras gigantescas eram os dinossauros mais comuns onde hoje é a Índia durante o final do Cretáceo (100 a 66 milhões de anos atrás). No início deste ano, os cientistas descobriram um número impressionante de ninhos de titanossauros na Índia, cerca de 3 milhões de anos mais velhos do que o recém-descrito ovo incrustado de pedras preciosas.

“Até onde sabemos, a fauna de dinossauros da Índia cretácea era abundante, mas não particularmente diversa”, disse Paul Barrett, paleobiólogo do Museu de História Natural, no comunicado. “Existem muitos fósseis de titanossauros.”

Apesar de serem os maiores dinossauros do mundo – crescendo até 37,5 metros de comprimento e pesando até 70 toneladas, de acordo com o Museu de História Natural — os titanossauros põem ovos relativamente pequenos com um diâmetro variando entre 12 e 15 cm, de acordo com o estudo publicado na revista PLOS One que descrevia os ninhos de titanossauros descobertos na Índia.

Os titanossauros podem ter aproveitado os solos quentes das planícies vulcânicas na Índia central para colocar e incubar seus ovos. (Créditos: Museu de História Natural, Londres)

“Parece que os titanossauros adotaram uma estratégia de colocar grandes ninhadas de cerca de 30 ou 40 ovos pequenos”, disse Barrett. “Como os titanossauros eram grandes demais para chocar seus ovos, eles provavelmente os cobriram com vegetação ou solo para ajudar a incubá-los”, disse ele à Live Science por e-mail.

Essa estratégia reprodutiva é semelhante à forma como as tartarugas marinhas e os crocodilos põem seus ovos hoje. De acordo com especialistas em museus, os titanossauros na Índia podem ter aproveitado o ambiente vulcânico colocando seus ovos no solo quente para mantê-los aquecidos até que eclodissem.

Essa vantagem poderia explicar por que os cientistas encontraram fósseis de titanossauro entre camadas de rocha vulcânica em uma área no centro da Índia chamada Basaltos de Decão, que teria sido regularmente achatada por vulcões expelindo lava. “Parece que esses titanossauros indianos recolonizaram essas áreas entre as erupções para usá-las como local de reprodução”, disse Barrett.

Milhões de anos depois que um titanossauro colocou o ovo e uma erupção vulcânica o envolveu na rocha, Fraser descobriu o deslumbrante espécime cristalizado por acaso e o deixou sob os cuidados dos curadores do museu. “Este espécime é um exemplo perfeito de por que as coleções de museus são tão importantes”, disse Hansen.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.