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Aranhas tecem mecanismos semelhantes à catapultas em suas teias para içar presas difíceis

Por Carly Cassella
Publicado na ScienceAlert

As aranhas teridídeas são pequenas criaturas com grande apetite. Uma nova pesquisa descobriu que algumas espécies desta família podem ajustar suas armadilhas de seda para levantar presas extremamente grandes – às vezes, até 50 vezes mais pesadas do que elas – suspendendo sua refeição a muitos centímetros do solo.

Considerando o tamanho dessas caçadoras, muitos das quais são menores do que uma unha e pesam pouco mais do que uma minúscula fração de grama, esse é um sistema bastante poderoso e mostra uma capacidade única das aranhas de se adaptarem e pensarem com suas oito patas.

Quando um inseto, roedor ou lagarto desavisado acidentalmente gruda no fio de ‘gatilho’ da armadilha da aranha, essas caçadoras inteligentes entram em ação, tecendo uma linha extra de seda com a tensão certa para catapultar sua presa pesada acima de seu ninho de forma que os seus músculos não conseguiriam fazer por si só.

Durante as filmagens, de fato, a menor aranha, que pesava apenas 0,01 grama, pendurou a presa mais pesada da amostra: uma barata de 0,5 grama (Blaptica dubia). Esta espécie em particular é conhecida como Steatoda triangulosa ou aranha-de-teia-triangulada, mas não é a única que pode fazer isso.

Aranhas teridídeas, ou aranhas da família Theridiidae, são conhecidas por suas notáveis ​​armadilhas, e muitas espécies foram encontradas criando estilingues semelhantes ao descrito acima, especialmente quando a presa é muito grande para carregar usando apenas os músculos.

Quando movidas pelo apetite, algumas aranhas da família Theridiidae foram flagradas tecendo uma variedade de seda em uma simples ‘máquina’ para tornar as coisas mais fáceis para elas.

A seda da aranha é uma estrutura elástica incrível, capaz de absorver ou liberar energia quando se afrouxa ou contrai, e os aracnídeos criaram uma série de maneiras inovadoras de usar esse material exclusivo.

Se um fio de aranha afinado é relaxado, por exemplo, a seda libera sua energia armazenada e se torna mais móvel, criando um movimento de elevação como um músculo externo.

É a ferramenta perfeita para suspender pequenas presas em apenas um movimento, sem muito trabalho da aranha.

No entanto, nem todas as presas têm o tamanho adequado. Historicamente, houve vários registros de presas grandes ficando presas nessas estruturas em forma de lança, incluindo um rato, guinchado por sua cauda, ​​e uma cobra, suspensa por sua extremidade traseira – tendo suas mandíbulas firmemente fechadas com mais seda.

Até lagartos foram encontrados pendurados de bruços na armadilha de uma aranha-de-teia-triangulada.

Aranha teridídea içando um lagarto até sua teia. (Créditos: Emanuele Olivetti)

Esses animais não são muito grandes para ficarem presos ao fio do gatilho da aranha, mas são muito pesados ​​para que a aranha os carregue sozinha. A caçadora deve, portanto, tecer fios extras e pré-esticados da teia até sua presa, cambaleando para frente e para trás enquanto lentamente levanta sua refeição.

Filmando duas espécies de aranha teridídea em ação, os pesquisadores ajudaram a desvendar todo esse processo complexo usando iscas vivas pela primeira vez.

O estudo se baseia em cinco aranhas individuais no total, uma espécie de Steatoda paykulliana e quatro espécies de aranha-de-teia-triangulada.

Colando amostras de seda em uma moldura de papel com uma pequena janela para um covil de aranha, a equipe observou e filmou enquanto todos os cinco aracnídeos teciam um fio de gatilho perto da parte inferior da teia e esperavam pela presa.

Uma barata Dubia (Blaptica dubia) viva foi então apresentada ao lar da aranha. Se a barata que passava fosse pequena o suficiente, um fio pegajoso era tudo o que era necessário para a aranha abocanhar sua refeição. A caçadora simplesmente a observou de cima.

Insetos maiores, por outro lado, exigiam mais sutileza. Nesse caso, a energia elástica do fio de captura é apenas o que deu início ao processo de levantamento, descobriram os autores.

Observando por perto, a aranha então se esforça para alcançar sua presa, envolvendo-a em seda aciniforme e usando veneno para parar sua luta. A caçadora então anexa novos fios de seda pré-tensionados à criatura a partir da teia, aplicando “uma soma de tensão que supera o peso da presa“.

Mas isso acontece muito gradualmente. Esses fios elásticos bem ajustados apenas levantam a presa grande uma pequena quantidade de cada vez. A aranha deve então prender mais fios e começar o processo novamente, levantando a presa a um ritmo não superior a 0,01 centímetros por segundo.

Mesmo quando a presa foi finalmente içada até a estrutura principal, o trabalho da aranha não terminou. Uma vez lá, as caçadoras foram forçadas a remover vários fios do caminho para dar lugar ao visitante.

“Isso terminou quando a presa estava perto da estrutura principal da teia emaranhada, onde fica a toca da aranha, e a densa rede de fibras de seda obstruiu os movimentos [da presa]”, escrevem os autores.

No total, as aranhas usaram cinco formas diferentes de seda para capturar essas grandes presas, incluindo uma para emboscar, duas para suporte, uma para “acimentar” e uma quinta seda para embrulhar sua refeição.

Seda de aranha sob o microscópio. (Créditos: Royal Society Interface)

“Assim”, concluem os autores, “parece que as aranhas da família Theridiidae são capazes de usar a teia e sua seda como uma ferramenta externa para caçar e que pode ser ajustada pelo aracnídeo.”

Essas novas perspectivas ainda são preliminares – com base em um pequeno número de indivíduos de apenas algumas espécies – mas elas ajudaram a aumentar nossa compreensão sobre a seda da aranha e seu papel na vida e na evolução das aranhas.

Se esses minúsculos predadores produzissem uma teia maior, os autores acham que eles poderiam ter capturado presas ainda maiores.

O estudo foi publicado na Royal Society Interface.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.