Por Peter Dockrill
Publicado na ScienceAlert
Ao longo da costa da Península de Iucatã, no México, um mundo subaquático escondido está logo abaixo da superfície, tão rico em maravilhas geológicas quanto os tesouros da civilização maia que habitava lá.
Dentro das cavernas profundas e cenotes profundos – buracos naturalmente formados – que povoam esta paisagem antiga e misteriosa, os pesquisadores acabaram de fazer outra descoberta notável.
Submersos no fundo de um cenote em um sítio arqueológico chamado San Andrés perto da antiga cidade maia de Chichén Itzá, mergulhadores do Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) encontraram uma canoa maia intacta e bem preservada, datada estimadamente em mais de 1.000 anos.
“Enquanto fazíamos uma pausa para descompressão no cenote… notei que cinco metros abaixo do nível da água atual havia uma marca escura na parede de pedra”, explicou a arqueóloga Helena Barba Meinecke, chefe da unidade de arqueologia subaquática (ASA) do INAH.
A investigação subsequente revelou uma estrutura de tronco de madeira, que os mergulhadores perceberam ser uma canoa incrivelmente bem preservada, medindo aproximadamente 1,6 metros de comprimento.
A canoa, cujas estimativas iniciais datam de 830-950 d.C. (em conjunto com o período clássico tardio da história maia, com o qual Chichén Itzá está mais associado), passará por uma análise dendrocronológica no futuro, para nos dar uma ideia mais precisa de quando este barco foi usado e de que tipo de madeira foi construído.
Os pesquisadores dizem que o barco pode ter o propósito de conduzir rituais, nos quais oferendas podem ter sido feitas aos deuses maias, ou também pode ter sido usado para transportar água para fora do cenote (talvez o melhor para mergulhar nele).
Embora fragmentos de barcos como este (e seus remos) tenham sido localizados anteriormente em outros locais – incluindo em Quintana Roo, Guatemala e Belize – a nova descoberta parece ser única devido ao seu estado intacto.
“A relevância está no fato de ser a primeira canoa desse tipo completa e tão bem preservada da região maia”, explicaram os pesquisadores.
Além da canoa, explorações recentes de diversos locais subaquáticos de San Andrés revelaram uma série de outros achados, incluindo restos de esqueletos, um mural pintado nas paredes da caverna, um monumento rochoso chamado de estela, fragmentos de cerâmica quebrados e uma faca usada em rituais.
“É evidente que se trata de um local onde aconteciam as cerimônias, não só por causa da cerâmica intencionalmente fragmentada, mas também por causa dos restos de carvão que indicam sua exposição ao fogo”, afirmaram os pesquisadores.