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Arqueólogos examinam o interior de múmias egípcias encontradas em 1615 sem abrir os caixões

Por Laura Geggel
Publicado na Live Science

Duas múmias antigas descobertas em uma tumba feita de pedra no Egito há mais de 400 anos estão finalmente revelando seus segredos, agora que os cientistas fizeram uma tomografia computadorizada de seus restos mortais, de acordo com um novo estudo.

Ambas as múmias, bem como uma terceira em exibição no Egito, representam as únicas ‘múmias de retrato envoltas em estuque’ que sobreviveram de Sacará, uma antiga necrópole egípcia.

Ao contrário de outras múmias, que foram enterradas em caixões, esses indivíduos foram colocados em pranchas de madeira, embrulhados em um tecido e numa “bela mortalha de múmia” e decorados com gesso 3D, ouro e um retrato de corpo inteiro, disse a pesquisadora que liderou o estudo Stephanie Zesch, uma antropóloga física e egiptóloga no Projeto Alemão de Múmias no Museu Reiss Engelhorn em Mannheim, Alemanha.

A tomografia computadorizada mostrou as miçangas do colar em volta do pescoço e do corpo da mulher. Créditos: Zesch et al., PLOS One, 2020.

Agora, as tomografias computadorizadas revelam que pelo menos uma dessas três múmias envoltas em estuque foi enterrada com os órgãos (até mesmo o cérebro) e que as duas mulheres foram enterradas com belos colares, descobriram os pesquisadores.

A tomografia computadorizada também mostrou que após a morte desses indivíduos – um homem, uma mulher e uma adolescente datando do final do período romano (30 a.C. a 395 d.C.) – suas múmias foram enterradas com artefatos provavelmente considerados úteis após a morte, incluindo moedas que foram possivelmente destinadas a pagar o Caronte, a divindade romana e grega que se pensava carregar almas através do Rio Estige.

As tomografias também revelaram vários problemas médicos, incluindo artrite na mulher.

“O exame dos indivíduos revelou que eles morreram muito jovens. No entanto, a causa da morte dos indivíduos não pôde ser determinada”, disse Zesch ao Live Science.

Longa jornada

Duas dessas múmias tem até um longo roteiro de viagem pós-morte. Em 1615, Pietro Della Valle (1586 – 1652), um compositor italiano, fez uma peregrinação à Terra Santa e acabou viajando pelo Egito.

Ele aprendeu sobre duas múmias envoltas em estuque – um homem e uma mulher – descobertas por habitantes locais em Sacará. Della Valle adquiriu essas múmias e as trouxe para Roma, tornando-as “os primeiros exemplos de múmias com retrato que se tornaram conhecidas na Europa”, escreveram os pesquisadores no estudo.

Depois de passar por vários proprietários, e ficarem um pouco desgastadas, as múmias foram parar nas coleções de arte do estado de Dresden, na Alemanha, onde foram radiografadas no final dos anos 1980. No entanto, a tomografia computadorizada revelou muito mais sobre seus interiores.

O retrato da múmia da adolescente. Créditos: Zesch et al., PLOS One, 2020.

Por exemplo, a tomografia computadorizada revelou que o homem morreu entre as idades de 25 e 30 anos. Ele tinha cerca de 163 centímetros de altura, dois dentes permanentes não irrompidos e várias cáries.

Alguns de seus ossos foram quebrados e tirados do lugar, provavelmente porque alguém o desembrulhou logo após a descoberta da múmia, escreveram os pesquisadores no estudo.

Embora o cérebro do homem não tenha sido preservado, não há evidências de que ele foi removido pelo nariz. Nem foram usadas muitas substâncias de embalsamamento. Em vez disso, ele foi embrulhado e pintado.

Dois objetos de metal encontrados durante a tomografia computadorizada são provavelmente selos da oficina de mumificação que manipulou seus restos mortais, disse Zesch.

O cérebro atrofiado do adolescente. Créditos: Zesch et al., PLOS One, 2020.

O cérebro da mulher também não estava preservado, mas o da adolescente estava – havia atrofiado, mas o cérebro e o tronco cerebral ainda eram identificáveis ​​- e os outros órgãos internos da adolescente também estavam presentes.

“Temos certeza de que não houve remoção do cérebro ou dos órgãos internos” dessas múmias, disse Zesch.

“É muito provável que essas múmias só tenham sido preservadas por conta de uma espécie de desidratação com o uso do natrão [da mistura dessecante], mas não há uma grande quantidade de líquidos de embalsamamento”.

A mulher, que morreu entre 30 e 40 anos de idade, media cerca de 151 cm de altura. Ela tinha artrite avançada no joelho esquerdo. A adolescente, que usava grampo no cabelo, segundo a tomografia computadorizada, morreu entre as idades de 17 e 19, e tinha cerca de 156 cm de altura.

Ela tinha um tumor benigno na coluna conhecido como hemangioma vertebral, que é mais comum em pessoas com mais de 40 anos, disseram os pesquisadores.

Ambas as mulheres foram enterradas com vários colares. É emocionante ver esses colares, mas não é inesperado, disse Zesch. “Por causa dessas mortalhas muito preciosas, temos certeza de que esses indivíduos devem ser membros da classe socioeconômica mais alta”, o que significa que eles poderiam facilmente comprar joias, disse Zesch.

Zesch observou que ela estudou as três múmias com uma equipe multidisciplinar do Projeto Alemão de Múmias, das Coleções de Arte do Estado de Dresden, do Instituto de Estudos de Múmias da Eurac Research em Bolzano, Itália, e do Grupo de Estudo Americano-Egípcio Hórus.

Seu trabalho mostrou uma exibição interativa ao vivo da múmia masculina e feminina em Dresden. A múmia do adolescente está em exibição no Museu de Antiguidades Egípcias, no Cairo, Egito.

O estudo foi publicado online em 4 de novembro na revista PLOS One.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.