Publicado na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas
Um modelo matemático, feito por pesquisadores da University College London, mostra que mudanças climáticas combinadas com crescimento populacional e uso indevido do solo são três fatores importantes para prever surtos de doenças transmitidas por animais como ebola e Zika vírus.
O estudo também concluiu que mais de 60% das doenças infecciosas emergentes no planeta de origem animal estão relacionadas a fatores ambientais. “Este modelo é um grande avanço na nossa compreensão da transmissão de doenças de animais para pessoas. Esperamos que o modelo possa ser usado para ajudar as comunidades a se preparar e responder a surtos de doenças, assim como influenciar decisões sobre o meio ambiente que podem estar dentro de seu controle”, explica Kate Jones, cientista líder do projeto.
Essas doenças, conhecidas como zoonóticas, podem formar epidemias grandiosas e de muito impacto, quase sem controle. Entre 2013 e 2014, a epidemia de ebola atingiu muitas comunidades carentes da África, deixando o continente em estado de emergência.
O modelo foi feito tendo como base a febre Lessa, doença hemorrágica viral transmitida por ratos e endêmica do oeste da África. Cerca de 408 locais na África conhecidos por terem surtos de febre Lessa foram mapeadas. Os pesquisadores analisaram dados de 1967 a 2012 e avaliaram as mudanças no uso de terras, colheitas, temperaturas e índice de chuvas, além do comportamento das comunidades locais, acesso e cuidados com a saúde.
Como resultado, também houve a identificação de subespécies de ratos que transmitem a doença. Com isso, o modelo mostrou que, em 2070, 406.725 pessoas estarão infectadas com a doença. Esse número é mais que o dobro da estimativa feita anteriormente. Para chegar a esse número, o modelo levou em consideração as mudanças climáticas e o crescimento populacional.
Agora, a esperança é de que o modelo possa ajudar governantes a tomarem decisões e traçarem melhor políticas públicas de saúde, acesso á alimentação e cuidados com o meio ambiente. O modelo dá uma visão alternativa para os problemas das grandes epidemias zoonóticas, mostrando que o problema é complexo e envolve vários fatores que ultrapassam a saúde pública. Esta, também, é a oportunidade de rever a questão do Zika vírus no Brasil e saber com mais exatidão sua causa e como agir para conte-la.