Por Rob Coppinger
Publicado na Space
Um projeto de nação espacial chamado de Asgardia já está aceitando pedidos de futuros cidadãos.
Líderes do projeto Asgardia discutiram a proposta de uma nação espacial em uma entrevista coletiva em Paris na quarta-feira (12 de outubro). Os líderes pretendem lançar o primeiro satélite Asgardia em 2017 e dizem que gostariam de, eventualmente, ter uma estação espacial onde alguns, apesar de não todos, dos seus planejados 150 milhões (principalmente residentes da Terra) de habitantes vivessem e trabalhassem lá.
Asgardia, em homenagem a Asgard, a casa dos deuses nórdicos, será uma democracia com ênfase na liberdade do indivíduo para desenvolver tecnologias espaciais, de acordo com Igor Ashurbeyli, líder da equipe e fundador do projeto Asgardia. Pessoas podem agora solicitar para ser selecionadas como uma dos 100.000 cidadãos através do site da nação, asgardia.space. No momento desta publicação, o número de candidatos já atingiu mais de 84.000, segundo o site. Enquanto Asgardia (ainda) não é oficialmente uma nação, os potenciais cidadãos devem cumprir os requisitos legais para a aplicação das Nações Unidas de Asgardia – por exemplo, eles devem ser de nações que permitam múltiplas cidadanias.
Asgardia seria uma nação no espaço, em baixa órbita da Terra, ou pouco além, disseram os líderes do projeto. A equipe do projeto Asgardia disse que eles acham que precisam, pelo menos, de dezenas de milhares de cidadãos antes que formalmente se apliquem à ONU para o reconhecimento (embora hajam 14 países no mundo com menos de 100.000 cidadãos).
A futura nação está sendo criada para “servir a humanidade” e para “a paz no espaço”, de acordo com Ashurbeyli. Um cientista por formação, Ashurbeyli fundou o que é hoje um arrendamento, Socium Holding, que, de acordo com o site da Asgardia, tem “mais de 10.000 funcionários e 30 empresas ao redor do mundo”. De acordo com seu próprio site, as empresas colaboradoras com a Scoium Holding estão “operando em muitos setores diversos, nos domínios da ciência, da tecnologia e da esfera social”.
“Se você olhar para a população de uma nação, estatisticamente, 2 por cento da população são criativas, produtivas e progressivas, por isso esperamos que, ao olhar para a população da Terra, 7,5 bilhões de pessoas, estejamos esperando que 150 milhões sejam aquelas pessoas criativas e progressivas [que se tornem Asgardianos]”, disse Ashurbeyli ao Space.
Ele disse que, durante a seleção de cidadania, será dada preferência aos candidatos que desenvolvem e investem em tecnologias espaciais. Ashurbeyli descreve Asgardia como um estado que não irá se distrair com coisas como infra-estrutura, estradas e hospitais. Ele chamou Asgardia de “…um reflexo da Terra no espaço, mas sem as fronteiras, limites, restrições religiosas e linhas de estado; Um reflexo em um espelho digital, sem todos esses inconvenientes. Nós preferimos o diálogo com pessoas e empresas, e não com os estados… [Asgardia] facilita isto e, dentro desse pacote, as pessoas podem ser criativas”.
Ram Jakhu, diretor do Instituto de Direito Aéreo e Espacial da Universidade McGill, em Montreal, é o perito legal da equipe do projeto Asgardia. Jakhu disse ao Space.com via Skype, no dia 12 que, com os cidadãos selecionados, um governo, e uma nave espacial habitada para proclamar território, Asgardia acabaria cumprindo três dos quatro elementos que a ONU considera para uma nação ser um Estado. O quarto é o reconhecimento pelos Estados membros da ONU.
Durante a mesma chamada no Skype, Jakhu disse ao Space.com que “se [Asgardia] faz coisas boas”, então ele não pensa que ganhar o reconhecimento dos existentes Estados membros da ONU será um problema.
“A visão [de Asgardia] é muito, muito clara: Esta nação vai fazer coisas para ajudar a proteger a Terra e, além disto, será para fins exclusivamente pacíficos. E também permitirá o acesso aos países em desenvolvimento que não possuem [acesso ao espaço]. Então, se isso for feito, o reconhecimento não será um grande problema. Se estes quatro elementos [território, população, governo e reconhecimento] forem alcançados, nos tornaremos um estado e poderemos solicitar a sua adesão à Organização das Nações Unidas”.
Nenhuma taxa é necessária para os pedidos de cidadania e não se esperam que os novos cidadãos contribuam nos custos do primeiro satélite, que será chamado de Asgardia, que a equipe do programa planeja lançar no final de 2017. Ashurbeyli não forneceu quaisquer detalhes sobre o satélite ou de sua função, mas disse que será “100 por cento financiado”.
Ashurbeyli disse que o primeiro satélite Asgardia seria lançado de uma das nações exploradoras, mas o Estado do lançamento (o país que vai fazer o lançamento) seria um país com uma economia emergente que não seja signatário do Tratado do Espaço Exterior. Os pontos de vista da equipe do projeto serão em parceria com os países em desenvolvimento, como uma maneira para que países que ainda não tenham tido acesso ao espaço sejam envolvidos.
O Tratado do Espaço Exterior (OST, sigla em inglês) foi um acordo internacional feito durante a Guerra Fria, em 1967, e assume que todas as atividades no espaço serão conduzidas por um Estado-nação. Ashurbeiylj disse que vê a OST como restritiva, com a sua abordagem sendo levada apenas a atores estatais. Ashurbeyli quer que indivíduos e empresas sejam capazes de agir no espaço sem o envolvimento direto do governo. A OST também diz que nenhum estado-nação pode possuir território no espaço exterior e os signatários são obrigados a seguir isto. A parceria com uma nação não-signatária evita tais complicações legais, em matéria de exploração dos recursos espaciais, disse ele. Os países africanos não são signatários do OST ─ Etiópia e Quênia, em particular ─ são vistos como potenciais candidatos para ser o Estado de lançamento do satélite.
A equipe do projeto Asgardia também tem planos para satélites que protegerão a Terra contra asteróides e detritos espaciais. Um membro da equipe do projeto Asgardia, Joseph Pelton, que é diretor emérito do Instituto de Pesquisas Avançadas Space&Communications, da Universidade George Washington, disse ao Space.com, após a conferência de imprensa, que a defesa da Terra exigiria uma nave espacial diferente.
Para a defesa contra asteróides, Pelton prevê uma frota de naves espaciais que seriam lançadas para atender a enormes distâncias, para atingir a rocha espacial antes de atingir a Terra, disparando lasers na superfície do objeto. O laser de fogo vaporizaria partes da superfície, e os jatos resultantes de vapor iriam criar força na suficiente para empurrar lentamente o asteróide em outra direção, evitando a Terra. Pelton espera que Asgardia trabalhe com os Estados-nação da Terra para financiar tal sistema de defesa.
Para uma defesa contra ejeções de massa coronal (poderosas rajadas de partículas carregadas do Sol que podem danificar satélites ou redes de energia), Pelton disse ao Space.com: “Eu estou trabalhando com Jim Green, que é chefe de ciências planetárias da NASA, e pensamos que pode ser possível implantar um sistema em L1, a um milhão e meio de quilômetros [930,000 milhas] de distância, que teria de um a dois tesla de campos magnéticos, e isso seria como um cinturão de Van Allen artificial”. Tesla é a unidade de medida pela força de um campo magnético (não é apenas o nome de uma companhia de carro), e a órbita L1 fica entre a Terra e a Lua. Os cinturões de Van Allen são uma coleção de partículas carregadas, reunidas no lugar, pelo campo magnético da Terra, que desviam partículas nocivas do sol.
Pelton passou a descrever uma estação espacial inflável, a Bigelow Aerospace, posicionada em L1, que utiliza a energia solar para criar o campo de força magnética para mitigar o impacto das ejeções de massa coronal. Para estes projetos de defesa e outros desenvolvimentos da tecnologia espacial, Ashurbeyli disse ele prevê um crowdfunding como uma potencial fonte de capital de investimento.