Traduzido por Julio Batista
Original de Russel McLendon para o ScienceAlert
A noite é naturalmente adequada para nossos cérebros projetar atividades paranormais, com menos luz e som para limitar a imaginação.
Embora a relação ainda seja obscura, uma nova pesquisa mostra uma ligação interessante entre as crenças paranormais e uma das atividades noturnas mais importantes para nós, seres terrestres: o sono.
Em um novo estudo, pesquisadores descobriram que meios subjetivos para uma pior qualidade do sono foram associados a crenças mais fortes em fantasmas e demônios, almas que vivem após a morte, a capacidade das pessoas de se comunicar com os mortos, experiências de quase morte como evidência de uma vida após a morte, e alienígenas visitando a Terra.
Essa qualidade reduzida do sono incluiu menor eficiência do sono, maior latência do sono, menor duração do sono e aumento dos sintomas de insônia, relataram os autores do estudo.
Além das medidas auto-relatadas da qualidade do sono, os pesquisadores descobriram que a crença de que alienígenas visitaram a Terra está associada à paralisia do sono isolada e à síndrome da cabeça explosiva, um distúrbio caracterizado pela sensação de um ruído alto ou som de colisão dentro da cabeça de uma pessoa.
A paralisia do sono isolada – na qual uma pessoa está consciente e alerta, mas incapaz de se mover, sem outros sintomas de um distúrbio do sono como a narcolepsia – também foi associada à crença de que experiências de quase morte são evidências de vida após a morte, descobriu o estudo.
“Até onde sabemos, esta é uma nova descoberta digna de uma análise mais aprofundada”, escreveram os pesquisadores.
Essas descobertas geralmente se encaixam com estudos anteriores, eles observam, que também encontraram ligações entre crenças paranormais e variações no sono, especialmente paralisia do sono. O novo estudo visa esclarecer isso, examinando uma gama mais ampla de variações do sono com uma amostra maior.
Os pesquisadores conduziram o estudo por meio de uma pesquisa online, com recrutamento divulgado nas mídias sociais e pela Science Focus Magazine da BBC. Eles terminaram com 8.853 participantes, todos com pelo menos 18 anos, que responderam a perguntas sobre vários tópicos paranormais e variações do sono.
“Para todas as associações, descobriu-se que um nível mais alto de crença paranormal estava associado a uma pior qualidade subjetiva do sono, mesmo quando controlando os efeitos de idade e gênero”, relataram os autores do estudo.
Embora o novo estudo possa ajudar a melhorar nossa compreensão da ligação entre as crenças paranormais e as variações do sono, pelo fato de ser um estudo transversal, este não foi projetado para responder à pergunta óbvia de por que essas duas coisas estão associadas.
Os autores oferecem algumas especulações, no entanto. Como a paralisia do sono pode envolver alucinações visuais e auditivas, e a síndrome da cabeça explosiva tem esse nome autoexplicativo, os resultados sugerem que a crença em alienígenas pode estar ligada a distúrbios do sono com sons ou imagens.
“Uma explicação para essas associações é, portanto, que alguém experimentando sons ou imagens associadas ao sono pode interpretar isso como evidência de que existem alienígenas ou outros seres sobrenaturais”, escreveram eles, embora observem que ainda são necessárias mais pesquisas para testar isso.
Por outro lado, algumas das associações podem sugerir outra coisa, acrescentaram os pesquisadores, com crenças paranormais causando ansiedade que interfere no sono. A perspectiva de visitantes paranormais à noite pode dificultar o sono, e não apenas para as crianças.
Isso pode ajudar a explicar por que a crença em fantasmas, demônios ou alienígenas estava ligada a uma qualidade subjetiva de sono inferior, escreveram os pesquisadores, mas e as crenças que não envolvem entidades ameaçadoras? A qualidade do sono também é influenciada pela ansiedade sobre a existência de uma alma ou da vida após a morte?
Mais pesquisas serão necessárias para responder a perguntas como essas, acrescentaram, incluindo estudos que analisam fatores adicionais como saúde mental, educação, traços de personalidade e crenças religiosas, devido às suas associações com o sono e crenças paranormais.
Embora o novo estudo ajude a esclarecer esse vínculo e possa preencher algumas lacunas em nosso conhecimento, ele tem algumas limitações significativas.
Apesar do grande tamanho da amostra, por exemplo, os participantes se auto-selecionaram para participar do estudo e, portanto, “é improvável que sejam representativos da população em geral”, escreveram os pesquisadores.
“Por exemplo, as taxas aparentemente altas [de paralisia do sono isolada e síndrome da cabeça explosiva] podem indicar que os indivíduos com esses sintomas eram mais propensos do que outros a se interessar em participar deste estudo”, explicam eles.
Além de recrutar amostras mais representativas, observaram os pesquisadores, estudos futuros sobre crenças paranormais e sono devem usar medidas objetivas de variações do sono para maior precisão.
No entanto, os autores dizem que seu estudo oferece novas perspectivas sobre a ligação entre o sono e as crenças paranormais e, embora ainda haja muito que não sabemos, pode ajudar a aumentar a conscientização sobre a mera associação, tanto para pacientes quanto para profissionais de saúde.
“Relatos de atividade paranormal ou crenças anômalas podem ser confundidos como evidência prima facie de distúrbios mais graves”, escreveram eles. Este estudo “pode encorajar os médicos a avaliar distúrbios do sono e parassonias relevantes, além de outras formas de psicopatologia”.
O estudo foi publicado no Journal of Sleep Research.