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Aves com cérebros maiores podem se sair melhor sob efeito das mudanças climáticas

Por Talia Ogliore
Publicado na Washington University in St. Louis

Muitas aves migratórias norte-americanas estão diminuindo de tamanho conforme as temperaturas vêm aumentando nos últimos 40 anos. Mas aquelas com cérebros grandes, em comparação ao tamanho corporal, não diminuíram tanto quanto as aves com cérebros menores, de acordo com um novo estudo da Universidade Washington em St. Louis. O estudo é o primeiro a identificar uma conexão direta entre a cognição e a resposta animal às mudanças climáticas produzidas por ações antrópicas.

As mudanças no tamanho corporal em pássaros canoros são pequenas, mas significativas, afetando espécies familiares de pardais, toutinegras e tordos. De fato, as mudanças de tamanho são tão difundidas que alguns cientistas têm sugerido que as reduções são uma resposta universal ao aquecimento global. Mas uma nova pesquisa publicada na Ecology Letters mostra que aves com cérebros maiores têm sido capazes de superar tal encolhimento, ao menos até certo ponto.

“Conforme as temperaturas aumentam, os tamanhos dos corpos decrescem”, disse Justin Baldwin, um doutorando no laboratório de Carlos Botero e professor assistente de biologia no departamento de Artes e Ciências na Universidade Washington. “Mas espécies de cérebros grandes estão diminuindo de forma menos incisiva que espécies de cérebros pequenos”.

Baldwin conjuntamente com os coautores do estudo analisaram informações sobre as mortes de 70.000 pássaros que morreram ao colidir em edificações no estado estadunidense de Chicago entre os anos de 1978 e 2016. Eles aumentaram este vasto conjunto de dados, primeiramente publicado por pesquisadores da Universidade de Michigan, com novas medidas de volumes cerebrais e expectativas de vida de 49 das 52 espécies de aves migratórias norte-americanas incluídas no estudo original.

Aves que tinham cérebros muito grandes, relativos aos seus corpos, possuíam reduções no tamanho corporal que representavam um terço em relação ao observado para aves de cérebros menores, descobriram os cientistas.

E grandes cérebros importam para aves.

O tamanho relativo do cérebro é considerado um indicador de flexibilidade comportamental nas aves. A ideia é controversa quando aplicada em outros animais, disse Baldwin, mas funciona bem para os pássaros.

“O tamanho relativo do cérebro se correlaciona com um aumento da habilidade de aprendizado, melhora na memória, maiores expectativas de vida e uma dinâmica populacional mais estável”, disse Baldwin.

“Neste caso, uma espécie de ave com cérebro grande pode ser capaz de reduzir sua exposição ao aumento de temperatura ao procurar por micro-habitats com temperaturas mais frias, por exemplo”, disse ele.

As novas descobertas são significativas, porque essa é a primeira vez que cientistas são capazes de mostrar uma conexão direta entre a cognição e as respostas fenotípicas às mudanças climáticas.

Mais ou melhores opções

Não está totalmente clara a razão pela qual tantos pássaros canoros estão diminuindo de tamanho à medida que as temperaturas aumentam. Uma possível explicação é que o calor causa estresse, e pássaros com corpos menores podem dissipar melhor o calor. Essa explicação é consistente com as observações de que aves que vivem em suas áreas geográficas habituais são menores que aquelas que vivem em áreas mais frias.

Mas a redução de tamanho tem um custo potencial — por exemplo, aumento da predação ou redução da capacidade de competir —  que as aves devem evitar de forma geral. Nesse contexto, ter um cérebro maior pode oferecer alternativas que não estão disponíveis para espécies com cérebros menores.

“Uma das primeiras coisas que me chamam atenção nessas descobertas é que nós já podemos ver que as mudanças climáticas estão tendo um efeito desproporcional em espécies com menos capacidade de lidar com a mudança ambiental através do seu comportamento”, disse Botero.

“Isso não significa que as mudanças climáticas não estejam afetando as aves de cérebros maiores, ou que aves de cérebros maiores vão ficar bem. O que as nossas descobertas sugerem é que as mudanças climáticas possuem um efeito muito maior em pássaros de cérebros menores”, disse Botero.

“As espécies que nós estudamos tinham apenas uma diferença de duas vezes no tamanho relativo do cérebro, que foi suficiente para reduzir os efeitos do aumento de temperatura em 70%”, disse Baldwin. “Isso nos diz que até mesmo pequenas diferenças na cognição importam”.

Essas descobertas também possuem implicações práticas para a conservação, já que 3 bilhões de aves (uma a cada três) foram perdidas na América do Norte desde a década de 1970. “Provavelmente, a seleção natural atinge diferentes espécies de diferentes maneiras”, disse Baldwin.

“Mudanças rápidas no ambiente frequentemente produzem alguns ganhadores e um monte de perdedores, o que é realmente lamentável”, disse ele. “Muitas populações selvagens moveram-se em direção à lugares mais frios à medida que o planeta foi aquecendo. A seleção natural força aqueles que não se movem a se adaptar, por exemplo, mudando o tamanho de seus corpos.

As análises de Baldwin revelam que espécies de aves com cérebros menores podem estar sob uma seleção natural mais forte, um fato que os planejadores de políticas ambientais podem precisar levar em consideração para o gerenciamento da conservação.

“Ao se tratar de mitigação e planejamento das mudanças climáticas, um dos maiores objetivos é manter a conectividade no nível da população”, disse Baldwin. “Nós queremos permitir que espécies se movam em direção aos polos ou atinjam maiores elevações, para acompanhar as mudanças climáticas. Nossas descobertas sugerem que esse tipo de intervenção pode ser importante principalmente para espécies de cérebros menores”.

Heitor Rodrigues

Heitor Rodrigues

Graduando em Engenharia Elétrica pela UFPA. Possuo interesse em assuntos concernentes à teoria eletromagnética, computação quântica e desenvolvimento de softwares.