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Câncer ósseo maligno é diagnosticado em um dinossauro pela primeira vez na história

Por Clare Watson
Publicado na ScienceAlert

Um paleontologista, um patologista médico e um cirurgião ortopedista entram em um museu. Não, não é o começo de uma piada, trata-se da equipe de pesquisa que diagnosticou o primeiro caso confirmado de câncer ósseo maligno em um dinossauro.

O espécime em questão é um osso da canela fossilizado de um Centrosaurus apertus, um dinossauro com chifres herbívoro que viveu e morreu há cerca de 76 milhões de anos.

O que parecia – pelo menos na primeira impressão – como uma fratura mal cicatrizada acabou revelando ser um tumor que se desenvolveu na metade superior do osso da canela do animal, ou fíbula. O centrossauro foi diagnosticado com osteossarcoma; é o tipo mais comum de câncer ósseo em humanos, mas marca o primeiro caso confirmado de um câncer maligno de qualquer tipo que encontramos em um dinossauro.

“Aqui, mostramos a inconfundível assinatura de câncer ósseo avançado em um dinossauro com chifres de 76 milhões de anos – o primeiro de seu tipo”, disse o patologista Mark Crowther. “É muito emocionante”.

O osso da canela, com a principal massa tumoral em amarelo. Créditos: Danielle Dufault / Museu Real de Ontário / Universidade McMaster.

Nos seres humanos, os osteossarcomas geralmente afetam adolescentes e jovens adultos no surto de crescimento da puberdade. Se um osteossarcoma entra na fase de metástase – crescendo além do osso – ele geralmente se espalha para os pulmões, mas também pode formar tumores em outros ossos e até no cérebro.

Por mais curiosos que seja a evolução de doenças como câncer, tecidos moles como tendões, ligamentos, medula óssea e tumores, raramente são preservados em fósseis. Dado alguns anos – e muito menos um milhão – esses tecidos se deteriorariam. Portanto, mesmo que os dinossauros fossem regularmente afetados pelo câncer, qualquer amostra de diagnóstico será difícil de encontrar.

Os cientistas já encontraram sintomas semelhantes a câncer em fósseis de dinossauros antes. Lesões incomuns nas vértebras da cauda de um jovem hadrossauro se assemelhavam a uma condição chamada histiocitose de células de Langerhans, um câncer complexo que está aberto para debate sobre como ocorre sua manifestação. No caso desta descoberta mais recente, a malignidade é muito mais clara.

A canela fossilizada acometida pelo câncer do C. apertus foi desenterrada no Dinosaur Park Fromation em Alberta, Canadá em 1989, e havia sido armazenada no Museu Real de Paleontologia Tyrrell, nos arredores de Calgary, até sua recente reanálise.

Cortes transversais do osso do C. apertus foram feitos primeiramente com um tomógrafo, a mesma máquina usada para identificar fraturas e tumores ósseos em pessoas. As ‘fatias’ da imagem de raios-X foram reconstruídas para ver como o tumor crescia através do osso fossilizado.

De fato, ele se espalhou bastante pelo osso, o que a equipe de especialistas médicos considerou como um sinal de que esse centrossauro conviveu com seu câncer por algum tempo.

Impressão artística do Centrosaurus apertus. Créditos: Museu Real de Ontário / Universidade McMaster.

“Essa descoberta nos lembra os vínculos biológicos comuns em todo o reino animal e reforça a teoria de que o osteossarcoma tende a afetar os ossos quando e onde eles crescem mais rapidamente”, disse Seper Ekhtiari, cirurgião ortopedista de formação na Universidade McMaster em Toronto, que examinou o fóssil.

Como o câncer estava tão avançado, os pesquisadores pensam que ele pode ter se espalhado para outras partes do corpo do dinossauro, mas não temos nenhuma dessas amostras de tecido – como os pulmões esponjosos – deste animal antigo para garantir.

“O osso da canela mostra um câncer agressivo em estágio avançado”, disse o paleontologista David Evans. “O câncer poderia ter efeitos incapacitantes sobre o indivíduo e o tornaria muito vulnerável aos formidáveis ​​predadores de tiranossauros da época”.

Depois de fotografar o osso da canela cancerígena, partes finas foram cuidadosamente cortadas do fóssil e comparadas a uma fíbula normal de C. apertus, juntamente com um caso de osteossarcoma humano, de um homem de 19 anos que o tinha na perna.

No paper, os autores observam que “um osteossarcoma similarmente avançado em um paciente humano, sem tratamento, certamente seria fatal”.

Mas eles suspeitam que o dinossauro tenha morrido com seus companheiros de rebanho, possivelmente em um evento repentino de inundação, porque o fóssil foi encontrado em um leito maciço de ossos de Centrossauros.

“O fato de esse dinossauro herbívoro ter vivido em um grande rebanho protetor pode ter permitido que ele sobrevivesse por mais tempo do que o normal com uma doença tão devastadora”, disse Evans.

E quando frequentemente nos maravilhamos com a idade dos dinossauros e seus tamanhos, grandes e pequenos, essa mais recente descoberta médica traz a situação dos dinossauros um pouco mais perto de algo familiar a nós.

“As evidências sugerem que malignidades, incluindo o câncer ósseo, estão profundamente enraizadas na história evolutiva dos organismos”, concluíram os autores. Sim, até dinossauros.

O estudo foi publicado na revista médica The Lancet Oncology.

Julio Batista

Julio Batista

Sou Julio Batista, de Praia Grande, São Paulo, nascido em Santos. Professor de História no Ensino Fundamental II. Auxiliar na tradução de artigos científicos para o português brasileiro e colaboro com a divulgação do site e da página no Facebook. Sou formado em História pela Universidade Católica de Santos e em roteiro especializado em Cinema, TV e WebTV e videoclipes pela TecnoPonta. Autodidata e livre pensador, amante das ciências, da filosofia e das artes.