Traduzido por Julio Batista
Original de Rebecca Dzombak para a Science News Magazine
As capivaras, os maiores roedores do mundo, vivem naturalmente em vastas pastagens, pântanos e rios em toda a América do Sul. Seu nome significa literalmente comedor de grama na língua tupi.
Assim, os cientistas que estudam as dietas das capivaras ficaram surpresos quando descobriram que os animais pareciam igualmente felizes mastigando as folhas das plantas da floresta quanto as gramíneas onduladas com as quais estão acostumados. As novas descobertas, publicadas em 27 de fevereiro no Journal of Zoology, sugerem que a flexibilidade alimentar ajudou as populações de capivaras a aumentar nas cidades e sobreviver em paisagens mais distantes fragmentadas por estradas, campos e outras mudanças causadas pelo homem nas últimas cinco décadas.
“Se a dieta de uma espécie for bastante especializada, isso limitará sua capacidade de adaptação a ecossistemas modificados”, disse Maria Luisa Jorge, ecologista da Universidade Vanderbilt em Nashville, EUA, que não participou do estudo. “As capivaras comem muita grama – nós as chamamos de herbívoras – mas elas podem comer outras coisas.” Isso as preparou para o sucesso, disse ela.
Esse sucesso é visível em São Paulo, a metrópole mais populosa do Brasil.
“Na Universidade de São Paulo, você as via todos os dias, pastando” no campus, disse Marcelo Magioli, ecologista do Instituto Pró-Carnívoros no Brasil. Elas também andam por estradas e campos agrícolas frequentes, o que lhes dá acesso fácil a culturas ricas em calorias.
Magioli queria saber o que as capivaras do Brasil estavam comendo para sobreviver à mudança de paisagem. Assim, ele e seus colegas coletaram amostras de pelo de 210 capivaras em 13 populações diferentes que vivem em ambientes naturais ou fortemente modificados em todo o Brasil. Alguns animais viviam na movimentada metrópole de São Paulo; outros viviam perto de campos agrícolas.
A equipe também colheu amostras de duas populações no Pantanal. Os pesquisadores analisaram isótopos de carbono, diferentes formas de carbono que podem atuar como assinaturas químicas, em pelos de capivara. Os isótopos de carbono disseram aos cientistas quanta grama em comparação com as plantas da floresta os animais comeram.
Como esperado, as capivaras com acesso às plantações estavam se alimentando delas; milho e cana-de-açúcar são gramíneas, alimentos familiares aos roedores. Mas as capivaras em áreas urbanas mais fragmentadas e no Pantanal, onde as florestas estão invadindo as pastagens, estavam mastigando árvores, cipós e até mesmo cactos que estavam disponíveis para elas, em vez de procurar grama seletivamente, descobriu a equipe. Algumas capivaras comiam os dois.
“Acho que o comportamento alimentar mais impressionante dessa espécie é que eles podem fazer a transição entre alimentos preferidos e não preferidos para que possam sobreviver em praticamente qualquer habitat”, disse Magioli.
Embora a dieta flexível possa significar que as capivaras sobreviveram a grandes mudanças no ecossistema, nem tudo são boas notícias. As capivaras que se alimentam de plantações podem engordar muito e sofrer de problemas de saúde, além de serem vistas como pragas pelos agricultores por comer ou danificar as plantações. O conforto em torno da infraestrutura significa mais atropelamentos, e os carrapatos que os roedores carregam podem transmitir a mortal febre maculosa brasileira aos humanos.
Reconectar paisagens fragmentadas pode permitir que predadores naturais controlem as populações de capivaras, diminuam o contato com os humanos e restaurem o equilíbrio ecológico, disse Magioli.